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Pai de Henry chora com soltura de Monique: 'Tão culpada quanto Jairinho'

Leniel Borel, pai do menino Henry; mãe e padrasto são acusados  - Bruna Prado/UOL
Leniel Borel, pai do menino Henry; mãe e padrasto são acusados Imagem: Bruna Prado/UOL

Lola Ferrreira

Do UOL, no Rio

05/04/2022 17h49

O engenheiro Leniel Borel, pai de Henry Borel, lamentou hoje a decisão da Justiça do Rio de Janeiro de soltar Monique Medeiros, mãe da criança. Monique é ré, junto com o ex-vereador Jairo Santos Souza, o Dr. Jairinho, no processo que apura a morte de Henry, de 4 anos, em março de 2021.

Para Leniel, Monique é "tão culpada quanto Jairinho" e, por esse motivo, ele diz que não esperava que a ex-esposa ganhasse a liberdade a essa altura do processo. A expectativa é de que o caso vá a júri popular.

Monique e o ex-vereador estão presos desde 8 de abril do ano passado. Ao avaliar a soltura, Leniel não conteve o choro. Ele lamenta que "a luta de um ano por justiça" seja marcada pela decisão da juíza Elizabeth Louro, da 2ª Vara Criminal do Rio de Janeiro.

Leniel também manifestou preocupação com a segurança de Monique. "Quem vai se responsabilizar pelas mãos sujas de sangue se ela morrer e eu não souber o que aconteceu com meu filho?", questiona ele.

Em sua decisão, a juíza cita o "furor público" contra Jairinho e Monique, principalmente contra ela, por ser mãe de Henry, "embora nenhum ato material tenha sido a ela imputado". Apesar de não citar questões relativas à segurança de Monique após a soltura, Elizabeth diz que não é "coerente nem proporcional" tal reação contra a mãe de Henry.

Leniel, que conta com um corpo de advogados na assistência de acusação, afirma que vai recorrer da soltura. "Se ela morrer, quem vai me contar o que aconteceu com meu filho? Ela já falou por horas [em interrogatório] e não contou. Eu preciso saber o que aconteceu naquela noite", afirma.

Monique deixou o presídio de Bangu após quase um ano para cumprir prisão domiciliar e tem cinco dias para ir à Coordenação de Monitoramento Eletrônico para instalação da tornozeleira eletrônica, informou a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária).

Juíza cita ameaças na cadeia para justificar decisão

Na decisão que ordena a soltura, Elizabeth Louro citou ameaças que a mãe de Henry relatou estar sofrendo na cadeia. Elizabeth exigiu que Monique só fale com familiares ou advogados e não faça publicações em redes sociais.

"O ambiente carcerário, no que concerne à acusada Monique, não favorece a garantia da ordem pública", afirma a juíza.

Para ela, a soltura de Monique não ameaça o curso de processo: "Não vislumbro, razoavelmente, a possibilidade de a requerente exercer qualquer tipo de influência sobre qualquer das testemunhas supostamente antes coagidas", diz a decisão.

Em seu primeiro depoimento à Justiça, no dia 9 de fevereiro, Monique Medeiros relatou agressões e ameaças diárias no Complexo de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio.

"Cerca de 20 detentas me ameaçaram recentemente durante o banho de sol. Uma delas, divide cela comigo e me ameaça todos os dias", contou ela à juíza Elizabeth Louro.

Na ocasião, Monique disse à 2ª Vara Criminal do Rio que não se sentia segura na prisão e temia pela própria vida. "Sou ameaçada todos os dias. Elas dizem que eu sou matadora de crianças, que vão dar canetada no meu ouvido, que vão jogar água fervendo em mim e que vão jogar uma coberta na minha cabeça para me dar porrada", falou a ré.

Defesa de Jairinho vê 'vitória'

Em nota enviada à imprensa, os advogados Cláudio Dalledone e Flávia Fróes, que defendem Jairinho, afirmam que a soltura de Monique é "uma vitória".

'A defesa de Jairinho sempre sustentou a inocência de ambos e a falta de materialidade que pudesse implicar os dois na trágica morte do menino Henry Borel", diz o texto.

Os advogados também avaliam que a "decisão é praticamente uma impronúncia de Monique", citando trecho em que a juíza afirma que não há indicação nos autos do processo que Monique "tenha visto sequer qualquer dos atos violentos".

A decisão da magistrada, contudo, destaca que "não se quer dizer que a ela não se apliquem as mesmas penas dirigidas ao executor, caso ao final venha a ser condenada".

Em relação ao pedido de soltura de Jairinho, a defesa " entende que os mesmos argumentos utilizados pela juíza para determinar a soltura de Monique servem, igualmente, para Jairinho".

Relembre o caso

Os laudos periciais apontam 23 lesões no corpo do menino e que Henry morreu em decorrência de hemorragia interna e laceração no fígado causada por ação contundente.

O casal foi preso em 8 de abril de 2021. Em 6 de maio, o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) denunciou Jairinho por homicídio triplamente qualificado, tortura e coação de testemunha. Já Monique foi denunciada pelos crimes de homicídio triplamente qualificado na forma omissiva, tortura omissiva, falsidade ideológica e coação de testemunha.

"O crime de homicídio foi cometido por motivo torpe, eis que o denunciado decidiu ceifar a vida da vítima em virtude de acreditar que a criança atrapalhava a relação dele com a mãe de Henry", afirmou o promotor de Justiça Marcos Kac, no texto da denúncia.

No dia 10 de fevereiro, Monique e Jairinho foram foram à 2ª Vara Criminal do Rio de Janeiro para serem interrogados. Monique falou por mais de 10 horas, mas o ex-vereador negou-se a dar sua versão sobre os fatos.

Ele justificou seu silêncio em menos de 10 minutos, e afirmou: "Juro por Deus que não encostei a mão em um fio de cabelo do Henry".

Um novo interrogatório de Jairinho, marcado para 16 de março, foi adiado e não há data definida.