Justiça decreta prisão preventiva de três suspeitos de matar Dom e Bruno
A Justiça Federal do Amazonas decretou a prisão preventiva de três suspeitos de participação no assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo. Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", Oseney da Costa Oliveira, o "Dos Santos", e Jefferson da Silva Lima, o "Pelado da Dinha", seguem presos na delegacia de Atalaia do Norte (AM).
Ontem (8), a Polícia Federal prendeu o peruano Rubens Villar Coelho, o "Colômbia", que, segundo as investigações, é o principal suspeito de ser o mandante do crime. Ele também teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. Colômbia foi detido em flagrante por agentes da delegacia de Tabatinga (AM) usando documentos falsos.
A suspeita dos investigadores é que Colômbia mandava comprar pescado ilegal e exportava o produto para lavar dinheiro do tráfico de drogas produzidas no Peru e na Colômbia. O peruano nega participação no duplo homicídio.
Em nota, a PF diz que todos os presos deverão ser "oportunamente transferidos" para Manaus. Não foi informado quando será realizada a transferência.
A prisão preventiva foi decretada pela Justiça Federal após a investigação deixar a Justiça Estadual.
Na quinta (7), a juíza Jacinta Silva dos Santos, da comarca de Atalaia do Norte, atendeu a um pedido do Ministério Público do Amazonas. A Promotoria considerou que o duplo homicídio de Bruno e Dom está diretamente ligado a questões indígenas, cuja análise é de competência federal.
O que diz a investigação?
Até a prisão de Colômbia, a investigação da PF havia chegado a três suspeitos. Um deles, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, confessou a autoria no duplo homicídio, de acordo com a polícia.
O pescador foi preso em flagrante em 7 de junho, por porte de munição de uso restrito. Segundo a investigação, ele confessou, voluntariamente, a autoria do duplo homicídio, e contou com detalhes a dinâmica do crime.
De acordo com o delegado Eduardo Alexandre Fontes, superintendente regional da PF no Amazonas, Dom e Bruno teriam sido perseguidos por criminosos em uma lancha, que chegaram a realizar "disparo de arma de fogo" contra a dupla.
A PF afirmou que a morte de Dom foi causada por "traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, ocasionando lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica".
Bruno teria morrido também após "traumatismo toracoabdominal" e ainda craniano, causado por disparos de arma de fogo com "munição típica de caça". O indigenista teria levado dois tiros no tórax e um no rosto ou crânio.
Quem são os suspeitos?
A polícia diz que o pescador Amarildo confessou a autoria no crime. Seu irmão, Oseney de Oliveira, conhecido como Do Santos, também preso, negou qualquer envolvimento no duplo homicídio.
Segundo reportagem publicada pelo UOL, Amarildo afirmou à PF que esquartejou e enterrou os corpos do jornalista britânico e do indigenista. No seu depoimento, o pescador também disse ter contado com a ajuda de outras pessoas.
Foi Amarildo quem levou a PF até os corpos —que estavam a mais de três quilômetros da área do crime.
O terceiro suspeito, Jefferson da Silva Lima, conhecido como Pelado da Dinha, se entregou para as autoridades após saber pela sua família que a polícia o procurava. Ele é apontado como alguém que participou diretamente do duplo homicídio e ajudou na ocultação dos corpos.
Quem são o indigenista e o jornalista?
Servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio), Bruno era conhecido como defensor dos povos indígenas e atuante na fiscalização de invasores, como garimpeiros, pescadores e madeireiros. Em entrevista ao UOL, o líder indígena Manoel Chorimpa afirmou que o indigenista estava preocupado com as ameaças de morte que vinha sofrendo.
Dom era correspondente do jornal The Guardian. Britânico, ele veio para o Brasil em 2007 e viajava frequentemente para a Amazônia para relatar a crise ambiental e suas consequências para as comunidades indígenas e suas terras.
O jornalista conheceu Bruno em 2018, durante uma uma reportagem para o Guardian. A dupla fazia parte de uma expedição de 17 dias pela Terra Indígena Vale do Javari, uma das maiores concentrações de indígenas isolados do mundo. O interesse em comum aproximou a dupla.
Segunda maior terra indígena
A região do Vale do Javari é a segunda maior terra indígena no Brasil. Palco de episódios de violência, a área está localizada na fronteira com o Peru e a Colômbia e abriga mais de 6 mil indígenas de 26 grupos diferentes.
Em setembro de 2017, por exemplo, o Ministério Público Federal do Amazonas confirmou o assassinato de ao menos 20 indígenas de uma aldeia isolada do Vale do Javari por garimpeiros ilegais do município de São Paulo de Olivença.
Em abril deste ano, a Unijava (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) e o Centro de Trabalho Indígena (CTI) receberam denúncias de uma invasão de garimpeiros à comunidade de Jarinal, também na Terra Indígena. Eles participaram de uma festa em que indígenas foram abusadas sexualmente e, segundo o CTI, os indígenas foram forçados a beber gasolina com água e álcool etílico com suco.
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