'Outro luto', diz esposa após descobrir que ambientalista foi assassinado
A confirmação da Polícia Civil de que o ambientalista Adolfo Souza Duarte, o Ferruge, foi assassinado por asfixia mecânica causou uma reviravolta no caso e na vida da família. Na noite de 1º de agosto, ele foi morto enquanto levava dois casais para um passeio na represa Billings, na zona sul de São Paulo.
Em entrevista ao UOL Notícias, a manicure Uiara Sousa Duarte, 39, que até então considerava a hipótese de morte acidental, diz agora estar vivendo um "outro luto" com a mudança de rumo na investigação do caso.
Volta à estaca zero. O laudo do IML (Instituto Médico Legal) fez com que a Polícia Civil passasse a investigar o caso como homicídio. E, para Uiara, representou o que ela define como uma "volta à estaca zero".
"Eu ainda tinha esperança de que tivesse sido só um acidente. Agora, é um outro luto. É como se eu voltasse à estaca zero, porque tenho que reviver tudo novamente. É como viver duas vezes a morte do meu marido", disse.
Revolta e indignação. O novo rumo da investigação traz também um sentimento de revolta. "Com a informação de que a morte dele foi provocada por outras pessoas, também veio a indignação e ainda mais tristeza. O meu marido não merecia ter passado por isso", disse a esposa.
Uiara ainda tem dificuldade para assimilar a atitude dos envolvidos no assassinato.
É revoltante saber que decidem tirar a vida de outra pessoa por um sentimento fútil. A gente não sabe o que motivou o crime, mas nada justifica esse tipo de ação
Casal enfrentou a morte de um filho. Adolfo e Uiara começaram a namorar há 20 anos, quando ainda estavam no ensino médio, e constituíram família.
Há dez anos, enfrentaram juntos a dor de enterrar o próprio filho. Miguel, que tinha 9 anos na época, morreu em decorrência de um câncer. Em meio ao luto, Adolfo intensificou os trabalhos sociais e ambientais na região do Grajaú, zona sul da capital paulista.
"A gente termina uma história de 20 anos de forma muito trágica", diz Uiara, que agora irá criar sozinha a filha de 15 anos do casal. "Ele sempre foi muito sonhador. Tinha muitas metas e sonhos, mas nada era só para ele. Ele sempre olhava para o vizinho do lado. Era um pai incrível, um bom homem e um bom marido".
A vida se encarrega de ficar dando umas rasteiras na gente. A morte do nosso filho foi algo muito forte. Então, parece que existe um lugar de perda dentro de mim que já é meio conhecido. Espero que eu consiga um dia me recuperar da morte do Adolfo
As últimas mensagens trocadas com o marido. Uiara diz ter recebido mensagem pelo WhatsApp do marido pela última vez às 19h41 de 1º de agosto. Foi uma conversa trivial sobre o processo de mudança escolar da filha do casal. Segundo a Polícia Civil, Adolfo já estava com os dois casais na embarcação nesse momento.
"Situação atípica". Adolfo usava uma nova embarcação com capacidade para até 20 pessoas havia apenas dois meses. Segundo a esposa, ele não costumava receber passageiros à noite, mas acabou abrindo uma exceção devido a um cancelamento. O dinheiro, ainda de acordo com Uiara, era revertido para a ONG Meninos da Billings, administrada por Adolfo.
"Foi uma situação bem atípica. Os passageiros estavam em um espaço onde há barzinhos à beira da represa. É um ponto de captação de cliente para passeios náuticos", explicou.
Como ela soube da morte do marido? Uiara diz ter recebido uma ligação da sogra com a informação da morte do marido no dia do crime.
Como foi o contato com os suspeitos? Ao chegar no local do crime, a esposa do ambientalista diz ter visto os quatro suspeitos sentados em um gramado, cercados pelos moradores da comunidade. "Eles não falavam nada com nada. Falavam só que o barqueiro tinha caído".
Segundo ela, que acompanha a investigação da Polícia Civil com o auxílio de uma advogada, os suspeitos estavam alcoolizados. "E aparentemente, estavam usando maconha. No barco, tinha uísque e energético".
"Ele teria preparo para nadar e chegar até a margem", disse Uiara, questionada sobre a hipótese de um eventual afogamento, até então a versão apresentada da morte.
"O Adolfo era experiente. Era um cara que sabia nadar, que sabia boiar, que tinha passado por treinamento dentro e fora da água".
O que diz a defesa dos suspeitos? À Folha de S. Paulo, o advogado André Nino questionou a prisão dos suspeitos. "Não tem base para a prisão. Eles estão cooperando", disse. A reportagem do UOL não conseguiu localizá-lo para que ele apresentasse de forma detalhada qual a versão do caso apresentada pela defesa dos suspeitos.
Ele disse, ainda, que os investigados mantêm a mesma versão inicial de que o ambientalista teria morrido ao cair na represa —embora o laudo do IML descarte essa hipótese. "Nós temos fortes indícios de que as pessoas mentiram, porque não houve afogamento", declarou a delegada Jakelline Barros, encarregada pela investigação.
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