'Bagunça': Pergunta sobre abuso sexual gera bate-boca em júri de Flordelis
Uma pergunta sobre supostos abusos sexuais cometidos pelo pastor Anderson do Carmo contra suas filhas, feita hoje —quarto dia de julgamento— pela defesa da ex-deputada Flordelis, culminou em bate-boca envolvendo a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, a promotora Mariah Paixão e a advogada Janira Rocha, que representa a pastora acusada de planejar a morte do marido.
A discussão ocorreu durante o primeiro depoimento convocado pela defesa, de Tayane Dias, cantora gospel, que é filha afetiva da ex-parlamentar. A tese de que Anderson abusava dos filhos vem sendo abordada pelos advogados de Flordelis.
Janira perguntou inicialmente se Tayane sabia de algum abuso do pastor. Ela respondeu que viu Anderson dar "tapas na bunda e abraçar por trás" Rayane dos Santos, neta biológica de Flordelis e também acusada de envolvimento no crime, mas que à época "não via maldade".
"Hoje, vejo [maldade] porque sei dos abusos que ele cometeu", disse a testemunha.
A advogada então quis saber mais sobre os abusos. Tayane relutou e perguntou para Janira se poderia responder já que envolveria relato de uma terceira pessoa. A juíza Nearis Arce se irritou: "Quem está presidindo o júri sou eu, Então, a senhora respeite", disse a juíza à testemunha.
A promotora Mariah Paixão também interveio. "Isso é uma conversa de comadres!", disse ela, ao que Janira rebateu. "Conversa de comadres não! Você me respeite!".
Até um homem que estava na plateia se pronunciou e foi repreendido pela juíza. "Isso virou bagunça!", disse ele.
Em seguida, Tayane falou que, após a morte de Anderson, Rafaela dos Santos Oliveira, neta de Flordelis, relatou a ela ter sido abusada. "A Rafaela me disse que teve um dia em que ela estava dormindo, o Anderson entrou no quarto e introduziu o dedo nela."
O advogado Ângelo Máximo, assistente de acusação em nome da família de Anderson, nega que Anderson tivesse esse tipo de conduta.
Após o fim do depoimento, o advogado Rodrigo Faucz, também da defesa de Flordelis, reclamou da conduta da magistrada, alegando que ela interrompeu muito mais as falas da única testemunha de defesa até aqui do que fez em relação à acusação.
"Queremos paridade. Testemunhas de acusação falaram sobre impressões pessoais livremente. Queremos demonstrar a nossa indignação."
Nearis Arce respondeu: "Todos estão sendo tratados da mesma forma. As sessões estão sendo gravadas e isso vai ficar bem claro".
Nesta quinta, foram ouvidas três testemunhas que encerraram os depoimentos da acusação. Ao todo está prevista a oitiva de 14 testemunhas convocadas pela defesa. Ainda não há previsão para o término do julgamento.
O que está em julgamento. Começou na segunda (7) o julgamento de Flordelis pela acusação de ter arquitetado o assassinato de seu marido, Anderson do Carmo, morto em 16 de junho de 2019, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Outras quatro pessoas acusadas de envolvimento no crime também são julgadas. Ela terá seu destino decidido por um júri popular. Além de Flordelis, são julgados sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues; a neta Rayane dos Santos Oliveira; e os filhos afetivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva.
O pastor Anderson do Carmo foi assassinado com dezenas de tiros quando descia do carro, no quintal de casa, no bairro de Pendotiba, em Niterói.
A ex-deputada —cassada em razão do envolvimento no caso— é ré por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica.
Já Marzy, Simone e André Luiz responderão por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada; e Rayane, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.
O que diz Flordelis. Durante todo o processo, Flordelis negou ter qualquer ligação com a morte do marido. Em live realizada por ela horas antes de ser presa, a pastora e ex-deputada reafirmou sua inocência.
"Caso eu saia daqui hoje, saio de cabeça erguida porque sei que sou inocente. Todos saberão que sou inocente, a minha inocência será provada e vou continuar lutando para garantir a minha liberdade, a liberdade dos meus filhos e da minha família, que está sendo injustiçada."
Em entrevista à imprensa nesta semana, Janira Rocha, advogada de Flordelis, expôs a linha de que Simone Rodrigues foi a única responsável por tramar a morte de Anderson em resposta a supostos abusos cometidos contra ela e suas filhas, netas da ex-deputada.
"Ela sofreu anos isso [abusos] e, quando chegou nas filhas, ela não aguentou. Uma coisa é que ela suportou os abusos porque tinha câncer, dependia do dinheiro para poder fazer seu tratamento de câncer, tinha quatro filhos e não tinha uma alternativa de sair de casa. Mas, quando o abuso chegou nas suas filhas, aí o copo entornou", diz a defensora da ex-deputada.
Os demais acusados dizem que são inocentes.
O que já aconteceu no julgamento:
- 'Pastor não deixava que a gente andasse de biquíni', diz filha de Flordelis
- Testemunha diz que pastor tinha relação sexual com filhas de Flordelis
- Filha de Flordelis diz ter flagrado irmã pondo substância em suco de pastor
- Flordelis: "Se não fosse o pastor, a casa virava uma pornografia", diz nora
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