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O que se sabe até agora sobre o ataque a tiros em escola no ES

Do UOL, em São Paulo

25/11/2022 20h21

Um adolescente de 16 anos é o suspeito de ser o autor dos disparos que deixaram ao menos três mortos e 11 pessoas feridas em duas unidades de ensino em Aracruz (ES), a 81 quilômetros de Vitória.

  • O primeiro ataque foi na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti, onde duas professoras foram mortas.
  • A segunda escola atacada foi o Centro Educacional Praia do Coqueiral e uma criança de 12 anos, aluna do 6º ano fundamental, foi morta no local.

Segundo a Polícia Civil, o adolescente o suspeito é filho de um tenente da Polícia Militar e se entregou no momento da detenção. Foi apreendido em casa. O delegado detalhou ainda que o adolescente portava duas armas de fogo, um revólver calibre 38 e uma pistola .40, que pertencia ao pai.

O adolescente, de acordo com a polícia, planejou o crime por dois anos. O infrator estudou, até meses atrás, na Escola Estadual Primo Bitti, e profissionais afirmaram à polícia que vinham recebendo ameaças de vida que anunciavam "vingança". Ainda segundo a polícia, o adolescente foi retirado da unidade de ensino no primeiro semestre deste ano por "não se adaptar à rotina da escola".

As polícias Civil e Militar acreditam que ele seria o autor das ameaças contra uma diretora e um professor da instituição, com base em relatos de estudantes sobre o que teriam ouvido o ex-aluno compartilhar. A motivação das ameaças ainda não foi esclarecida.

Como foi o atentado? Imagens feitas por câmeras de segurança registraram a ação do atirador no Centro Educacional Praia do Coqueiral, a segunda invadida, na manhã de hoje. Os vídeos mostram a entrada do suspeito —ele usa um macacão e um chapéu camuflados, uma máscara com sorriso de caveira e um cinto preto em volta da cintura, aparentemente preparado para guardar munições.

Levando uma arma nas mãos, o infrator atravessou o portão do colégio, após arrebentar um cadeado, e correu em direção à porta de acesso ao prédio onde ficam as salas de aula. Ele então começa uma "caçada" pelos corredores da escola, correndo por diversas áreas do edifício e esticando a arma com frequência, ficando em posição para atirar.

Um dos trechos mostra dois alunos e uma funcionária caminhando por um corredor quando, de repente, ouvem a ação do atirador. Eles então começam a correr e se separam em busca de refúgio, sendo seguidos. Uma outra câmera capturou um aluno correndo para dentro de uma sala de aula vazia, com a mão na barriga. Logo em seguida, o garoto cai no chão, ensanguentado na região do abdômen. Toda a ação no colégio durou pouco menos de dois minutos.

De acordo com o capitão da PM Sérgio Alexandre, o atirador estava munido de uma pistola e carregadores quando invadiu a primeira unidade de ensino. Ele teria ido diretamente à sala dos professores, onde teria ameaçado profissionais no local e deu início aos disparos. Em seguida, foi até a segunda escola, localizada na mesma avenida.

A apreensão. De acordo com informações de testemunhas à polícia, após o crime, o adolescente se escondeu na casa dos pais e confessou o atentado. O pai dele chamou a polícia e informou onde o filho estava, logo após conferir os vídeos da ação, em que o adolescente aparece utilizando a arma do oficial. O veículo utilizado na ação estava estacionado na garagem da família e também foi rastreado pela polícia.

O adolescente foi encaminhado à 13ª Delegacia Regional de Aracruz e, na chegada ao local, dezenas de pessoas cercaram a viatura e houve princípio de tumulto. Revoltados, moradores queriam agredir o suspeito e gritavam contra o suspeito. A PM precisou reforçar a segurança no local.

Quem eram as professoras mortas no primeiro ataque? Professora de matemática, Cybelle Passos Bezerra Lara, 45, desenvolveu uma dissertação de mestrado para mostrar os benefícios na aprendizagem da disciplina com o uso de números inteiros. Evangélica e casada há 19 anos, Maria da Penha de Melo Banhos, 48, lecionava artes e deixou três filhos. Essas foram as vítimas fatais do atirador na primeira escola.

Cybelle era efetiva na escola desde 2018 e era mestra em matemática pela Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) desde 2021. A tese da docente mostrava como a defasagem matemática dos alunos motivou a busca de uma metodologia de ensino que aumentasse a eficiência do aprendizado. Em 2019, segundo uma notícia do site da secretaria de educação, Cybelle organizou uma mostra de matemática com jogos e experimentos da Ufes.

Maria da Penha era formada em pedagogia e dava aulas na escola desde março de 2022. Professora há 12 anos, a docente de arte tinha foco em atuação na Educação Infantil e Séries iniciais. Evangélica da Igreja Assembleia, era casada há 19 anos e mãe de três filhos, de 16, 9 e 5 anos. Nas redes sociais, Maria da Penha publicava fotos com os filhos e o marido, além de registros na igreja.

Um professor de 37 anos, que pediu para não ser identificado, disse ao UOL Notícias que entrou em confronto com o ex-aluno da instituição e teria conseguido impedir que ele recarregasse a arma de fogo usada na ação. Ele estava presente na sala dos docentes.

"Assim que vi ele entrando armado e atirando, tentei me abrigar e achei uma barra de ferro", contou o profissional de ensino. Na primeira investida durante o crime, seis pessoas foram baleadas. "Quando percebi que ele estava recarregando a pistola, bati na mão dele para tentar evitar que ele recarregasse e ele fugiu".

Lula repudia ataque, governador decreta luto de três dias. No Twitter, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse ter tomado conhecimento do caso "com tristeza". "Minha solidariedade aos familiares das vítimas dessa tragédia absurda", escreveu, e prestou apoio ao governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), "na apuração do caso e amparo para as comunidades das duas escolas atingidas".

Casagrande classificou a ação de "covarde" e decretou luto oficial de três dias. "Nossas equipes de segurança alcançaram o autor do atentado que, covardemente, atacou duas escolas em Aracruz pela manhã. Decretei luto oficial de três dias em sinal de pesar pelas perdas irreparáveis. Continuaremos apurando as motivações e, em breve, teremos novos esclarecimentos", disse.