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Alunos de medicina da USP sabiam que dinheiro foi para Alicia, diz empresa

Alicia Dudy Müller Veiga, 25 anos - USP/Divulgação
Alicia Dudy Müller Veiga, 25 anos Imagem: USP/Divulgação

Do UOL, em São Paulo

23/01/2023 13h09

A comissão de formatura dos alunos de medicina da USP sabia que o dinheiro arrecadado para a realização da festa foi transferido para a conta de sua presidente, a aluna Alicia Müller, 25, que confessou ter perdido R$ 937 mil. A afirmação foi feita ao UOL pela Ás Eventos.

A comissão de formatura, porém, nega essa informação.

A empresa declara ter sido contratada pelos 20 alunos da comissão para arrecadar o dinheiro e fotografar o evento, marcado para janeiro do ano que vem. Portanto, não havia no contrato um acordo para organizar a festa, segundo a Ás Eventos —que diz atuar no mercado há 19 anos, com "mais de 700 bailes de formatura" realizados para 100 mil alunos.

A comissão deveria ter criado uma associação para representá-la, além de abrir uma conta bancária para pessoa jurídica. Entretanto, essa associação "jamais foi criada", diz a Ás, apesar do contrato "ter sido assinado em agosto de 2019".

Como a associação e a conta não saíram do papel, "a conta bancária indicada foi a da Presidente da Comissão, Alicia Dudy Müller Veiga". As transferências foram comunicadas aos estudantes, relata a empresa.

Todas as transferências para a presidente da comissão foram comunicadas à Comissão de Formatura por meio de relatório gerencial e mensagens enviadas via e-mails e grupo de WhatsApp reunindo a comissão e a Ás."
Ás Eventos, em nota

Segundo a delegada Zuleika Gonzalez Araújo, "a empresa afirma que repassou essas retiradas [saques] para um grupo de WhatsApp, só que não houve resposta dos demais alunos. Ninguém se manifestou."

alicia Müller deixa a delegacia - Wanderley Preite Sobrinho/UOL - Wanderley Preite Sobrinho/UOL
Alicia Müller deixa a delegacia em uma viatura após depoimento
Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

O que diz a comissão?

Membros da comissão disseram ao UOL que "a investigada [Alicia] alterou as senhas" do e-mail "e colocou as informações de recuperação em seu número de celular".

Ainda segundo os alunos de medicina, o relatório foi enviado "apenas após a retirada de R$ 750 mil da conta", por solicitação de Alicia, "e no meio de uma intensa discussão" entre a presidente da comissão e a empresa.

O sistema disponibilizado pela empresa não apresenta, até o momento, nenhuma retirada e mostra todo valor como disponível."
Comissão de formatura da Medicina/USP

Sobre os avisos de transferências no grupo de WhatsApp, a comissão diz que Alicia "logo desconversou e começou a falar de outros assuntos, de maneira que ninguém (nem a própria investigada) deu aval para nenhuma transferência via WhatsApp".

"E também não ficou claro do que se tratava, pois na mesma época havíamos solicitado parte do dinheiro de cachê fotográfico para a realização de um evento", continua. "A acusada aproveitava momentos como esse para fazer a solicitação de saque."

A delegada Zuleika afirmou que, "por enquanto não tem nada que possa comprovar qualquer ato errado da empresa".

Após o envio da informação ao UOL pela Ás, na quinta (19), a empresa trocou de assessoria e enviou nota conjunta com a comissão, dizendo que as partes buscam "entendimento comum quanto aos próximos passos, ainda que tenham divergências quanto à interpretação contratual".

Contrato falho

Por segurança, contratos assim devem exigir mais de uma assinatura para movimentações financeiras, de acordo com a advogada especializada no tema Lucy Padula.

A criação de regras envolvendo a utilização dos recursos financeiros pode evitar o desvio de valores e exigir a votação de outros integrantes da comissão para a tomada de decisões importantes."
Lucy Padula, advogada

Alicia realizou nove transferências para três contas pessoais, diz a polícia. Os maiores valores foram:

  • Novembro de 2021: R$ 604 mil;
  • Junho de 2022: R$ 144 mil;
  • Agosto 2022: R$ 60 mil;
  • Novembro de 2022: R$ 27 mil.

Alicia passou a usar as quantias em proveito próprio, "tendo uma vida incompatível com a renda que tinha", segundo a delegada do caso:

  • Comprou um iPad Pro de R$ 6 mil.
  • Alugou por cinco meses um apartamento por R$ 3.700 (com condomínio).
  • Alugou carro por R$ 2 mil.