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Ginecologista vira ré após falas racistas em consulta com jovem negra

A ginecologista Helena Malzac virou ré na justiça após dizer frases racistas a uma paciente negra no RJ - Reprodução/TV Globo
A ginecologista Helena Malzac virou ré na justiça após dizer frases racistas a uma paciente negra no RJ Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

11/06/2023 23h47Atualizada em 13/06/2023 14h33

A ginecologista Helena Malzac virou ré na Justiça após falas racistas a uma paciente negra, como a de que "mulheres pretas têm mais probabilidade de ter o cheiro mais forte nas partes íntimas". As informações são do Fantástico (TV Globo).

O que aconteceu

O caso ocorreu quando Luana Génot, madrinha da vítima, levou a afilhada de 19 anos para uma consulta com Helena para colocar um DIU, no ano passado. A mulher conhece a médica há 10 anos.

A ginecologista disse: "Muito forte, aqui, ó. Quando você sua, o cheiro piora. É a mesma coisa do sovaco. É o mesmo cheiro, é um cheiro forte, mas é por causa da cor e do pelo. Você vai ser a vida inteira assim, então, você tem que se preocupar com isso, tá?". Os áudios da consulta foram gravados por Luana e reproduzidos pelo Fantástico.

A madrinha da vítima questiona se a médica estava afirmando que esse odor só ocorria com pessoas negras, e a profissional da saúde responde: "É, é muito comum. Não é 90%, mas a gente coloca uns 70%". E complementa que essa questão teria relação também com a melanina (pigmento que dá cor a pele, aos pelos e olhos). Na pele negra, a quantidade de melanina é maior.

Madrinha e sobrinha fizeram um boletim de ocorrência.

O MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) denunciou a ginecologista por racismo, por se referir à jovem e ao conjunto de mulheres negras.

[A médica disse que] mulheres pretas têm mais probabilidade de ter o cheiro mais forte nas partes íntimas. De início eu me senti vulnerável e no meu canto. (...) Tenho receio de me consultar com outras ginecologistas porque tem essa possibilidade de ocorrer novamente. Então, esse medo permanece em mim."
Vítima, que preferiu não se identificar, em entrevista ao Fantástico

Defesa de médica disse que ela 'é filha e neta de negros'

A médica confirmou a fala na primeira audiência com o juiz no fim do mês passado.

Eu disse o seguinte, que as pessoas de cor, eles têm um cheio mais forte. Pela minha experiência de 44 anos como ginecologista atendendo mulheres, a negra tem um cheiro mais forte. E aí ela perguntou: 'Mas por que esse cheiro?' Eu falei, de repente pode ser por causa da melanina, mas a gente vê que a maior parte das pessoas negras tem um odor muito forte, tanto que essas firmas de desodorante, o desodorante para negro é diferente."
Áudio da audiência divulgado pelo Fantástico

A ginecologista também afirmou que pesquisou sobre o assunto: "Eu falei que a melanina também seria responsável por isso, eu aprendi isso na faculdade. E eu agora com o processo, fiz a pesquisa e achei que realmente isso ocorre".

Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que a fala da ginecologista não faz sentido e a afirmação não tem base científica. "Odor vaginal é uma questão da mulher. Do ponto de vista científico eu desconheço essa relação", disse Agnaldo Lopes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.

Em defesa prévia, em janeiro, os advogados da médica disseram que "em nenhum momento, durante o procedimento médico, ocorreu a vontade de discriminar a suposta vítima". "O objetivo do comentário da ré foi estrito e visando exclusivamente tratar o mau cheiro com forte odor na região das virilhas. Sugeriu depilar os pelos pubianos, o que nada tem a ver com discriminação."

A genitora dela [da médica] é filha de norte-americano negro casado com sua avó, de nacionalidade portuguesa, que era ariana com olhos na cor azul". (...) Porquanto a ré é filha e neta de negros e, inclusive, por tal razão pode ser considerada da raça negra."
Defesa prévia da ginecologista, em janeiro

Procurada pela Globo, a ginecologista não se pronunciou.