Mulher diz que PM matou vendedor no Guarujá: 'Ele saiu para ir ao mercado'

Moradores do bairro de Morrinhos, no Guarujá (SP), relatam que o comerciante Filipe do Nascimento, 22, morreu na noite de anteontem ao sair de casa para fazer compras em um supermercado da região. A mulher dele, que preferiu não se identificar, disse que os moradores estão amedrontados com a operação Escudo.

Após a morte a tiros do soldado da Rota (a força de elite da PM paulista) Patrick Bastos Reis, ao menos14 pessoas foram mortas na Baixada Santista durante ação policial.

O que diz a viúva de Filipe

Ele saiu por volta das 20h para fazer compras e não voltou. Na noite da segunda-feira, o jovem foi a um supermercado próximo de casa. Segundo familiares do comerciante, minutos após ele ter saído foi possível ouvir o barulho dos tiros no loteamento Morrinhos 4, que faz parte bairro. "Ele saiu com meu cartão e algum dinheiro no bolso para fazer compras."

A mulher relata que, ao ouvir os disparos, saiu de casa com os filhos, de 2 e 7 anos. Segundo ela, um policial a abordou e jogou a sua bicicleta no mangue.

Eu moro em uma casa de madeira. Na hora do tiroteio, não sabia se eu deitava ou se eu saia para correr com as crianças no colo.

O policial me empurrou, jogou minha bicicleta no mangue e disse: 'Pra dentro, pra dentro [de casa]. Está tendo uma operação policial'.
Mulher de Filipe do Nascimento, comerciante morto no Guarujá

A mulher afirma que viu dois corpos perto de sua casa e perguntou aos PMs se Filipe estava entre os mortos. Conta que chegou a mostrar fotos do marido para os policiais, que teriam respondido que não era ele.

Na delegacia, mostrou a foto novamente e foi orientada a comparecer ao IML da Praia Grande. "Não tem como meu marido ter saído às 20h, e até as 2h não ter dado notícias", relatou. O reconhecimento do corpo foi feito por meio das digitais na manhã de ontem.

Amigos de Filipe do Nascimento disseram ao UOL que ele trabalhava em quiosques de praia havia três anos. "Trabalhava há quase três anos na praia. Toda temporada ele trabalhava comigo, acabamos fazendo uma amizade por ficarmos o dia todo trabalhando juntos", diz o dono do estabelecimento.

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Mais vítimas em Morrinhos 4. Moradores relataram que viram policiais obrigando que outros moradores entrassem em casas vazias da região para atirar.

Outro lado: procurada pelo UOL, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) disse que não comentaria o caso específico.

Ambulante foi torturado, dizem vizinhos

O vendedor ambulante Felipe Vieira Nunes, 30, também morreu durante a operação Escudo. Ele saiu de casa para comprar cigarro e comida, segundo um familiar que prefere não se identificar por segurança. Moradores da região relataram ao familiar de Felipe que ele foi abordado por policiais da Rota na esquina de casa na Vila Baiana, por volta das 21h da sexta (28).

Os caras pegaram ele, arrastaram ele para dentro de um barraco, foi onde aconteceu a tortura. Torturaram ele, ficaram com ele lá, a população toda escutou ele gritando, pedindo ajuda, pedindo socorro.
Familiar de Felipe Viera Nunes, morto pela Rota no Guarujá

"Os moradores escutaram a polícia gritando 'solta a arma, solta a arma'. E ele respondendo: 'eu não tenho arma, senhor'." O familiar de Felipe disse também que uma mulher tentou se aproximar, mas a polícia teria impedido que moradores prestassem qualquer tipo de ajuda.

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"Ficaram esperando ele morrer." Conforme o morador, o vendedor foi arrastado até a porta da casa em que teria ocorrido a tortura e era possível ver um "rastro de sangue" pelo caminho.

O que diz o governo de SP

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, defendeu a atuação da polícia. O político do Republicanos declarou ontem que as informações que vêm sendo divulgadas geram "essa narrativa de que há excesso [policial]".

Tarcísio disse que "a polícia não quer confronto" e pediu mais respeito às instituições policiais. Dois óbitos foram confirmados hoje, a respeito de um suposto confronto no município de Santos, onde uma viatura de polícia teria sido alvo de tiros. O número de mortos ficou sob revisão por muitas horas, até a manhã desta terça-feira (1º), pois governo e Corregedoria da PM divergiram quanto ao número inicial de óbitos.

Se houver excesso, nós iremos investigar. [...] As imagens corporais estarão anexadas nos inquéritos para que, se houver algum excesso, a gente puna [os responsáveis]. A gente não vai tolerar excesso, a gente não vai tolerar desvio de conduta.

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Tarcísio afirmou que a operação está asfixiando o tráfico. "Significa que a operação está prejudicando o business. Vamos entender que isso é um business, que movimenta muito dinheiro e que desgraça a vida de muita gente", disse. Uma policial militar de 34 anos foi baleada em Santos ontem.

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