Pinos se soltam de coluna e ameaçam perfurar jovem: 'Sofrimento intenso'

A representante comercial Paola Quartieri, 25, aguarda, internada, há cerca de 30 dias por um procedimento cirúrgico na Santa Casa de Santos, após os pinos metálicos que sustentam uma haste presa em sua coluna, resultado de um acidente ocorrido em 2017, começarem a se soltar.

Segundo a família, os médicos dizem que ela corre o risco de sofrer complicações, como rompimento de músculos e tecidos, caso os pinos não sejam corrigidos e a haste, trocada

A jovem está internada desde o dia 7 de setembro. A haste que sustenta a sua coluna, segundo o gerente comercial Fábio Dias, 40, marido de Paola, se deslocou. A partir daí, ela passou a sentir muitas dores na coluna e já não consegue mais dar conta das tarefas do dia a dia.

"Ela tinha uma vida intensa de trabalho morando no litoral de São Paulo e tendo que trabalhar na Capital. Pegando ônibus, depois metrô, depois outro ônibus até chegar ao trabalho. E ela manteve esse ritmo até pouco tempo antes de dar à luz nosso filho, em 2021", contou Dias ao UOL.

Após o parto, as dores se agravaram. Procurado, o médico que realizou a cirurgia em Paola afirmou que o caso dela era delicado, pois exames demonstraram que os pinos que prendem a haste metálica, que dá sustentação à coluna, estavam se soltando. Com isso, o risco de perfuração da estrutura muscular e até da pele se agravou.

O médico elaborou um relatório completo, recomendando a internação imediata de Paola. A representante comercial buscou uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) em Santos, para dar entrada no processo de internação. Porém, ao chegar lá, os profissionais a mandaram de volta para casa, com a explicação de que ela não apresentava um quadro grave que justificasse a internação.

"Após algumas semanas, ela teve uma complicação, com dores muito fortes, e teve de ser removida de ambulância para a UPA. Só então constataram que o caso dela era um caso cirúrgico e enviaram ela à Santa Casa, para internação", conta o marido. "Dois pinos já se soltaram e ela ficou com um calombo nas costas. Há risco de infecção também".

Sem material

No hospital, com o encaminhamento para realizar a cirurgia, os médicos marcaram a primeira data. Porém, Dias afirma que, minutos antes da operação, após Paola ter se preparado, cumprido o jejum e todos os procedimentos, o hospital adiou a operação por não possuir o material necessário para a retirada dos pinos.

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Segundo o gerente comercial, o hospital alegou que a empresa que fornecia o referido material havia encerrado suas atividades e que a administração estava buscando no mercado outro fornecedor que pudesse atender à demanda.

Trinta dias depois, porém, uma nova data foi marcada e, mais uma vez, adiada. A partir desse momento, a família decidiu se mobilizar e procurar a ouvidoria do hospital em busca de uma explicação mais detalhada e também uma definição sobre o caso.

Ela sentia muitas dores, estava fazendo uso de medicações muito fortes. O sofrimento era intenso. Num primeiro momento, a minha sensação era de impotência devido à demora do hospital e as justificativas vagas que davam para nós. Foi quando decidi procurar a ouvidoria e a assistência social do hospital.

"Além de todo o transtorno para a nossa família, a Paola está internada em uma ala destinada a pacientes com câncer. Ocupando um leito que poderia estar sendo disponibilizado a alguém com mais necessidade de internação. Além disso, por recomendação da equipe, nosso filho de um ano e três meses não está podendo visitar a mãe, devido à alta rotatividade de pacientes da ala onde ela está."

Cirurgia marcada

Dias informou que, após muitas discussões com a equipe do hospital, a cirurgia de Paola foi finalmente marcada para a tarde de hoje. Dessa vez, sem perspectiva de adiamento.

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Em nota, a Santa Casa de Santos confirmou que o procedimento será realizado na tarde de hoje, caso não haja nenhum impeditivo clínico. O hospital, porém, não respondeu aos questionamentos do UOL a respeito das razões que levaram aos adiamentos da cirurgia ou sobre os riscos que a paciente corria enquanto aguardava a operação, alegando não possuir "autorização para prestar mais informações sobre pacientes".

Procurada, a InSaúde, organização social responsável pela gestão da UPA Central de Santos, informou que Paola passou em consulta na unidade no dia 24 de abril de 2023.

"Realizou exames e, como não havia comprometimento motor e a paciente não referiu mais dor após analgesia, foi encaminhada para a policlínica de referência da moradia para posterior acompanhamento, incluindo orientação para ambulatório de neurocirurgia."

A Secretaria de Saúde informa que a paciente passou em consulta na Policlínica Marapé no dia 26 de abril com quadro de lombociatalgia. Em 16 de maio, foi avaliada por neurologista e encaminhada para o ambulatório de neurocirurgia da Santa Casa de Santos, onde esteve em consulta no dia 14 de agosto.

"No dia 7 de setembro, a paciente retornou à UPA Central, via Samu, após uma queda da própria altura, Foi solicitada então a internação na Santa Casa de Santos para averiguação e tomada das providências cabíveis quanto aos pinos."

Pino solto não é comum

Marco Aurélio S. Neves, ortopedista e traumatologista, especializado em próteses de quadril e joelho, explicou ao UOL que pinos, parafusos, placas e hastes são materiais usados para fixação de fraturas ou, como no caso de Paola, para sustentação do equilíbrio da coluna ou correção de desvios graves de escoliose.

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Nos casos de fratura, os pinos e hastes têm uma função transitória de manter o osso no lugar até ele grudar. Depois que o osso cola, o pino não tem mais finalidade. Mas no caso de Paloma, por sua localização, eles são realmente importantes para estabilizar a coluna.

"O pino funciona como um suporte a mais para manter a coluna firme. Então, quando ele se solta, a cirurgia perde sua função. Isso não é uma coisa comum, normalmente acontece em pacientes muito idosos, que apresentam uma qualidade óssea muito ruim, ou em situações de traumas, acidentes, ou em último caso, materiais de má qualidade", explica o especialista.

Esse tipo de cirurgia, afirma Neves, não é considerado uma urgência médica, pois existem muitas pessoas que ficam com os pinos mais soltos por um tempo razoável. Porém, como acontece no caso de Paloma, quando os pinos estão incomodando a pele, ele considera importante resolver prontamente. "Os riscos são como os de qualquer cirurgia ortopédica", declara o médico.

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