Ciclone de poeira invade casas no RJ: 'Respiramos pó magnético há 20 anos'

A sujeira parece ter sido acumulada durante semanas, mas quem vive em Volta Redonda, município do sul fluminense, precisa varrer quase que diariamente a poeira preta que invade a casa.

O resíduo que circula pelo ambiente é uma queixa de décadas e prejudica a saúde, segundo os moradores.

O pó preto e a nuvem acinzentada, vista pela cidade e na casa das pessoas há 40 anos, são causados pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Por meio de nota, a empresa disse que monitora a qualidade do ar e investe em equipamentos.

Queixa vai além da sujeira; moradores dizem sofrer problemas respiratórios.
Queixa vai além da sujeira; moradores dizem sofrer problemas respiratórios. Imagem: Leonardo Gonçalves

"Tenho rinite, alergia e inclusive tive de me mudar de bairro, para cuidar mais da minha saúde. Dependendo do local em que você mora e da direção do vento, recebe quatro vezes mais poluição por ano", afirma João Thomáz Costa, morador da cidade há 67 anos.

O engenheiro metalurgista é especialista em meio ambiente e trabalhou na CSN por 40 anos. Segundo ele, um vendaval de poeira atingiu a cidade há pouco tempo e assustou a população. "Tivemos um ciclone de pó no dia 13 de julho deste ano, foi o maior já visto."

A usina está no meio da cidade, e bairros como Conforto, Vila Santa Cecília, Belmonte e Retiro são os mais afetados, dizem os moradores.

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Fico muito triste, pois este piso é novo, claro, mas vive cinza. Dá até tristeza comprar um imóvel, que é um sonho para todo o trabalhador. Somos proibidos de ter árvores frutíferas, e, nos últimos anos, nosso pulmão está se enchendo de pó metálico a cada respiração. No dia dos pais, no ano passado, estava fazendo um churrasco no quintal, mas tive de parar e fazer dentro de casa na churrasqueira elétrica, pois estávamos comendo pó magnético.
Leonardo Gonçalves, professor

Moradores dizem ter feito testes que mostram a poeira se movimentando quando aproximam um imã, o que sugere, segundo eles, que o pó tem resíduos de ferro.

Para José Maria da Silva, o Zezinho, do Movimento Ética na Política e que mora na cidade há mais de 60 anos, o prejuízo do pó vai além da poluição.

Há custo social grande, como saúde, estresse e gasto com limpeza, devido à constância do pó. Há dois meses houve uma grande movimentação na cidade nessa luta contra a poluição e, aos poucos, vemos uma mudança de postura, mas ainda há muito o que fazer.
José Maria da Silva

Os efeitos do pó preto para a população de Volta Redonda também são acompanhados pelo Legislativo. Na semana passada, uma audiência pública nas Comissões de Defesa do Meio Ambiente e de Saneamento Ambiental, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), foi marcada para discutir soluções diante das denúncias de poluição.

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O que diz a CSN

A CSN está investindo neste momento 700 milhões de reais em modernos equipamentos e filtros para aprimorar os seus controles ambientais e, até que as obras definitivas estejam concluídas, implementou diversas medidas que reduziram acentuadamente as emissões da poeira.
CSN, em nota

A empresa cita ações como a instalação de canhões de aspersão de névoa e o uso de "caminhões de aspersão com aplicação de polímero nas pilhas e vias para evitar os sólidos em suspensão". Também fala em "aumento do número de varredeiras" e uso de caminhões-pipa.

O que diz o Inea?

O Inea (Instituto Estadual do Ambiente) diz acompanhar a situação de emissão das partículas sedimentáveis na CSN e já multou a empresa em outros episódios de grande emissão dessas partículas. Segundo o instituto, foi emitida multa no valor aproximado de um milhão de reais pela poluição causada com o pó preto.

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Em nota, afirma que uma equipe de fiscalização foi à CSN para acompanhar as ações para reduzir a emissão do pó preto. "A técnica acompanhada é a aplicação de um material, que reage formando uma camada por cima das pilhas, reduzindo o carregamento do material pelo efeito do vento."

O Inea avalia sistematicamente a qualidade do ar em Volta Redonda, por meio de uma rede de monitoramento, composta por estações automáticas e semiautomáticas, que transmitem dados diretamente para o Inea, que os audita diariamente. Adicionalmente, foi instalada uma estação com equipamentos operados e mantidos exclusivamente pelo Inea para medir a concentração de gases, material particulado e parâmetros meteorológicos, no município.
Inea, em nota

Poeira preta invade a casa dos moradores em Volta Redonda (RJ)
Poeira preta invade a casa dos moradores em Volta Redonda (RJ) Imagem: José Maria da Silva e Leonardo Gonçalves

Novo decreto

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