'Brennand' EP4: Thiago pressionou e ameaçou vítima para desfazer B.O.

O quarto episódio de "Brennand", podcast do UOL Prime, revela áudios inéditos em que Thiago orientou uma vítima a desfazer um boletim de ocorrência aberto no Recife, em 2021, no qual era citado pelo crime de cárcere privado. Ouça o episódio no arquivo acima.

A vítima era K., produtora pernambucana radicada nos EUA. Em agosto de 2021, ela viajou a São Paulo para encontrar o empresário pessoalmente, depois de um mês de paquera pelo Instagram. Durante os dias em que estiveram juntos, no entanto, K. disse à Justiça que foi mantida em cárcere privado, agredida e estuprada por Brennand.

O boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia da Mulher do Recife por um irmão de K., a quem ela pediu ajuda por telefone enquanto ainda estava na Fazenda Bela Vista, em Porto Feliz (SP). Quando voltou à capital pernambucana, a produtora diz que foi pressionada e orientada por Brennand a desfazer o registro policial.

K. gravou conversas ao telefone com Brennand. "O único pedido que eu faço, o único, é pra encerrar o negócio na delegacia. Eu boto a polícia pra ir até você, você não precisa sair de casa", disse o empresário em uma dessas ligações.

"Você só vai dizer que seu irmão entendeu errado a briga que você teve. Que você saiu todos os dias em São Paulo. Que não teve nada disso de agressão. E pronto. Você quer o telefone do chefe de polícia?"

Além disso, há registro de um diálogo em que Brennand assume ter feito sexo "à força" com a produtora, mesmo com ela "dizendo não". "Eu pedi pra parar várias vezes, que eu não tava aguentando de dor. Você lembra disso, depois que você me bateu?", disse ela.

K. também gravou uma série de ameaças. "Eu, se fosse você, procurava ver logo de agora onde você abriu sua matraca, sua puta, sobre mim", disse. "O cara, se ele for homem, se ele tiver uma biografia, ele tiver um legado familiar, ele tiver a importância com os sucessores dele que eu tenho, você vai ser tratada como lixo."

Os arquivos inéditos revelam também que K. e Brennand voltaram a se encontrar no Recife, dias após os supostos episódios de agressão e estupro, onde jantaram juntos com os pais dela.

Procurada pela reportagem, a defesa de Brennand diz que está impedida de se manifestar. "Tudo que posso lhe dizer é que os casos estão em segredo de Justiça", explica o advogado Roberto Podval.

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O podcast narrativo é apresentado pelo jornalista do UOL Mateus Araújo, que divide a reportagem com Juliana Sayuri. Os episódios vão ao ar sempre às quintas-feiras.

"Brennand" está disponível no YouTube do UOL Prime, Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, Deezer e em todas as plataformas de podcast.

'Brennand'

Episódio 4 — Show de networking

Aviso: esse programa tem linguagem forte, relatos de abuso sexual e pode não ser adequado para todos os públicos.

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THIAGO BRENNAND: [Telefone chamando] Finalmente, né?
K.: Desculpa. Eu não tô sozinha.
THIAGO BRENNAND: Caraca...
K.: Não posso ficar falando. Não tô sozinha. Como que você tá?
THIAGO BRENNAND: Porra, que mistério é esse, não tá sozinha? Fora essa estranheza toda aí, tô ótimo.
K.: Ué.
THIAGO BRENNAND: Ótimo assim...
K.: Tem dois anos que eu não vejo ninguém, então, assim, é normal que eu fique sempre ao redor de pessoas, né?
THIAGO BRENNAND: Não, não é normal que você não me sinalize ou que diga que vai ligar em 20 minutos e demore 4 horas.

MATEUS ARAÚJO: Essa ligação, que você começou a escutar no episódio anterior, é a primeira entre K. e Thiago desde que ela chegou ao Recife depois de ter conseguido ir embora de São Paulo. Ela não via a família fazia dois anos.

K.: Eu estava destruída, eu estava acabada, eu estava chorando muito, quando eu cheguei. Eu chorei o aeroporto inteiro, o avião inteiro. Quando eu cheguei... E o Thiago já tava ali mandando mensagem e ligando compulsivamente. Ali começaram todas as ameaças.

MATEUS ARAÚJO: A gente não sabe se ela chegou a responder essas mensagens ou qual foi a orientação que K. recebeu dos advogados ou da família. Mas, fato é, que dali em diante, ela passou a gravar todas as ligações que fez com Brennand. Os áudios foram anexados como provas no processo.

THIAGO BRENNAND: Eu tô querendo entender o que é que há? Me conte.
K.: Eu não sei nem o que... O que te falar. Eu acho que eu tô ainda, eu tô ainda anestesiada com tudo isso. Eu juro por Deus.
THIAGO BRENNAND: Ok. Mas você dá pra me posicionar dos acontecimentos de hoje? Porque eu tô totalmente fora do baralho.
K.: Hoje eu não fiz absolutamente nada. Eu tirei um tempo pra mim. Meu pai me deu um remédio, desde ontem. Me deu outro hoje pra me tranquilizar, que eu só fazia tremer...

MATEUS ARAÚJO: K. chegou ao Recife na madrugada do dia 2 de setembro de 2021. Quatro dias após o seu primeiro encontro com Brennand. Um B.O. contra Thiago tinha sido aberto pelo irmão dela por lá. Juliana Sayuri, a minha colega de apuração nesse caso, vai ler o documento pra gente.

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JULIANA SAYURI: O boletim dizia que: "Por volta das 21h do dia de ontem (31 de agosto de 2021), numa ligação feita pelo denunciante, a vítima atendeu e pediu socorro, pois além de estar proibida de deixar a residência, também estaria sofrendo agressões diárias. Que a vítima conhecia o autor desde sua adolescência, no estado de Pernambuco, se reencontrando através de redes sociais. Que o noticiante e familiares entraram em contato com a Polícia Militar e a Delegacia da Mulher, do estado de São Paulo, mas não obtiveram êxito na intervenção, pois o policiamento alegou que não dispunha de efetivo para se dirigir até o local. Que o noticiante acrescenta que o agressor é atirador e colecionador de armas".

MATEUS ARAÚJO: Antes mesmo de K. pousar em solo pernambucano, Thiago já estava ciente do conteúdo do boletim de ocorrência e com uma lista de autoridades na manga para tentar reverter a situação.

VINHETA: Eu sou Mateus Araújo. E esse é Brennand, Um podcast do UOL Prime. A agressão pública do empresário Thiago Brennand a uma mulher numa academia traz à tona uma cadeia de outros crimes e acusações dos quais ele sempre conseguiu sair ileso. A partir da história e dos áudios de K., uma das vítimas dele, revelamos o modus operandi de Brennand pela primeira vez, ajudando a responder a pergunta que tem ficado no ar desde que o nome dele virou manchete: Até onde vai a impunidade de um milionário que, ainda por cima, trocaria favores com autoridades?

THIAGO BRENNAND: Eu levo um ex-delegado geral de polícia, eu levo a primeira mulher que foi chefe de polícia e criou a Delegacia da Mulher, Olga Câmara, pra dizer: eu sou abusador? Eu levo o delegado que investigou o caso das meninas de Serrambi, por sinal me ligou hoje pra pedir um favor de um exame... Eu dou um espetáculo, cara, minha biografia... eu dou show de networking.

VINHETA: Episódio 4. Show de networking.

MATEUS ARAÚJO: A coisa mais importante pra Thiago, naquele momento, era que K. fosse pessoalmente à Delegacia da Mulher e retirasse o B.O. que tinha sido aberto pelo irmão dela.

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THIAGO BRENNAND: O único pedido que eu faço, o único, é pra encerrar o negócio na delegacia. Eu boto a polícia pra ir até você, você não precisa sair de casa. Eu boto o chefe de polícia pra mandar a delegada lá, Fabiane, ir até você. Entendeu? Não é porque eu não quero nada não, é porque eu não posso chegar junto de você.
K.: Por quê?
THIAGO BRENNAND: Eu tô como algoz. Porque eu tô como algoz, [silenciado].
K.: O que é algoz, meu amor?
THIAGO BRENNAND: Alô? Algoz é o falcão, e a presa é o peixinho. Eu tô como um predador.

MATEUS ARAÚJO: E, mesmo de longe, ele tava fazendo de tudo pra que as coisas corressem da maneira mais discreta e rápida possível. Esse é mais um trecho do depoimento de K. para o Ministério Público:

K.: Ele [dizia]: "Já falei com a delegada tal, você vai amanhã de qualquer jeito na delegacia. Você vai falar com a tal delegada, aqui tá o telefone dela, ela tá com o seu telefone, ela vai te ligar, você vai marcar, você vai sentar e você vai desmentir tudo isso que o seu irmão falou".

MATEUS ARAÚJO: E ela tava evitando ao máximo fazer isso. A gente tentou entrar em contato com K. pra uma entrevista pra esse podcast, mas ela não respondeu. Tentamos falar também com o advogado Marcio Janjacomo, que representa K. e outras vítimas. Ele disse que, por ora, julga "prematuro" falar sobre esses assuntos, já que os processos ainda correm na Justiça. Então não tem como saber o que estava acontecendo com K. e Thiago além daquilo que tá registrado nas ligações. Mas, durante os telefonemas, ela parecia estar inventando diversas desculpas para adiar a ida à delegacia.

K.: Eu não falei com meu irmão ainda sobre esse assunto. Eu não falei com ele ainda, eu não quero falar com meu irmão ainda sobre isso. Ele escutou outras pessoas...
THIAGO BRENNAND: Você desaparece... Eu me sinto mal.
K.: Eu desapareço porque eu fiquei completamente paralisada...
THIAGO BRENNAND: Veja, eu não sei porque você tá paralisada ainda. Já se passou um tempo, tá?
K.: Uhum.
THIAGO BRENNAND: A minha dor é a sua dor. Eu acho que não foi um amor de dois loucos, eu não acho que você é louca, como apareceram pessoas pra dizer, e acho que você sabe que eu não sou louco, tá certo?
K.: Eu sei.
THIAGO BRENNAND: Infelizmente, houve um "big clash", tá certo? Houve um início que amanhã pode ser um motivo pra gente contar como foi um negócio louco. Agora, eu tô sendo colocado de vilão, cara. Isso não é justo, porra.

MATEUS ARAÚJO: O "big clash", ou conflito, ao qual Thiago se refere foi toda a sequência de agressões físicas, psicológicas e sexuais que aconteceram em Porto Feliz, segundo K. Como K. não nos concedeu entrevista, não sabemos o porquê das ligações gravadas. Só que ela conseguiu, pouco a pouco, extrair e gravar de Thiago algumas confissões sobre o que tinha acontecido nos dias anteriores.

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THIAGO BRENNAND: Você pode me mentir de novo, eu não olho na tua cara, mas não toco um dedo em você. Porque isso já me fez tanto mal, cara. Tanto mal. Você não tem ideia não.
K.: Essa foi a dor que mais me causou. De tudo. Foi isso.
THIAGO BRENNAND: Pois a minha não foi não.
K.: Pois é.
THIAGO BRENNAND: A minha não foi, não. A minha foi afetiva. Somos diferentes.
K.: É, mas a dor física se torna a dor afetiva junto.

MATEUS ARAÚJO: À medida em que eles conversavam, a narrativa ganhava mais detalhes. E o relato de fragmentos do que aconteceu em Porto Feliz, na voz do próprio Thiago, acabou sendo gravado por K.

K.: É, mas... Posso falar uma coisa de verdade pra você, do fundo do meu coração? E que você não fique bravo.
THIAGO BRENNAND: Pode.
K.: Você promete nunca mais bater em mim?
THIAGO BRENNAND: Prometo. Dou minha palavra. Dou minha palavra. Na frente de quem quiser aí.
K.: Não, não quero que ninguém fique sabendo o que aconteceu, que você bateu em mim, não quero que ninguém fique sabendo.
THIAGO BRENNAND: Não, mas eu quero, eu faço questão. Eu não quero sair daí com a coisa suja, não. Eu quero conversar com quem fez o B.O., quero dizer o que houve, eu quero "come clean", eu não quero sair com nada não.

MATEUS ARAÚJO: Ele já tinha admitido a agressão física, queria "abrir o jogo", como disse em inglês. Mas não parecia — ou não queria entender — que, além dos tapas, também houve estupro.

THIAGO BRENNAND: Você há de convir, por exemplo, eu faria em algum momento da minha vida sexo não consensual com uma mulher, [silenciado]?
K.: Acho que não, mas o que nós fizemos lá aquele dia? Eu pedi pra parar várias vezes, que eu não tava aguentando de dor. Você lembra disso, depois que cê me bateu?
THIAGO BRENNAND: [Silenciado] Você tá confundindo as bolas. Uma coisa é você tá com dor no sexo anal, a outra coisa é uma pessoa estar fazendo sexo não consensual. Presta atenção no que você diz, porque é perigoso o que você diz.

MATEUS ARAÚJO: E, justamente nessa defensiva, veio a confissão.

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THIAGO BRENNAND: Nós estávamos num ato sexual, onde nós tiramos a roupa por vontade própria, onde nós nos fodemos por vontade própria, onde você já tinha gozado e etc. e tal. Tá certo? E aí, na hora de comer o cu, você [disse]: "Não, não?" Eu ameacei e disse: "Se você não deixar, eu vou te quebrar?"
K.: Não.
THIAGO BRENNAND: Então. Eu... botei uma arma na sua cabeça?
K.: Não.
THIAGO BRENNAND: Pois é. Mas eu fiz à força e com raiva. Não fiz?
K.: Fez.
THIAGO BRENNAND: E você dizendo "não, não". Eu fiz com raiva. Beleza. Tá certo, [silenciado]. Eu assumo.

MATEUS ARAÚJO: No dia seguinte à chegada de K. ao Recife, Brennand orientava ela, de São Paulo, sobre o que tinha de ser feito dali em diante.

THIAGO BRENNAND: Você só vai dizer que seu irmão entendeu errado a briga que você teve. Que você saiu todos os dias em São Paulo. Que não teve nada disso de agressão. E pronto. Você quer o telefone do chefe de polícia? Você pode ser orientada pelos dois.
K.: Pode ser, se for melhor, se precisar.
THIAGO BRENNAND: É um negócio rápido. Ela vai fazer um termo. Você diz que seu irmão se equivocou e não tinha nada disso. Procura ser simples nas palavras para não dar muita carta para esse pessoal, entendeu? Eles não têm nada a ver com a sua vida privada. E pronto, acabou.

MATEUS ARAÚJO: Primeiro, Thiago queria mandar um advogado dele para acompanhar K. na delegacia.

THIAGO BRENNAND: Como você ficou sem se comunicar com seu irmão, você tá muito nervosa com o fim da relação, seu irmão, desesperado, fez um boletim de ocorrência que não tinha nada a ver com os fatos, entendeu? Interpretou mal o que você disse, tá certo?
K.: Certo.
THIAGO BRENNAND: É preciso ser dito dessa maneira. Vá lá e diga dessa maneira. Eu vou mandar um advogado meu lá, entendeu?

MATEUS ARAÚJO: Depois, ainda na mesma ligação, mudou de ideia.

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THIAGO BRENNAND: Eu vou com você, guiando passo a passo. Eu só não vou mandar um advogado lá porque pega mal, entendeu?
K.: Ah tá. Por quê?
THIAGO BRENNAND: Porque eu sou um cara forte, rico, tido como poderoso. Eu sou um cara tido como forte. Entendeu? Só não mando um advogado com você porque pega mal. Porque vai parecer que estou mandando você escoltada. Muitos desses delegados me ligam para pedir favor.

MATEUS ARAÚJO: "Muitos desses delegados me ligam para pedir favor." Em todos os processos a que tivemos acesso, diversos agentes públicos foram citados por Brennand como contatos pessoais. Incluindo seis delegados de Pernambuco e uma de São Paulo. Um deles é o delegado especial da Polícia Civil, Paulo Jeann Barros Silva.

THIAGO BRENNAND: Ô, Paulinho.
PAULO JEANN: Oi.

MATEUS ARAÚJO: Ele é o atual diretor do Instituto de Identificação Tavares Buril. Antes, foi corregedor auxiliar da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco. Um grupo de WhatsApp com Paulo Jeann e K. chegou a ser criado por Thiago. Nas conversas, que estão num relatório da delegada Larissa Souza de Melo Azedo, Brennand pede que Paulo Jeann dê as coordenadas a K. sobre como proceder na desistência da denúncia. Isso seria feito num depoimento que ela daria na 1ª Delegacia da Mulher do Recife.

Durante uma ligação entre K. e Thiago, ele chegou a colocar Paulo Jeann na linha, puxando um assunto bem antigo, com o qual ela não tinha nenhuma ligação. Mas ela ouviu e também gravou tudo, no que parecia uma demonstração de Brennand, do que era o tal "show de networking".

THIAGO BRENNAND: Ô, Paulinho. Tu foi delegado do caso Serrambi, foi?
PAULO JEANN: Fui, porra. Tu não sabe que foi?
THIAGO BRENNAND: Dizem que fui eu que matei aquelas meninas, né?
PAULO JEANN: Conversa, eu já não desmenti tudo, rapaz?

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MATEUS ARAÚJO: O caso Serrambi é um episódio que, vira e mexe, incomoda Thiago. Em Pernambuco, essa história é bastante conhecida. Daqueles casos que todo o estado ficou sabendo e não consegue esquecer. Mas ela foi ofuscada no noticiário, principalmente em São Paulo, porque aconteceu na mesma época do crime de Suzane von Richthofen, que orquestrou o assassinato dos pais.

TRECHO DE REPORTAGEM DE TV: Duas adolescentes, no auge da vida, se divertindo numa festa, mas que nunca voltaram pra casa. As jovens foram assassinadas. Um crime que aconteceu há 20 anos, mas que até hoje não tem culpados.

MATEUS ARAÚJO: Serrambi é uma praia em Ipojuca onde estavam as adolescentes Maria Eduarda Dourado Lacerda e Tarsila Gusmão Vieira de Melo, em 2003. Na época, as duas tinham 16 anos. Elas viajaram com amigos ao litoral sul, perto de Porto de Galinhas, para passar o feriado de 1º de maio daquele ano. As duas desapareceram num sábado, 3 de maio. Dez dias depois, seus corpos foram encontrados num canavial em Camela, outro distrito de Ipojuca.

TRECHO DE REPORTAGEM DE TV: Um lugar paradisíaco, ponto de jovens da alta sociedade de Pernambuco. Duas adolescentes numa festa, que aparecem mortas, com sinais de violência sexual. Um crime que provoca disputa de versões.

MATEUS ARAÚJO: Maria Eduarda e Tarsila estavam hospedadas na casa de um amigo delas, um jovem de 21 anos chamado Tiago Carneiro. Thiago Brennand também frequentava a praia de Serrambi. A família dele tinha uma casa na região. Os xarás eram jovens de famílias ricas, habituados ao "high society" pernambucano, e por isso foram confundidos.

Durante as investigações, Brennand foi convocado a depor, em 2006. Ele foi ouvido pela Polícia Civil e pela Polícia Federal, mas nunca encontraram nada que ligasse ele ao caso. A história de Serrambi e o mal entendido sobre a participação de Thiago Brennand no crime foi um dos boatos que o irmão de K. ouviu no Recife.

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PAULO JEANN: Você foi um injustiçado, rapaz, você foi injustiçado.
THIAGO BRENNAND: E teve dois outros delegados, né, da Polícia Federal: Joventino, que hoje é meu amigo também, e Silvestre, que hoje é meu amigo também.
PAULO JEANN: Pronto, é rapaz, foi. Isso aí é a maldade que vem, mas não imperou não, graças a Deus.

MATEUS ARAÚJO: Em 2019, José Silvestre, Cláudio Joventino e o próprio Paulo Jeann, os três delegados que acompanharam o caso Serrambi, assinaram declarações isentando ele do crime. Eles indicaram Marcelo e Valfrido Lira como os autores dos assassinatos. Os dois eram conhecidos como "irmãos kombeiros" por dirigir uma Kombi. No julgamento, foram inocentados. Até hoje, o caso permanece sem solução.

THIAGO BRENNAND: Os três delegados fizeram os documentos dizendo que era o promotor se usando da minha fama, querendo se promover, um promotor de Justiça.

MATEUS ARAÚJO: Os documentos foram feitos em 2019. Juliana vai ler aqui o trecho assinado por Paulo Jeann, em papel timbrado da Polícia Civil de Pernambuco.

JULIANA SAYURI: Ele afirma que, abre aspas: "Thiago Fernandes Vieira (ainda sem o sobrenome Brennand), 'havia sido citado e veiculado em muitos 'boatos' inverídicos' e que, 'para extinguir qualquer dúvida que maliciosamente permeava as informações', ouviu o empresário 'na condição de declarante'. E que comprovou-se que ele 'nada tinha a ver com o caso policial que era investigado'."

MATEUS ARAÚJO: Na conversa com K. e Paulo Jeann, em 2021, Brennand se gabou que aquelas declarações foram algo inédito na "história das polícias" pernambucanas. A Polícia Civil de Pernambuco enviou uma nota pra gente afirmando que, na verdade, esse tipo de documento pode ser solicitado por qualquer pessoa que tenha sido citada ou tenha atuado como declarante em um processo judicial. Na conversa por telefone, entretanto, Thiago ressaltou o ineditismo daquilo tudo.

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THIAGO BRENNAND: Primeira vez na história das polícias, você não sabia nem como fazer o documento.
PAULO JEANN: Verdade.
THIAGO BRENNAND: Dois: o nome do menino era Tiago. Três: eu não tava nem no Brasil, entendeu? E número quatro: eu, Thiago, conheci todos vocês, nunca liguei pra essa merda, sempre disse, isso é coisa de Recife.
PAULO JEANN: É, sempre, você nunca teve preocupação com isso, não. Só teve aperreio do seu nome tá envolvido, mas você nunca se preocupou porque você tava certo, você não tava envolvido em nada.
THIAGO BRENNAND: Tá bom, Paulinho, obrigado, amigo. Valeu, tchau, tchau.

MATEUS ARAÚJO: Nas gravações dessa mesma conversa com K., Thiago Brennand também citou mais dois ex-delegados: Olga Câmara e Osvaldo Morais.

THIAGO BRENNAND: Agora converse amanhã, eu boto doutora Olga Câmara ou Osvaldo, que hoje é secretário de Defesa Social de Pojuca e já foi também chefe de polícia, eles ligam pra você, encerra isso na Delegacia da Mulher, entendeu? Aí eu vou e posso ficar junto de você aí. Quer o telefone de doutora Olga?
K.: Quero.
THIAGO BRENNAND: Vou lhe dar agora.
K.: Não, não precisa. Quem que é? Não, amanhã eu vou lá.
THIAGO BRENNAND: Osvaldo Morais também. Fale com eles e diga: "Olhe, vocês que já foram chefes geral, cê acha saudável pro Thiago vir à minha casa sem eu ter dado fim a esse B.O. do meu irmão?" Eles vão dizer que "de jeito nenhum".
K.: Tá bom.

MATEUS ARAÚJO: Segundo Brennand, o ex-delegado Osvaldo Morais foi quem articulou uma nova versão para a denúncia feita pelo irmão de K. Ele conta isso numa outra ligação que fez naquele mesmo dia, um pouco mais tarde.

THIAGO BRENNAND: Vamos lá. Para que nós não expuséssemos seu irmão, eu não podia dizer que a história é totalmente mentirosa, tá? Então, esse, que foi chefe de polícia e é secretário de Defesa Social de Ipojuca hoje, Osvaldo Morais, ligou e disse que a gente tava começando a vida a dois e que tivemos um problema.

MATEUS ARAÚJO: Osvaldo Morais é delegado aposentado da Polícia Civil. Atualmente, ele é secretário de Defesa Social de Ipojuca, que fica no Litoral Sul de Pernambuco. A gente conversou com ele por telefone e ele nega que tenha orientado Thiago ou K.

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OSVALDO MORAIS: Nunca orientei ninguém a tirar queixa, até porque eu acho que isso não deve ser feito. Se havia uma queixa? Pelo que eu me lembro do caso, havia uma viagem, a delegada não podia atendê-lo e eu pedi que a delegada atendesse. Não pedi pra tirar queixa ou nada do tipo, não é do meu feitio.

MATEUS ARAÚJO: Já Olga Câmara foi arrolada pelos advogados do empresário como testemunha de defesa em outro processo no qual ele é acusado de estupro.

THIAGO BRENNAND: Ela me chama de "meu filho". Foi a primeira mulher a ser delegada geral de polícia da história do Brasil. Foi a fundadora da Delegacia da Mulher.

MATEUS ARAÚJO: Hoje aposentada, Olga Câmara foi a primeira mulher chefe da Polícia Civil de Pernambuco, nomeada em 2001 pelo ex-governador Jarbas Vasconcelos. A gente tentou falar com ela pra saber se de fato essa amizade existe e por que Thiago teria envolvido ela nessa história, mas Olga não nos atendeu.

THIAGO BRENNAND: Ligue pra ela, você vai adorar conversar com doutora Olga. Cê vai ficar impressionada. [...] Tá bom. Vou dar o telefone de doutora Olga agora, tá?
K.: Tá, mande por mensagem. [...] Amanhã de manhã, eu ligo pra ela. Que já é meia-noite, né, meu amor? Não vou ligar pra ninguém meia-noite.
THIAGO BRENNAND: Se você tiver tempo, você pode ligar. Ela dorme uma e meia.
K.: Não, eu vou tomar um banho...
THIAGO BRENNAND: Sabe como é que eu chamo ela? Minha rainha. Essa mulher redigiu o Estatuto da Criança e do Adolescente. Isso não é mulher, não; isso é um monstro.
K.: Que bom.
THIAGO BRENNAND: Então eu tenho um respeito por ela enorme.

MATEUS ARAÚJO: É, definitivamente, um show de networking. No dia 3 de setembro, por volta das 11h da noite, K. seguiu as instruções de Thiago. Foi à polícia e assinou um termo que afirmava que o irmão tinha interpretado errado o que aconteceu em Porto Feliz. Ela relembra o que aconteceu naquele dia na oitiva:

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K.: Eu fui na delegacia que ele me pediu pra ir. Quando eu cheguei lá, já tinha duas pessoas me esperando e eu fui com o meu pai e com o advogado amigo do meu pai.

MATEUS ARAÚJO: Thiago ainda tava em São Paulo. Mas, segundo K., ele deu um jeito de estar presente na delegacia naquele dia.

K.: Ele não parava de me ligar. E ele já estava ali no viva voz. Eu estava com o oficial de Justiça na minha frente, com o meu pai, e eu estava chorando ali, desesperada, e ela tava vendo o que aconteceu comigo de verdade. Quando eu sentei ali na frente dela, ela falou assim: "Para, você não pode me falar isso, porque eu vou ser obrigada a escrever isso aqui. E eu percebi que ela, até a própria oficial, ela tava ali intimada a fazer o que ela não queria". E ali, a Olga Câmara falando comigo e falando com ele ao telefone. Ele falando as coisas que eu tinha que falar e que tinha que tirar do B.O. Isso tudo ali abertamente com essa oficial de Justiça na minha frente, o meu pai, ele... E ele falando exatamente o que foi feito ali na hora. E eu chorando, eu só chorava.

MATEUS ARAÚJO: Numa ligação entre K. e Thiago que aconteceu naquele dia mais cedo, ela demonstrou preocupação com a possibilidade de ter de fazer um exame de corpo de delito, que confirmaria as agressões.

THIAGO BRENNAND: Agora, esses seus devaneios de olhar marca, pode pedir pra isso. Não existe em lei, tá?
K.: Não entendi o que você falou.
THIAGO BRENNAND: Esses seus devaneios de que pode pedir pra olhar a marca? Não existe isso aqui no Brasil.
K.: Se eu chegar lá e elas pedirem preu tirar a minha roupa, eu faço o quê? Eu não tiro?
THIAGO BRENNAND: Primeiro, ela não pode pedir, é um crime, ela pode ser presa em flagrante.
K.: Certo.
THIAGO BRENNAND: Em segundo lugar, você não tira, óbvio.
K.: Certo.
THIAGO BRENNAND: Tudo que você tem que fazer é dar seu termo e acabou. Não funciona assim a lei.

MATEUS ARAÚJO: O exame foi solicitado pela delegada, mas K. não fez. A defesa de Thiago, inclusive, questiona isso. A denúncia foi retirada no dia 3 de setembro. Por volta do Dia da Independência, Brennand foi ao Recife. Ele fretou um jato e disse pra K., sem dar muitos detalhes, que tinha uma audiência relacionada ao filho dele marcada na cidade. Na época, o filho, que vamos chamar de L., tinha 16 anos. Ele estava morando com o pai de Brennand, em Pernambuco.

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De acordo com Thiago, K. e L. foram recebê-lo no aeroporto. Brennand e K. se reencontraram e jantaram com os pais dele — com os quais ele não se reunia fazia anos. Eles também se encontraram com os pais dela. Esse reencontro no Recife é usado como argumento da defesa de Brennand de que não houve estupro e cárcere privado. A lógica é: como K teria cumprido toda essa agenda social com Thiago, depois de tantos episódios de violência?

Eu conversei com Roberto Podval, advogado de Brennand, em julho de 2023. O podcast ainda não tinha começado a ser produzido. Como os processos correm em segredo de Justiça, a defesa de Thiago não comenta os casos. No entanto, com base no que já tinha sido divulgado na imprensa sobre K., Podval fez algumas observações:

ROBERTO PODVAL: Eu vejo uma história de violência e estupro da pessoa que o trata, após isso, muito bem, que o convida para a casa dela depois de, em tese, ter sido estuprada. Que mantém relações com ele depois disso. E aí isso culmina numa acusação de estupro, no final. Não faz sentido, na minha visão. Eu não tô dizendo... Olha, pode ter tratado mal, pode ter agredido fisicamente, pode ter xingado, pode ter... Eu não sei o que levou a pessoa, depois, a acusá-lo de estupro. O que eu sei é que, depois do ocorrido, a pessoa mantém contato, o convida para a casa dela, jantam juntos, ficam juntos.

MATEUS ARAÚJO: As aparências davam a entender que tava tudo tranquilo. Mas K. tava comendo pelas beiradas. E Thiago acabou descobrindo. Às 21h30 do dia 9 de setembro de 2021, Brennand ligou para ela, nervoso, querendo saber de uma suposta conversa de K. com Daniel Cossani. Cossani é o policial militar e funcionário de Thiago que tinha levado K. ao aeroporto, em São Paulo.

THIAGO BRENNAND: Conta a história toda. Conta a história toda.
K.: História toda de quê?
THIAGO BRENNAND: Solta a fita logo.
K.: Solta a fita do quê, Thiago? Do que você está falando, Thiago?
THIAGO BRENNAND: Eu já peguei Cossani com a boca na botija.
K.: Cê pegou quem? Que Cossani? Boca na botija?
THIAGO BRENNAND: Liguei pra ele e falei: "Cossani, [silenciado] comenta da [silenciado] contigo e tu não me fala nada? "Ah, doutor, achei que não fosse relevante". Solta a fita, bora.
K.: Ué, como te falei: já sabia dessa menina, já sabia dessa menina há muito tempo. Só perguntei o nome para saber se era verdade e ele confirmou. Só isso.
THIAGO BRENNAND: Você vai dar a fita ou não?
K.: Eu acabei de te falar. Não sabia nem o nome dela direito. Eu sabia da história.
THIAGO BRENNAND: O que você falou com ela? O que você falou com ele?
K.: Você tá falando comigo?
THIAGO BRENNAND: Fala, vagabunda. Fala pra mim, fala. O que você falou com ele?
K.: Eu não falei nada, eu só perguntei pra ele. Só perguntei o nome e ponto final.

MATEUS ARAÚJO: Juliana Sayuri vai explicar o que ela conseguiu descobrir sobre essa história que Cossani teria contado pra K.

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JULIANA SAYURI: K. procurou Cossani porque ela queria saber a história de F. F. é uma ex-namorada suíça de Brennand. Eles se conheceram na Europa, lá por volta de 2016. Nesse namoro, F. e Brennand ficavam entre Europa e Brasil. E no Brasil eles ficavam entre Recife e São Paulo. Lá no Recife, ele a convenceu a fazer uma tatuagem com a assinatura dele, justamente a marca TFV. Em São Paulo, eles iam juntos pra academia Bodytech, e ela contou nos autos que eles tiveram uma discussão uma vez e que depois o Brennand ficou muito agressivo e teria forçado ela a se ajoelhar, e a estuprou pelo ânus. Isso tudo indica o "modus operandi". A tatuagem TFV, o estupro anal e por acaso a Bodytech. F. aproveitou um dia em que ele estava malhando na academia pra fugir. Foi embora pra Suíça e nunca mais voltou.

MATEUS ARAÚJO: E Thiago não ficou nem um pouco satisfeito ao descobrir que K. tava tentando arrumar mais informações a respeito dessa história.

THIAGO BRENNAND: Você é uma vagabunda. Como é que você fala com um funcionário meu pelas costas, rapaz? Eu vou te antecipar, tá? Isso tudo vai dar em merda. Pois vai dar em merda, tá? Porque você é pior do que eu imaginava. Minha filha, eu quero descobrir mais sobre você.
K.: Olha a diferença, olha a raiva.
THIAGO BRENNAND: Você vai ver quem é que é ruim de nós dois.
K.: Olha a raiva. Meu Deus do céu.
THIAGO BRENNAND: Eu, se fosse você, procurava ver logo de agora onde você abriu sua matraca, sua puta, sobre mim. E procuraria logo "shut down" agora. Porque eu tô de um jeito, cara...
K: Onde eu abri minha matraca?
THIAGO BRENNAND: Eu te deixo... já abriu aí pro segurança.
K.: Abri o quê? Porque eu perguntei uma coisa, isso é abrir a matraca?
THIAGO BRENNAND: É, [você] perguntou de uma história fantasiosa, sua vadia.
K.: Tá certo, Thiago.
THIAGO BRENNAND: Eu, se fosse você... Em respeito a seu irmão, que eu conheci, eu vou ligar para ele e [dizer]: "Olha, presta atenção na sua irmã, porque eu já recebi essa do segurança logo dela..."
K.: Certo, você pode ligar para quem você quiser, Thiago.
THIAGO BRENNAND: "... Se eu receber a segunda, a terceira, ela só vai estar segura dentro dos Estados Unidos e olhe lá".
K.: Você está me ameaçando?
THIAGO BRENNAND: Eu estou lhe garantindo. Eu estou lhe dizendo: "Você tenha certeza que você não sabe onde está entrando".

MATEUS ARAÚJO: Uma dessas iscas que ela jogou foi para Edsá Sampaio, que era apresentado por Thiago como sócio dele -- mas ele negou no episódio passado que tivesse qualquer tipo de relação de negócios com Brennand. O objetivo de K. ao ligar pra Edsá, segundo ela, era saber se ele confirmaria à polícia a versão dela do que aconteceu no último dia em Porto Feliz. Na nossa conversa com ele, Edsá chegou a mencionar o telefonema.

EDSÁ SAMPAIO: Ela me ligou para falar. Eu não sei se ela tava com medo do Thiago ou se ela queria... Por isso que eu fui chamado [a depor] e tá tudo na Justiça, entendeu? E me botaram porque ela me ligou pra provar que, mesmo depois de todo o problema... Eu até achei um absurdo da parte dela. Pra que ela tinha ligado, se ela tinha problema com Thiago? Ela tava no Recife, ela não tava mais aqui com Thiago. Quem sabe do problema que ela teve é ele e ela.

MATEUS ARAÚJO: E Thiago mencionou a ligação com K.

THIAGO BRENNAND: O que você fez foi muito grave. Muito grave. E só pra você saber: o Edsá tava te tratando do jeito que tava porque ele queria lhe conduzir, no início, porque, por trás, as adjetivações sobre você eram as de todo mundo, menos as minhas.
K.: Certo.
THIAGO BRENNAND: Tá?
K.: Uhum.

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MATEUS ARAÚJO: No depoimento que deu à Polícia, Edsá disse que "soube dos fatos tratados nesse inquérito por Thiago e considera todas as acusações de K. absurdas; que, passados alguns acontecimentos, alertou Thiago dizendo que K. era uma mulher perigosa; que conhece Thiago há muito tempo e sabe da repulsa dele com estupradores e sabe também que ele nunca agrediria nenhuma mulher; que já viu Thiago com centenas de mulheres ao longo dos anos e nunca viu nenhum problema relevante; que Thiago é excelente pai, muito organizado e sempre foi muito responsável; que, sobre os demais fatos, é tudo mentira absurda, e, em seus 62 anos, nunca viu uma mulher tão bandida e mentirosa como K."

Na ligação com a nossa reportagem, ele disse se arrepender de ter usado tais termos.

EDSÁ SAMPAIO: Pela ligação que ela fez pra mim, contando a situação dessa e depois apareceu essa coisa de estupro, isso e aquilo, eu disse: "Como essa pessoa faz uma coisa dessa? Liga pra mim e depois faz uma queixa dessa? Eu não tô entendendo. Me colocarem numa situação de problema. Mas eu me arrependo se eu falei alguma coisa — que eu nem lembro se eu falei alguma coisa dela —, porque eu não tenho nada a ver com isso, eu não tenho que julgar ela ou deixar de julgar.

MATEUS ARAÚJO: De qualquer forma, o estrago tava feito.

THIAGO BRENNAND: Você provoca, você gera raiva, você gera rancor. Você teve um episódio na minha casa? Tudo bem que eu fodi com você pesado, tudo bem que quando você me afrontou, me chamando de mentiroso, eu te dei um tapa. Tudo bem, cara. Eu poderia me desculpar a vida inteira por aquilo ali, tá certo? mas não, você se mantém lá e me agride pelas costas. Eu sei que você tá doída? Eu faço as coisas, a resposta que eu dou a tudo é pesada, entendeu? Eu, quando nasci, eu já tinha isso. Insulto tem que ser respondido de uma maneira. A retaliação é tão grande, que você não tem medo de nada de volta. É minha natureza, eu lhe adverti antes de a gente ficar pela primeira vez.

MATEUS ARAÚJO: K. tentou colocar panos quentes e disse, na ligação, que os dois tinham culpa em tudo que tava acontecendo. Thiago não aceitou.

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THIAGO BRENNAND: Eu não vejo qual a minha parcela de culpa. Qual a minha?
K.: Nós dois temos parcelas de culpa.
THIAGO BRENNAND: Eu também achava, mas qual é a minha? Eu não vejo. Ter transado e descido a mão? Eu acho que foi pouco, hoje em dia. Eu acho que eu consegui me controlar. Eu gosto de você, mas você tá lidando com um bicho diferente. Você está lidando com homem. Você não sabe o que é um homem. Não brinque com a minha vida, não, que você toma no cu. Você, seu pai, seu irmão, o mendigo da esquina, qualquer um. Pra você ter o casamento que você quer, a família que você quer, esqueça o homem. Porque você é tão piranha, tão tóxica. Ou você se trata, porque o cara, se ele for homem, se ele tiver uma biografia, ele tiver um legado familiar, ele tiver a importância com os sucessores dele que eu tenho, você vai ser tratada como lixo.

MATEUS ARAÚJO: No dia 12 de setembro, a gravação — não consentida, segundo K. — da relação sexual com Thiago foi enviada para o celular do ex-namorado dela.

THIAGO BRENNAND: Eu sou um cara que não sou cruel. Mas você, como disse Edsá — eu achei muito fofa a analogia —, você passa com uma peça de carne cheia de sangue na cara do leão e não quer levar dentada.

MATEUS ARAÚJO: O vídeo, entretanto, não foi enviado do aparelho celular de Thiago, e, sim, do filho dele, L., que ainda era menor de idade. O menino também tinha menos de 18 anos quando apareceu ao lado do pai durante a agressão na academia Bodytech. Depois daquele episódio, que virou notícia em todo o Brasil, Thiago viajou às pressas para Dubai e passou a ser procurado pela Interpol. Mas o que a gente descobriu e que quase ninguém sabia é que, por causa do filho, Brennand não viajou sozinho pros Emirados Árabes.

No próximo episódio de "Brennand":

L.: Hoje eu olho pros meus amigos e sinto pena deles porque eu tenho certeza que eles nunca tiveram a ligação que eu tive com meu pai e que eu tenho com meu pai.

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THIAGO BRENNAND: Não houve processo com sucesso de extradição, nem o Lula que trouxe o Thiago. Voltei porque meus pais estavam com cânceres, entendeu? Voltei sabendo que iria ser preso injustamente.

H.: Ele desligou o telefone e começou a vir agressivo: "Eu sempre soube que você era uma bandida, que você isso"... A ofender, xingar, tudo que vocês puderem imaginar. Batia na mesa, gritava. E o [silenciado] desesperado, tentando contato com a gente e mandando [mensagem] no grupo: "Ela não quer tá aí, deixa ela ir embora, libera ela". E ele: "Tá vendo o que você tá causando numa família? Você tá destruindo uma família".

MATEUS ARAÚJO: Eu sou Mateus Araújo e esse é "Brennand". A pesquisa e a reportagem do podcast foram feitas por mim e por Juliana Sayuri. O roteiro é de Clara Rellstab. Montagem é de Danilo Corrêa. Desenho de som de João Pedro Pinheiro. Trilha sonora de João Pedro Pinheiro com base na obra de Luiz Álvares Pinto. Trilhas adicionais do Epidemic Sound. O design é de Eric Fiori. Motion Design de Leonardo Henrique Rodrigues. Direção de arte de Gisele Pungan e René Cardillo. Coordenação de Juliana Carpanez, Ligia Carriel e Olivia Fraga.

O podcast é um produto do UOL Prime, que tem Diego Assis como gerente geral de reportagens especiais. O projeto também conta com Murilo Garavello, diretor de conteúdo do UOL.

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