'Comprei gelo para guardar remédio': o desespero de moradores sem luz no RS

Mais de 100 mil pessoas em Porto Alegre e municípios vizinhos permanecem sem serviços essenciais, sobretudo o de energia elétrica, após o temporal que atingiu a região Sul do país na última terça-feira (16).

O que aconteceu

Moradores que estão sem luz há mais de dois dias podem ter de aguardar até sábado (20) pela normalização do serviço. "Toda comida da geladeira estragou. Escolas e creches estão sem luz, sem água e sem aulas", relata a estudante Juliane Gonçalves, morador da zona sul de Porto Alegre.

"Estou tendo de comprar quilos de gelo para armazenar uma medicação", relata Alexandrina Botelho, de 80 anos. "É um remédio que tomo a cada 15 dias e não pode ficar fora da geladeira. Está tudo bem complicado", acrescenta a enfermeira aposentada.

Moradores reclamam da falta de capacidade técnica da empresa CEEE Equatorial, responsável pelo fornecimento. Segundo eles, não há respostas concretas por parte da companhia —privatizada em 2022, durante a primeira gestão do governador Eduardo Leite (PSDB).

Mais de 600 mil clientes ficaram sem luz no auge da crise em Porto Alegre. A população total na capital é de aproximadamente 1,33 milhão de pessoas, segundo o Censo de 2022 do IBGE.

No total, 1,3 milhão de pessoas foram afetadas pela falta de energia em todo o estado — segundo as concessionárias CEEE Equatorial e RGE. Moradores também ficaram sem água, devido à ausência de geradores nas estações de tratamento e casas de bombeamento, e sem sinal de Internet.

O que dizem moradores sem luz

Estou à luz de velas, esquentando água no fogão para tomar banho de balde. O mercadinho da rua onde faço minhas compras não abre há três dias, a farmácia tem fechado mais cedo", reclama. Moradora da zona leste da cidade, a aposentada também tem medo de tropeçar e cair no escuro.
Alexandrina Botelho, aposentada

Dependemos do gerador do supermercado do bairro para pelo menos carregar os celulares. Foram até colocadas réguas e extensões de tanta gente que utiliza. A venda de água está sendo controlada para todos poderem comprar. Minha família toda mora no Campo Novo e todos estão na mesma situação. Está sendo desesperador não ter previsão de quando voltam os serviços.
Juliane Gonçalves, estudante

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Governador cogita rever concessão

Diante do impasse, o governador Eduardo Leite falou sobre a possibilidade de rever a concessão da empresa. O prefeito Sebastião Melo (MDB), que votou a favor da privatização quando era deputado estadual, também reclamou nas redes sociais, afirmando que a companhia não atendia a seus telefonemas.

Nem tentei entrar em contato, pois, se nem o prefeito conseguiu, imagina eu. Trabalho por meta e nos últimos dias não consegui atingi-la, já que participo de um programa de gestão, do qual posso ser cortado, além do risco de redução de salário.
Jeferson Ferreira, servidor do INSS e morador da região central de POA

Samanta Costa, mãe de três crianças, revela a dificuldade de oferecer ou conseguir auxílio de quem está próximo. "Aqui é cada um por si neste momento, pois estamos todos iguais, alguns piores, pois tiveram suas casas destelhadas e alagadas", comenta a moradora da zona norte.

Ela relata dificuldades, desde o banho dos filhos até a falta de Internet para o trabalho. "O prejuízo é grande, perdi muita comida e ainda estou gastando para comprar água para beber, pois também estou sem", relata.

Na tarde de quarta-feira (17), um grupo protestou em frente à sede da CEE Equatorial. Foram registradas manifestações também em outros pontos de Porto Alegre. Moradores realizaram panelaços e bloqueios temporários de ruas dos bairros Farrapos, Cruzeiro e Vila Maria da Conceição.

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O outro lado

Em comunicado, o grupo Equatorial afirma ter reestabelecido as linhas de transmissão para quase 500 mil clientes. A companhia também diz ter reforçado sua equipe para acelerar os atendimentos. O presidente da CEE Equatorial, Riberto José Barbanera, afirma que até sábado (20) todos os serviços estarão em pleno funcionamento.

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