É religião? Como entra? Maçonaria cultiva segredos e influência política
Surgida na Idade Média e de origem francesa, a maçonaria é uma instituição essencialmente filosófica, filantrópica e educativa, que busca o progresso e o constante aperfeiçoamento dos seus membros. É dessa forma que caracteriza o termo o GOB (Grande Oriente do Brasil), a mais antiga associação de lojas maçônicas brasileiras.
O que fazem os maçons?
A organização está presente em todos os continentes e tem como lema a ciência, a justiça e o trabalho, segundo o Brasil Escola. O foco seria a liberdade dos indivíduos e dos grupos humanos, sejam eles instituições, raças ou nações; e a igualdade de direitos e obrigações dos seres e grupos sem distinguir a religião, raça ou nacionalidade.
Grupo também tem como base a fraternidade de todos os homens e nações, já que todos são filhos do mesmo criador e, portanto, humanos.
Integrantes se ajudam mutuamente e costumam se chamar de irmãos. Antigamente secreta, hoje seus membros são identificados —seja por assinaturas, uso de símbolos ou, até mesmo, por falarem publicamente sobre o tema. Quando se fala em simbologia maçônica, a grande maioria é ligada por instrumentos empregados na construção civil. Como detalha o Brasil Escola, o sentido maior da construção "reforça a necessidade constante de aprimoramento moral, intelectual e espiritual''. Conforme a BBC, a estimativa é que haja mais de seis milhões de maçons espalhados pelo mundo.
Cerimônias secretas. Também de acordo com a BBC, cada loja se reúne oficialmente quatro vezes ao ano, em cerimônias de acolhida a novos membros que podem ter uma hora de duração. O que ocorre nos eventos costuma ficar apenas entre membros.
A publicação ainda diz que as maçonarias não veem com bons olhos que membros discutam política e religião. No entanto, um dos requisitos para entrar para as lojas é acreditar em um poder superior, já que ateus não são aceitos.
Como se entra na instituição?
Ainda rodeada de mistérios, a maçonaria é formada majoritariamente por homens. Os grupos se reúnem em lojas para estudar e planejar ações.
Ajuda a membros da organização. Segundo a BBC, uma das características é de que os integrantes costumam atribuir aos maçons a ideia de "que eles se valem de suas posições sociais e profissionais para favorecer outros membros e a própria organização". Os maçons, porém, afirmam que isso é um "mito", diz o texto.
Políticos, médicos e profissionais de todas as áreas ingressam na associação por meio de convites de outros membros mais antigos. Passam por entrevistas, análise de histórico e rituais, que não costumam ser detalhados e são restritos aos integrantes.
Como a religião vê a maçonaria?
Em 1738, o papa Clemente 12 proibiu católicos de se tornarem membros de lojas maçônicas. Anos depois, em documento escrito pelo então cardeal Joseph Ratzinger, que depois se tornaria o papa Bento 16, a Igreja Católica afirma que "os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão". Apesar disso, católicos maçons não mais são punidos com a excomunhão.
Já com os evangélicos, a história é um pouco diferente. Segundo Gerson Leite de Moraes, doutor em Ciências da Religião pela PUC-SP e professor do Mackenzie, protestantes e a maçonaria já foram muito próximos no Brasil. "Quando os primeiros protestantes chegaram ao Brasil, foram acolhidos pelos maçons porque a maçonaria os via como um grupo civilizatório, que poderia colaborar com o processo emancipador e de aprimoramento cultural, de ordem e de progresso", afirmou.
Como muitos protestantes e pastores eram membros de lojas, isso foi gerando um problema. Uma das causas do racha na Igreja Presbiteriana do Brasil que fez surgir a Igreja Presbiteriana Independente foi a maçonaria. Segundo Moraes, ao longo do século 20, os grupos evangélicos brasileiros incorporaram as críticas católicas. Com isso, associou-se a maçonaria ao satanismo, por exemplo.
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Quero receberAo fazer parte de uma organização tão secreta e cheia de ritos e símbolos, o maçom estaria impossibilitado de ser cristão. Hoje, na maioria das igrejas evangélicas, é pecado ser maçom. Mas, vale dizer, isso não é uma unanimidade.
Algumas denominações ainda estabelecem uma relação de respeito com a maçonaria, ainda que alertem para que seus membros não participem de qualquer organização que negue a fé cristã. É o caso, por exemplo, da Igreja Metodista.
Quem é maçom?
Personagens históricos passaram pela instituição, como o político Winston Churchill e os escritores Oscar Wilde, Rudyard Kipling e Arthur Conan Doyle. Quando se fala em Brasil, nomes como D. Pedro I, José Bonifácio, Gonçalves Lêdo, Luis Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Morais, Campos Salles, Rodrigues Alves, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Braz, Washington Luiz e Rui Barbosa integraram a organização.
O ex-vice-presidente da República, hoje senador eleito pelo Rio Grande do Sul, general Hamilton Mourão (Republicanos), é integrante do grupo. Em 2019, durante sessão solene no Congresso Nacional, disse que "a contribuição do maçom à vida pública, política e social vem de longa data e distintas geografias", como detalhou a Agência Senado. O ex-ministro do governo Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta, também é maçom.
A BBC aponta que em diferentes momentos históricos a maçonaria foi acusada de conspirar e influenciar os bastidores da política. De acordo com coluna de Rubens Valente, de 2020, parte importante da maçonaria apoiou a campanha de Jair Bolsonaro em 2018.
É fato que a maçonaria está presente na história do Brasil, inclusive já esteve no poder. O maçom Benjamim Constant abrigou em sua casa uma reunião que decidiu pelo fim do Império, em novembro de 1889. Estavam presentes Campos Sales, Prudente de Moraes, Silva Jardim, Rangel Pestana, Francisco Glicério, Ubaldino do Amaral, Aristides Lobo e Bernardino de Campos. Com o apoio de um militar respeitado, o também maçom Deodoro da Fonseca, eles deram o golpe final no regime que haviam ajudado a criar, segundo o Brasil Escola. Ali começava o período de três décadas de controle sobre os rumos do país. A ordem estava no auge do poder político. Esse cenário seguiu até 1930, quando Getúlio Vargas chegou à presidência.
*Com reportagem publicada em 04/10/2022
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