Atingida por linha com cerol: 'Minha esposa perdeu a vida por uma besteira'
A técnica de patologia Thaís Nunes Oliveira, 30, voltava para casa de moto quando foi atingida por uma linha com cerol, no Distrito Federal. Casada e mãe de um menino de dois anos, Thaís ficou internada por 37 dias, mas não resistiu aos ferimentos.
Ao UOL, o viúvo, Daniel Leles, 35, corretor de seguros, relatou como tem vivido após a tragédia.
O que aconteceu
A técnica de patologia foi atingida no pescoço quando deixava o plantão em uma UBS a 30 km do centro de Brasília, por volta das 19 horas. Após o acidente, ela foi levada a um hospital público da região em estado gravíssimo.
O dia dela estava muito alegre, aliás, a semana dela estava muito feliz. Thaís fez até um aniversário para o cachorro dela, que tanto amava. Estávamos juntos havia 11 anos e tínhamos muitos planos.
Daniel Leles
O marido recebeu a notícia do acidente pela mãe de Thaís. Ele ficou desesperado por já imaginar a gravidade da situação.
Os médicos sempre disseram que o quadro dela era gravíssimo, mas nos davam esperanças, pois ela era nova e vinha apresentando estabilidade. Foram 37 dias de muita angústia, orações, noites sem dormir e sofrimento. Sempre acreditei na cura da minha esposa, mas infelizmente isso não aconteceu.
A morte da técnica de patologia foi confirmada no dia 12 de março. Até o momento, ninguém foi preso. A família pretende entrar na Justiça.
Estamos todos desolados, sem chão. Ficou um vazio em nosso coração e a gente não estava preparado para esse momento, meu filho sempre pergunta pela mãe, não entende o que aconteceu. Não tem sido nada fácil conviver com essa dor. Queremos que o responsável seja preso, condenado e pague por isso. Minha esposa perdeu a vida por uma besteira.
Além da dor de perder o amor da minha vida, penso no meu filho que foi condenado a viver apenas dois anos com sua mãe.
Apreensões
O cerol é uma mistura perigosa e ilegal utilizada principalmente em linhas de pipas para torná-las mais cortantes. É feito a partir da combinação de cola com vidro moído, limalha de ferro ou outros materiais cortantes.
Quando aplicado na linha, o cerol aumenta o risco de acidentes graves, pois pode cortar a pele com facilidade, causando ferimentos profundos.
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Quero receberUm dia após o incidente com Thaís, a polícia apreendeu centenas de rolos de cerol e linha chilena em estabelecimentos próximos ao local. A ação foi parte das investigações do caso de Thaís. Foram confiscados mais de 1,8 mil rolos de linha chilena, o que representa milhares de metros desse produto irregular.
Responsável pode responder por homicídio
A morte de Thaís pode ser configurada como homicídio culposo ou até doloso, já que a pessoa que soltou a pipa com a linha cortante tinha ciência dos riscos, diz o delegado responsável pelas investigações, Petter Ranquetat.
Soltar pipa em qualquer situação por si só não configura crime, mas quem solta pipa com cerol ou qualquer dessas linhas cortantes, mesmo sem ter causado morte ou lesão, pode responder pelo crime de exposição a saúde de alguém a perigo, um crime de menor potencial ofensivo.
Petter Ranquetat
O delegado destaca a dificuldade de encontrar o autor do crime. "Identificar quem soltou a pipa é muito difícil. Quando a linha é cortada no ar, pode atingir grandes distâncias, como 100, 200 ou até 500 metros. A pipa cai, às vezes, em uma região bem distante de onde a pessoa estava."
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