Por que a família de Marielle quis evitar que a PF investigasse assassinato
A família de Marielle Franco quis evitar a federalização da investigação sobre a morte da vereadora durante o governo de Jair Bolsonaro.
Os suspeitos de serem mandantes do assassinato foram presos no domingo (24) após o caso ter sido investigado pela Polícia Federal, no início do governo Lula —entre os detidos está Rivaldo Barbosa, delegado da Polícia Civil do Rio à época.
O que disse a família à época
A família de Marielle publicou uma nota exigindo que o crime fosse apurado pelas autoridades do Rio de Janeiro, em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro. Na época, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, havia sugerido a federalização do caso.
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro obteve avanços importantes e, por isso, somos favoráveis a que a instituição permaneça responsável pela elucidação caso.
Nota da família de Marielle e do então deputado Marcelo Freixo
À época, a família argumentava que o ministro não tinha demonstrado interesse pelo caso, até ter aparecido o nome do então presidente Jair Bolsonaro no inquérito. "Moro contribuirá muito mais se ele permanecer afastado das apurações", dizia a nota. Ao mesmo tempo, Rivaldo Barbosa dizia que a Polícia Civil do Rio tinha condições de apurar o caso e demonstrava apoio à família.
A viúva de Marielle, Mônica Benício, também temia que um processo de federalização causasse atrasos nas investigações. Ela chegou a dizer, em setembro de 2019 ao jornal O Globo, que tinha medo de que a federalização produzisse o efeito totalmente contrário à intenção demonstrada pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, de agilizar a apuração do crime.
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) analisou um pedido da PGR (Procuradoria Geral da República), em 2020, que solicitava a federalização do caso, mas o pedido foi rejeitado, sob argumento de que "não é possível verificar desinteresse por parte das autoridades estaduais nas investigações para solucionar o crime". A família comemorou à época a decisão. Inclusive, enviaram carta ao STJ pedindo para que investigação continuasse no Rio de Janeiro.
A mãe de Marielle, Marinete da Silva, continuou sustentando que era contra a federalização mesmo após o início do governo Lula. Já Anielle Franco, irmã da vereadora assassinada e ministra da Igualdade Racial, passou a mostrar apoio à federalização.
A solução tem de partir do Rio de Janeiro. Foi lá que o crime aconteceu. O governo tem que dar uma resposta para mim, para a família, para a sociedade, para os eleitores da Marielle. Fui contra a federalização e fiz a campanha.
Marinete Silva, em entrevista à Agência Brasil, em março de 2023
As prisões
A PF entrou no caso oficialmente em fevereiro de 2023, quase cinco anos após o crime ter ocorrido, por determinação do então ministro Flávio Dino, que comandava a pasta de Justiça e Segurança Pública. Até então, o policial reformado Ronnie Lessa e o ex-policial Élcio Queiroz já estavam presos. A investigação, feita em parceria com o Ministério Público do Rio de Janeiro, foi concentrada em descobrir quem tinham sido os mandantes do crime.
Foram presos Domingos Brazão, que é conselheiro do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado), e seu irmão, o deputado Chiquinho Brazão (União-RJ), apontados como os mandantes do crime. As prisões foram realizadas no domingo.
Rivaldo Barbosa, delegado da Polícia Civil à época, também foi detido. Ele é suspeito de ter obstruído as investigações.
Rivaldo chegou a dizer para a família de Marielle em 2018 que "elucidaria o crime". "Ele falou para mim que isso era uma questão de honra para ele", disse Marinete da Silva, em entrevista à Globo News, no último domingo (24). Marinete ainda citou que sua filha conhecia Rivaldo e que confiava nele.
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