Favelizadas, capitais do Norte têm piores índices de saúde e saneamento

Capitais da região Norte, que têm as maiores taxas de moradia em favelas do país, também apresentam os piores indicadores de saúde e saneamento básico. A conclusão é do Mapa da Desigualdade entre as Capitais, divulgado nesta terça-feira (26).

O que aconteceu

O estudo aponta que Belém (PA) e Manaus (AM) são as capitais mais favelizadas do Brasil. Segundo dados de 2019, as cidades no Pará e no Amazonas são as únicas duas capitais do país em que mais da metade dos domicílios está em favelas: 55,49% em Belém e 53,38% em Manaus.

As regiões Norte e Nordeste concentram 8 das 10 capitais com maior proporção de favelas. Depois de Belém e Manaus aparecem Salvador (BA), com 41,83%, Vitória (ES), com 33,15%, e São Luís (MA), com 32,42%.

Todas as demais capitais têm menos de um quarto das moradias nessa condição. A favelização está abaixo de 20% nas capitais do Sul e não supera 10% em todas as do Centro-Oeste, que tem os melhores índices do mapa: Campo Grande (MS), com 1,45%, e Goiânia (GO), com 2,47%.

Capitais da região Norte estão nas últimas posições em saneamento básico. Porto Velho (RO) e Macapá (AP) são as duas capitais do país com menor cobertura de água e esgoto, e Belém também está entre as cinco piores capitais em ambos os quesitos, segundo dados de 2021.

A cobertura de esgoto em São Paulo, por exemplo, chega a ser até 20 vezes a de capitais do Norte. Enquanto a capital paulista tem 100% das casas atendidas pela coleta, essa taxa é de 17,12% em Belém (PA), 10,55% em Macapá (AP) e 5,8% em Porto Velho (RO).

O Mapa da Desigualdade comparou as 26 capitais estaduais em um conjunto de 40 indicadores sociais. Os dados, tirados de plataformas públicas como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e os ministérios da Saúde e da Educação, foram reunidos pelo ICS (Instituto Cidades Sustentáveis) pela primeira vez.

Comunidade em Manaus sofre sem transporte, escolas e postos de saúde

Manaus, que tem mais da metade das casas em favelas, abriga 6.000 famílias em um único bairro. As comunidades Coliseu 1, 2 e 3, na zona leste da cidade, são ocupações de terras da União pertencentes à Superintendência da Zona Franca.

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A aposentada Marlene Rocha de Jesus da Silva, 66, vive com o marido, o filho e o neto de 8 anos em uma pequena casa na comunidade Coliseu 3. A moradora relata ao UOL al falta de infraestrutura no local. "A gente não tem asfalto, não tem transporte, não tem escola, não tem posto de saúde", afirma.

A comunidade onde ela mora também não tem ligação à rede de esgoto. Apenas alguns poucos do local moradores têm fossa séptica.

A água de chuva e a água usada [banheiro, cozinha] vai para um córrego que passa aqui atrás em um terreno. É um sofrimento
Marlene Rocha de Jesus da Silva, que vivem em uma ocupação em Manaus

Falta de saneamento coincide com maus indicadores de saúde

Baixas taxas de saneamento, a região Norte também está nas últimas posições na saúde. As capitais da região estão nas três últimas posições nos índices de mortalidade infantil, idade média ao morrer e gravidez na adolescência, segundo dados do SUS reunidos pelo estudo.

A região Norte tem a maior incidência de doenças associadas ao saneamento. Com dados de 2022, o Mapa da Desigualdade aponta que a região tem as maiores taxas de internação hospitalar por 100 mil habitantes por problemas ligados às más condições sanitárias: 12,74 em Boa Vista (RR), 9,31 em Porto Velho (RO) e 7,10 em Manaus (AM).

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Os autores do estudo veem relação entre esses indicadores. Para Jorge Abrahão, coordenador-geral do ICS, as políticas públicas para as capitais do Norte precisam ser articuladas em conjunto, porque a persistência de um problema atrapalha a solução dos demais.

A relação entre falta de saneamento e problemas de saúde pode parecer óbvia, mas é importante deixar isso claro com os dados. Se você não resolve saneamento e habitação, como é que vai resolver a saúde? E se não tem essas três coisas, como vai dar às pessoas um ambiente que permita avançar em outras frentes, como saúde, emprego e educação?
Jorge Abrahão, coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis

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