'Nossa ilha acabou. Estou anestesiada', diz moradora às margens do Guaíba

O bairro do Arquipélago, região das ilhas, em Porto Alegre, é um dos mais afetados pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Moradora da Ilha do Pavão, Sandra Ferreira diz que a situação tende a piorar nas próximas horas, devido à subida histórica do nível do Guaíba.

Nossa ilha acabou. Faz dois meses que reformamos tudo e a água está tomando conta.
Sandra Ferreira, presidente da Associação dos Moradores da Ilha do Pavão

O que aconteceu

Sandra diz que o nível da água nas ruas da Ilha do Pavão já chega a cerca de 2,5 metros. "A água subiu. Agora, como está na avenida, tem correnteza", declara a moradora ao UOL.

"Estou anestesiada. Não estou acreditando no que está acontecendo aqui." Sandra conta que a água vem com força total. "Não se sabe se as casas vão ficar de pé".

A associação do bairro, o refeitório e os itens que compõem o local, tudo está perdido, relata. "É muito triste ver isso. Nosso posto de saúde, que fica onde é nosso centrinho, a água está na janela." As previsões de mais chuva preocupam a moradora, porque isso significa que a água subirá ainda mais.

Aqui, acabou tudo, se ficarem os prédios em pé, ainda tem chance de recomeçar, se não ficou, não sei o que dizer.

Ao menos 60 moradores da Ilha do Pavão foram resgatados por atletas de remo do Grêmio Náutico União. Eles foram levados para a casa de parentes e para a Usina do Gasômetro, no centro de Porto Alegre.

Pela manhã, Guaíba chegou a 3,7 metros, de acordo com medição do governo estadual. O nível foi registrado pela Sema (Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura) às 9h15. O Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estima que o nível possa chegar a 5 metros.

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Estação que mede nível do rio Guaíba apresentou problemas de leitura. Segundo a Defesa Civil do estado, o problema ocorreu no cais Mauá durante a madrugada e, por isso, os técnicos do Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento estão fazendo a medição do nível manualmente "in loco".

Eu moro às margens do rio, fui uma das primeiras a sair. Essa, sem dúvida, já é maior que a do ano passado. A água está subindo rápido, e os moradores estão em abrigos e em casa de parentes.

"Já estou rouca pedindo para que as pessoas saiam para lugar seco, mas não adianta." Sandra diz que, mesmo com todos os prognósticos negativos, há quem se negue a deixar a região. "Há pessoas acampadas na beira da rodovia, não tem quem consiga tirá-los de lá."

Rio Grande do Sul tem ao menos 38 mortos. Outras 74 pessoas estão desaparecidas, centenas estão ilhadas, e milhares, desabrigadas. Há 74 pessoas feridas também, conforme o boletim divulgado às 13h pela Defesa Civil do RS.

Ao todo, 235 dos 497 municípios gaúchos foram afetados pelas fortes chuvas que se estenderam desde o início da semana. Há 23, 5 mil pessoas desalojadas e 7.949 em abrigos. No ano passado, mais de 80 pessoas morreram no estado, vítimas de três enchentes e eventos menores.

Estado de calamidade pública. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), decretou estado de calamidade pública na noite de quarta (1º), com prazo de 180 dias. As chuvas e enchentes foram classificadas como desastres de nível 3, "caracterizados por danos e prejuízos elevados". Todo o estado foi colocado sob alerta de inundação ou inundação severa.

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Alerta da Defesa Civil do RS mostra risco de inundação ou inundação severa no estado todo
Alerta da Defesa Civil do RS mostra risco de inundação ou inundação severa no estado todo Imagem: Defesa Civil do RS

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