'Tanta brutalidade', diz mãe de bebê que levou puxão de padre em batismo

Após a repercussão de um vídeo que mostra o momento em que um padre puxa o pescoço de uma bebê de um ano durante uma cerimônia de batismo realizada no último sábado (25), em São Sebastião do Alto (RJ), a mãe da criança afirmou que a atitude do religioso foi motivada por preconceito contra a sua filha.

Até um tempo atrás acreditaria que era falta de empatia, paciência, amor ao próximo, mas, infelizmente, percebi que, dos três batizados [que o padre realizou no mesmo dia], só a minha filha foi tratada assim. Então, me deixa a dúvida do porquê dessa atitude somente com ela. [...] Acredito que houve preconceito em relação a minha filha. Juliane Caetano Ramos, mãe da criança

Ao UOL, Juliane contou que o batismo de sua filha foi o último das cerimônias que acompanhou naquele sábado e que, em nenhuma das outras, houve relato de excesso por parte do padre Ricardo Pinheiro Schueller, responsável pelos batizados. Questionada se, para ela, o caso se tratou de racismo, a mãe afirmou: "Acho que houve preconceito, mas quem vai classificar será a Justiça".

Nesta quarta-feira (29), quatro dias após o ocorrido, a Diocese de Nova Friburgo, responsável pela paróquia de São Sebastião do Alto, na região serrana do Rio de Janeiro, anunciou o afastamento do pároco envolvido no episódio.

O que aconteceu

Um vídeo registrado por uma familiar de Juliane durante a cerimônia religiosa mostra a mãe segurando a filha de um ano nos braços em direção à pia batismal, enquanto o padre joga água sobre a cabeça da bebê, que chorava muito.

Naquele dia, ela estava doente, enjoada, só ficava comigo, relatou Juliane.

Em seguida, a criança se agitou e foi afastada do pároco pela mãe, quando ele puxou a bebê de forma brusca pelo pescoço e a empurrou para baixo, em direção à pia, para seguir com o ritual.

Foi logo em seguida que a levantei da primeira vez para ajeitar a tiara e acalmar ela, tirei ela e me afastei, quando o pároco agarrou no pescoço da minha filha e puxou com tanta brutalidade que me arrastou junto. Só consegui segurar minha filha para ela não bater a cabeça na pia batismal. Depois disso, não tive reação, não acreditava no que tinha acontecido.

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Na sequência, o vídeo mostra que Juliane retirou o braço do religioso do pescoço da filha, antes dele dizer: "Agora foi. Pronto. Graças a Deus" e pedir para tirar "uma foto bonita" com a família.

'Perdeu a paciência'

Após o batismo, Juliane conta que procurou o padre para entender o motivo do seu comportamento, que foi justificado por ele como uma reação à atitude da própria criança.

"Fui até o pároco para entender o porquê do ocorrido e ele, a todo momento, tentou me convencer que teve de ser assim devido ao comportamento da minha filha, porque 'perdeu a paciência', nas palavras dele. Pediu [desculpas] com essa justificativa, demonstrando que não estava arrependido", relatou.

Um dia após o episódio, a Paróquia de São Sebastião do Alto e a Diocese de Nova Friburgo divulgaram uma nota em suas redes sociais com um pedido de desculpas assinado pelo padre Ricardo Pinheiro Schueller.

Movido pelo espírito de Concórdia e de paz, quero pedir perdão a todos os que se sentiram entristecidos por minha atitude no dia de ontem, 25/05, na paróquia de São Sebastião. Reconheço minha falta de caridade com a família, a criança e os convidados. Trecho de nota divulgada pelas instituições religiosas

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O comunicado seguiu: "Ao término do batismo, a família entrou em contato comigo na sacristia. Pude pedir perdão pelo ocorrido, embora não tenha sido intencional. (...) Conto com a compreensão e orações de todos! A vida é um aprendizado e em todas as ocasiões Deus quer nos santificar e nos purificar".

Após a publicação da nota, na última terça-feira (28), Juliane divulgou em suas redes sociais o seguinte relato:

"Eu, como mãe da pequena [nome omitido pela reportagem para preservar a criança], acredito que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos e não apenas por palavras, vem do coração, é sincero, generoso e não fere o amor-próprio do próximo. A dita humildade do pároco em nenhum momento chegou à minha família [...]. Eu, ao procurá-lo e conversar com o próprio, [ele] tentou a todo momento me convencer de que o erro foi causado pelo comportamento da minha filha, isso não me demonstra um perdão sincero. Minha filha tem apenas um ano, não responde por si, era um momento especial, a iniciação na sua vida católica que acabou gerando lembranças ruins para todos nós".

Ao UOL, a mãe completou: "Essa atitude vai contra tudo o que eu acredito. Como um ser escolhido para espalhar a palavra de Deus tem uma atitude abominável assim? Sei que o ser humano é falho, mas um representante da palavra do Senhor jamais poderia errar assim".

Padre afastado e encaminhado a 'retiro espiritual'

Nesta quarta-feira, a Diocese de Nova Friburgo divulgou uma nova nota em nome do Bispo diocesano Dom Luiz Antonio Lopes Ricci, na qual anuncia o afastamento temporário do padre Ricardo Pinheiro Schueller do ofício de administrador paroquial da Paróquia de São Sebastião.

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O texto informa ainda que a decisão foi para atender "prudentemente às necessidades da paróquia" e que o pároco irá para um "retiro de direção espiritual, com a restrição da celebração pública da missa, celebrando apenas reservadamente".

Segundo a mãe da criança, um boletim de ocorrência foi registrado contra o religioso e novas medidas estão sendo avaliadas pela família. "Meu intuito é proteger minha filha e ter justiça para ela, pois não mereceu passar por isso, ninguém merece. Sinto que a Justiça está começando a ser feita", concluiu.

A reportagem procurou o padre Ricardo Pinheiro Schueller por meio da Diocese de Nova Friburgo e da secretaria da Paróquia de São Sebastião, mas foi informada que o religioso já não se encontra na paróquia e que não teriam outro contato dele para disponibilizar.

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