Caso Cobasi: Gerente orientou vendedores a não agirem antes da enchente

Uma gerente da Cobasi orientou que funcionários não agissem para retirar os animais das lojas durante as chuvas que atingiram Porto Alegre, segundo investigação da polícia. Em nota, a Cobasi disse que a equipe foi surpreendida pelas enchentes.

O que aconteceu

Polícia diz que gerente regional da Cobasi impediu que funcionários salvassem animais antes da água invadir a loja. "Temos vídeos da gerente saindo do shopping às 20h. Ela olha para o estacionamento e vê a água subindo, mas fecha a loja", afirmou a delegada Samieh Saleh.

Delegada diz que alegação de que não se sabia sobre risco de inundações "não cabe". "A gerente regional estava aqui no início das enchentes e presenciou o nível da água, a situação em Porto Alegre, inclusive teve dificuldades para voltar para São Paulo", afirmou Samieh. "Todo mundo tinha conhecimento de que ia alagar".

175 animais que estavam à venda morreram em loja subsolo de um shopping de Porto Alegre. Todos estavam em gaiolas ou aquários e não tiveram chance de fugir. A polícia encontrou apenas 38 corpos de peixeis, roedores e aves.

Um pássaro e vários peixes também morreram em uma loja da Cobasi na Avenida Ipiranga. A água não atingiu os animais, que estavam no segundo andar, mas eles estavam em condições insalubres, diz a polícia. "Eles estavam sem luz, um odor absurdo, que fizeram com que esses animais viessem a óbito. Vídeos de voluntários mostram peixes buscando oxigênio fora do aquário porque as bombas não estavam ligadas".

Sete funcionários foram indiciados por maus-tratos, previsto na Lei de Crimes Ambientais. A matriz da Cobasi, que fica em São Paulo, e uma filial também foram indiciadas. A pena pode ser de três meses a um ano de prisão e multa.

O advogado da Cobasi, Paulo da Cunha Bueno, diz que a empresa vê com "indignação" a possibilidade da polícia indiciar seus funcionários. Ele diz que a equipe foi surpreendida pelas chuvas, "um evento da natureza de proporções imponderáveis, estado de coisas que, por si só, já tornaria incogitável que a causa da morte dos animais da loja possa ser distorcida para uma acusação de crime doloso que demandaria, inclusive, requintes de crueldade em sua configuração".

A defesa também diz que a administração do shopping Praia de Belas proibiu a entrada de seus funcionários na loja inundada "ao mesmo tempo em que emitia repetidos comunicados aos lojistas, informando-os que a situação encontrava-se administrada".

Corpos dos animais retirados da loja
Corpos dos animais retirados da loja Imagem: Reprodução/Polícia Civil
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Cobasi guardou PCs no mezanino

Os computadores do petshop Cobasi, em Porto Alegre, foram guardados no mezanino para evitar que a água os atingisse, enquanto os animais foram deixados no subsolo. A informação foi dada pela delegada Samieh Saleh, em entrevista ao UOL no mês passado.

O mezanino não foi atingido pela enchente. "Identificamos que os computadores, CPUs que estavam nos caixas no subsolo foram retirados e colocados no mezanino. Eles tiveram esse cuidado em retirar os eletrônicos, mas os animais ficaram embaixo", disse Samieh.

Cobasi se posiciona

Por meio de nota, a Cobasi reforçou que a loja teve que ser evacuada de forma emergencial. Segundo o comunicado, tudo foi colocado acima de um metro de altura do salão no dia 3. Porém, a água na noite do dia 4 e na madrugada do dia 5 chegou aos 3,5 metros de altura, ultrapassando a barreira de sacos de areia colocada na porta da unidade.

A empresa ainda diz que quatro CPUs foram levadas ao andar superior porque estavam a 20 centímetros do chão. "Porém todos os outros equipamentos relacionados aos checkouts permaneceram em suas posições originais (acima de 1 metro de altura) tais como: monitores, teclados, impressoras de cupom fiscal, teclados pin pad (para cartões de crédito/débito) e leitores de código de barras dos produtos". Os equipamentos não removidos foram danificados, afirma a loja.

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A gerência da unidade entendeu que não havia risco de inundação porque a água estava estabilizada às 18h30 do dia 4, segundo relato de um funcionário do shopping, diz o comunicado. "Todo este relato acima será confirmado e provado nos autos".

A Cobasi lamentou a morte dos animais e ressaltou que não havia cães ou gatos no local. "A Cobasi lamenta profundamente o ocorrido. A empresa ressalta ainda que está colaborando com as investigações realizadas pelas autoridades e que irá comprovar todas as informações relatadas acima nos autos".

O Shopping Praia de Belas, onde a loja está localizada, disse que comunicou a Cobasi em relação ao risco de "alagamento severo". O shopping ainda afirma que ofereceu toda assistência necessária para acesso ao local.

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