'Confiei, apostei e me iludi': fã processa Deolane após perder R$ 322 mil

A servidora Arianny Rosa Pereira, 31, afirma ter perdido R$ 322.750 em um site de apostas. Ela resolveu processar os influenciadores Deolane Bezerra, Virginia Fonseca e Carlinhos Maia por, segundo ela, terem incentivado as apostas em suas redes sociais.

A ação judicial, que pede reparação de R$ 1,1 milhão, foi aberta no Tribunal de Justiça de Goiás pouco antes de Deolane ser presa por suspeita de envolvimento em lavagem de dinheiro e promoção de jogos ilegais.

"Eles apostavam e mostravam seus ganhos. Isso me iludiu, fazendo com que eu acreditasse que poderia acontecer o mesmo comigo", disse. Ao UOL, Arianny conta sua história.

'Recebi dinheiro e resolvi apostar'

"Tudo começou em setembro do ano passado, quando eu estava de férias. Em casa, mexendo no Instagram, me deparei com as postagens e stories de influenciadores jogando e ganhando dinheiro.

Vi primeiro pela página da Virginia Fonseca e, depois, com a Deolane Bezerra e o Carlinhos Maia, que apostavam e mostravam seus ganhos. Isso me iludiu, fazendo com que eu acreditasse que poderia acontecer o mesmo comigo.

Eu tinha recebido um dinheiro das minhas férias e decidi apostar.
Arianny Pereira

Estava passando por um momento difícil: tinha perdido uma tia querida e estava com depressão. Além disso, tive problemas com a minha mãe e havia saído de casa. Estava frágil e acabei sendo enganada.

Prints da divulgação dos jogos feita por Deolane e outros influenciadores foram acrescentados ao processo
Prints da divulgação dos jogos feita por Deolane e outros influenciadores foram acrescentados ao processo Imagem: Arquivo pessoal
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Entrei no site Esportes da Sorte [também investigado na operação da Polícia Civil de Pernambuco] por causa das influências de pessoas como a Deolane, que é advogada, Virginia e Carlinhos Maia. Como eles são figuras públicas de credibilidade, confiei e fui iludida.

Comecei a perder o dinheiro rapidamente, mas segui apostando, tentando recuperar o que já tinha perdido.
Arianny Pereira

'Dinheiro seria para tratamento'

Para pagar minhas contas, tirei um dinheiro que meu pai tinha aplicado: era de uma herança que ele havia conseguido depois de muito esforço, e seria usado para seu tratamento, já que ele tem problemas cardíacos.

Na tentativa de recuperar o que já tinha perdido, tirei esse dinheiro da aplicação e perdi tudo.

Tentei entrar em contato com o pessoal da Esportes da Sorte e com a Deolane, mas ninguém me respondeu. Isso me abalou profundamente. Eu estava num momento frágil e nem sabia o que estava fazendo.

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'Fiquei internada e até tentei suicídio'

Essa situação destruiu minha vida e a da minha família. Minha relação com meu pai também foi gravemente afetada.

Eu perdi todo o dinheiro que tinha e o dele também: perdi tudo [R$ 322 mil]. Fiz empréstimos, financiei um carro para conseguir pagar as contas e evitar perder nossa casa.

Depois disso, tive problemas psicológicos, fiquei internada e até tentei suicídio. É muito difícil falar sobre isso.

Desde então, não consigo dormir, só com remédios. Faço tratamento, mas essa situação ainda me afeta profundamente e ninguém sabe o que estou passando, só minha família.

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Enquanto isso, vejo outras pessoas aproveitando e vivendo luxuosamente às nossas custas e isso tem de acabar.

'Não sou viciada, foi uma armadilha'

Arianny conta que entrou em depressão após perder R$ 322 mil com apostas
Arianny conta que entrou em depressão após perder R$ 322 mil com apostas Imagem: Arquivo pessoal

Hoje vejo que muitas pessoas estão passando por algo semelhante, por isso é necessário que algo seja feito para parar essa divulgação enganosa.

Se é ilegal, não deveria acontecer livremente no nosso país. Por isso entrei com essa ação [na Justiça], para tentar reaver o que perdi.

Não sou viciada em jogo: o que aconteceu foi uma ilusão e uma armadilha. As pessoas julgam, acham que você é viciada, mas isso não é verdade. Fui enganada, e agora estou tentando reaver meu dinheiro e meus direitos."

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Ação é pioneira, diz advogado

Este pode ser o primeiro processo do país que visa a responsabilizar influenciadores por perdas em apostas. O advogado de Arianny, Cícero Goulart, disse não ter conhecimento de outras ações do tipo. A tese desenvolvida pelo escritório busca responsabilizar tanto as plataformas de apostas quanto os influenciadores digitais.

Arianny perdeu R$ 322.750, incluindo uma herança destinada ao tratamento de seu pai. O advogado explicou que a cliente usou o dinheiro das férias e da herança do pai, que tem problemas cardíacos. Agora, eles pedem a restituição do valor perdido e uma indenização de R$ 800 mil por danos morais.

Segundo Cícero, muitos apostadores são levados a acreditar em lucros fáceis devido à credibilidade que os influenciadores, como Deolane Bezerra, têm entre seus seguidores. Para ele, esses influenciadores induzem os apostadores a arriscarem quantias significativas, levando a perdas devastadoras.

Cícero questiona a transparência dos ganhos divulgados pelos influenciadores. Ele acredita que os influenciadores deveriam provar que realmente ganham nas apostas e que os valores mostrados não são manipulados para enganar o público. Segundo o advogado, a falta de transparência alimenta um ciclo de falsas expectativas e prejuízos.

O advogado também aponta falhas no controle social das plataformas de apostas. E levanta a questão de regulação das plataformas de apostas para impedir que crianças, idosos e pessoas vulneráveis acessem seus serviços. Para ele, a ausência de um sistema eficaz de controle coloca em risco diversas famílias que não têm os meios para se proteger.

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Este processo pode abrir precedentes para outras ações contra influenciadores. Cícero acredita que o caso de Arianny servirá como base para futuras ações de apostadores que sofreram perdas semelhantes.

O UOL buscou as assessorias de Deolane Bezerra, Virginia Fonseca, Carlinhos Maia e da Esportes da Sorte, mas não teve retorno. O espaço segue aberto.

Procure ajuda

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida) e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

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