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Brasil tem em média 27 políticos eleitos ou candidatos assassinados por ano

Manifestação na Câmara dos Deputados em homenagem a Marielle Franco - Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Manifestação na Câmara dos Deputados em homenagem a Marielle Franco Imagem: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

24/09/2020 04h00

O Brasil registrou ao menos 125 casos de assassinatos e atentados contra políticos eleitos, candidatos e pré-candidatos nos últimos quatro anos e oito meses, o que corresponde a uma média de 27 casos por ano. Ao todo, foram 327 casos de violência política no país desde 2016. O levantamento foi feito pelas organizações Terra de Direitos e Justiça Global.

Segundo o documento, que foi entregue ao Conselho Nacional de Direitos Humanos, os casos de violência direcionados a políticos e candidatos vem crescendo nos últimos anos, registrando um salto desde as eleições de 2018. Nos últimos quatro anos, 2019 registrou o maior número de assassinatos, com 32 casos. Mas, até 1º de setembro deste ano, o país já tinha 27 assassinatos e atentados.

Apesar de compor a lista como o ano com menos registros de assassinatos, em 2018 a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes foram mortos após nove tiros terem sido disparados contra o veículo em que estavam. Ronnie Lessa e Elcio Queiroz foram identificados como autores do crime, mas ainda não se sabe quem foi o mandante do assassinato.

As organizações mapearam os casos de violência política a partir de notícias na imprensa de 1º de janeiro de 2016 a 1º de setembro deste ano. Nesse período foram identificados casos de assassinatos, ameaças, agressões, ofensas, invasões e prisão ou tentativa de detenção de agentes públicos.

  • Assassinatos e atentados: 125;
  • Ameaças: 85;
  • Agressões: 33;
  • Ofensas: 59;
  • Invasões: 21;
  • Casos de prisão ou tentativa de detenção de agentes políticos: 4;
  • Total de casos de violência política: 327.

O levantamento ainda mostrou que os casos de violência aumentam entre políticos da esfera municipal, caso da eleição que ocorre em novembro. Segundo o estudo, 92% das vítimas de atentados e assassinatos eram vereadores, prefeitos ou vice-prefeitos, eleitos ou candidatos. Os 8% restantes eram candidatos a deputados estaduais e governadores, além de deputados federais, estaduais e senadores eleitos.

Até 1º de setembro, pelo menos dois vereadores, prefeitos ou vice-prefeitos eleitos, pré-candidatos ou candidatos foram assassinados por mês. Em 63% dos casos, não foi possível identificar o suspeito.

Um levantamento feito pelo UOL no ano passado mostrou que, desde a última eleição municipal, em 2016, ao menos dez prefeitos foram assassinados no país. Dois, em uma mesma semana, em Granjeiro (CE) e em Ribeirão Bonito (SP).

Os homens são as maiores vítimas de assassinatos e agressões. No entanto, as políticas e candidatas mulheres são mais afetadas por ofensas (76%).

"Enquanto para os homens a manifestação da violência é diretamente contra os corpos, nas mulheres que almejam ou ocupam cargos eletivos a violência intenciona o não reconhecimento como uma agente política. Em 90% dos casos de trata-se de ameaças e ofensas", destaca o documento.

Quando a avaliação é sobre quem comete as ofensas, os homens são os principais autores. Eles respondem por 93% das situações ofensivas, enquanto 7% foram praticadas por mulheres.

A publicação também ressalta que as mulheres sofreram 2,4 vezes mais ameaças que homens nas Casas Legislativas de todas as esferas. "A proporção média de mulheres representantes é de aproximadamente 13%. Nos casos levantados pela pesquisa, as mulheres sofreram 31% dos casos de ameaça", aponta o documento.

Mais da metade dos casos de ameaças foram registrados em capitais ou regiões metropolitanas, em especial do Sudeste (35%). Mas o maior número nessa região pode ser resultado de políticos dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro terem "mais oportunidade de utilizar os meios de comunicação para visibilizar as situações de ameaças".

O Rio, no entanto, possui um histórico de violências contra políticos que vão desde vice-prefeita carbonizada, a um vereador assassinado com a mãe e um parlamentar alvejado e morto dentro do estacionamento da Câmara Municipal.

A última vítima no estado foi a pré-candidata a vereadora pelo PSB Sandra Silva, conhecida como Tia Sandra, encontrada morta em um rio no município de Magé no último dia 1º de setembro. Três políticos já foram alvejados até a morte na Baixada Fluminense apenas neste ano.

As invasões ocorreram majoritariamente neste ano (80%) e se referem à entrada forçada em escolas e hospitais. Também foram constatadas invasões a eventos virtuais de pré-candidatos.

Nos quatro casos registrados de prisões ou tentativa de detenção, foram registradas denúncias de racismo, repressão à liberdade de expressão e perseguição da relação de agentes políticos com movimentos sociais.