Entre cautela e isolamento contra covid, candidatos idosos mudam campanha
A campanha eleitoral começa oficialmente hoje com o país ainda registrando centenas de novas mortes por dia em razão do novo coronavírus. Com o risco de contaminação ainda presente e sem uma vacina no Brasil contra a covid-19, candidatos idosos, que fazem parte do grupo de risco, fizeram adaptações para participar da campanha na capital paulista.
Eles se dividem entre os que vão continuar indo às ruas, mas com uma cautela maior, e os que pedirão votos a partir de suas casas.
Nesse segundo grupo estão nomes como o do vereador Eduardo Suplicy (PT), candidato à reeleição. Aos 79 anos de idade, desde março, ele só sai de casa para praticar exercícios físicos e fica em isolamento o resto do tempo. Isolado, mas não incomunicável. "Estou procurando ficar na minha residência e me dispondo a fazer gravações, diálogos, muitos por dia. E agora também em campanha."
Nos últimos três meses, ele diz já ter participado de mais de 270 diálogos ao vivo pela internet, que tem temas que vão da renda básica de cidadania, sua bandeira histórica, ao apoio a outras candidaturas. "Três, quatro, cinco por dia. No final de semana, faço um pouco menos", diz. "Nessa circunstância será mais digital." Neste domingo, ele lançará sua campanha em uma reunião virtual no final da tarde.
Claro que a campanha na rua é também muito importante. Quem sabe até novembro possamos realizá-la. Mas, tendo em vista essas limitações, que, do ponto de vista da saúde, são importantes, acho que as pessoas estão compreendendo
Eduardo Suplicy, vereador pelo PT na capital paulista e candidato à reeleição
Tentação
Quem também não deverá sair de casa para pedir votos é a deputada federal Luiza Erundina (PSOL), de 85 anos de idade e que fará aniversário em novembro. Ela é candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada por Guilherme Boulos (PSOL).
"Não é medo [do coronavírus], é que eu tenho responsabilidade", diz. Erundina aponta que seu comportamento tem impacto sobre as pessoas. "O que eu fizer, de uma certa forma, tem uma influência positiva ou negativa. Imagine se eu fizesse 1% do que faz o [presidente Jair] Bolsonaro em relação à pandemia, se eu saísse por aí sem máscara. Isso é um mau exemplo, um mau testemunho, e também pela minha vida."
Ela também diz que, se a Câmara dos Deputados liberou os parlamentares de estarem em Brasília, a lógica é que ela não saia de casa. "Se eu posso me expor no público, eu tenho que estar presencialmente na Câmara."
Mesmo assim, diz que já teve vontade de participar de alguns momentos da pré-campanha. "Não fui na convenção, que era em espaço aberto, na periferia. Eu fui tentada a ir, mas o PSOL não me deixou ir."
Assim como Erundina, Suplicy diz não ter medo da covid-19. "Só tenho preocupação de me cuidar. Medo não tenho. Eu tenho procurado me resguardar para atender as solicitações, as recomendações da área da saúde."
A maior preocupação do vereador é quanto à propagação de notícias falsas nas redes sociais, que teria afetado sua campanha para o Senado em 2018. "Eu preciso tomar muito cuidado com esse tipo de procedimento, que não é fácil de detectar. Nesta campanha, estou mais atento para prevenir esse tipo de problema que me impediu de me tornar senador outra vez, foi gravíssimo."
Campanha na garagem
Outros candidatos devem apostar em agendas de ruas, mas com algumas diferenças em relação a campanhas passadas. O médico e vereador Paulo Frange (PTB), 68, candidato à reeleição, não irá a grandes reuniões públicas, mas deve fazer visitas a eleitores fiéis. "As agendas são bem curtas. Não estamos fazendo agendas novas, para entrar em algum debate, como nós já fizemos. Nós estamos visitando exatamente as nossas pessoas que já participaram conosco em outras eleições, que já nos conhecem, sabem quem é."
Nas visitas, Frange diz que não irá entrar nas casas de seus eleitores. "Temos feito reuniões nas garagens, do lado de fora das casas."
A dinâmica funcionará com um membro da equipe de Frange chegando ao local antes do vereador e avisando a respeito de medidas de segurança para o encontro. "Em lugar nenhum estamos fazendo com mais de 15, 20 pessoas. E todas elas externas, nada de ambiente fechado. Em nenhum lugar com ar-condicionado", diz.
São reuniões de família mesmo. E um de nós sempre está com álcool 70% e pulveriza a mão de todo mundo. Acaba que é uma forma também de você orientar
Paulo Frange, vereador pelo PTB na capital paulista e candidato à reeleição
Para ele, por ser médico, as pessoas respeitam mais as orientações de prevenção à covid-19. "Aquele camarada que tem resistência a usar máscara, ele te respeita e, pelo menos perto de você, fica de máscara."
Sem "luxo" de só virtual
A enfermeira Rita de Cássia (PDT), 69, vai tentar vencer sua primeira eleição na disputa por uma vaga na Câmara Municipal. E, para isso, pretende fazer pelo menos uma agenda de rua por dia até a eleição. "Eu saio preparada. Já com álcool em gel na bolsa, de máscara. E não fico muito perto das pessoas. Porque não tem muito o que fazer, né? Essa é a prevenção. Não tem vacina, não tem nada."
Ela descartou fazer uma campanha totalmente digital por ainda ser uma pessoa desconhecida do eleitorado. Mas a intenção é fazer com que o encontro presencial leve o eleitor para o ambiente virtual. Para ela, só candidatos conhecidos podem se dar o "luxo" de abrir mão de campanha presencial. "Eu não. Eu não sou conhecida."
"Só vou no que eu tenho"
O vereador Adilson Amadeu (DEM) vai completar 70 anos no dia da eleição, em 15 de novembro. Mesmo fazendo parte do grupo de risco, ele diz que não abandonou sua rotina na pandemia. "Eu vim todos os dias na Câmara Municipal e onde tinha condição. Lógico, com máscara, álcool em gel na mão e distanciamento", diz. "Mas fiz minha rotina praticamente normal. Minha vida tentei fazer dentro da rotina permitida."
Assim como Frange, Amadeu diz que evitará reuniões e apostará em encontros com eleitores que já o apoiam. "Não adianta eu ficar reunindo 20, 30 pessoas para pedir voto. Eu prefiro passar uma mensagem."
Só vou no que eu tenho. E bem de longe, falando com todo mundo, de máscara
Adilson Amadeu, vereador pelo DEM na capital paulista e candidato à reeleição
Ele também diz contar com a campanha boca a boca de taxistas, seu "carro-chefe", como diz o despachante. "É [a campanha] pessoal com cautela. Acho que o negócio caseiro, falando com as famílias, amigos, empresários, passando a verdade do seu trabalho... Essa campanha é corrente positiva."
Bom evitar
Para o infectologista do Hospital das Clínicas Evaldo Stanislau, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, "cada candidato deve avaliar qual a melhor estratégia".
"Porém, tendo em vista que recomendamos evitar aglomerações —e a presença de um candidato é um fator de aglomeração—, minha opinião é que qualquer atividade pública seja feita de forma planejada e segura. Ou seja, caminhadas, comícios e outras ações populistas deveriam ser evitadas ao bem do próprio público, e não do candidato", diz.
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