Suspeito de mortes em evento político é PM na PB e fazia bico de segurança
O homem apontado como autor dos assassinatos de dois irmãos na comunidade Cuité das Bocas, localizada na zona rural do município de Pedro Velho (RN), foi identificado pelos familiares das vítimas como sendo um policial militar natural do município, mas lotado na Paraíba, e que estaria fazendo "bico" como segurança do candidato a prefeito Junior Balada (DEM) na última segunda-feira (5). Até agora, nenhum suspeito do crime foi preso.
Segundo familiares de Adailson da Silva Teixeira, 51, e Gilson Marques Teixeira, 43, eles foram assassinados a tiros, sendo um deles atingido com um tiro nas costas, deflagrados por arma que pertence ao governo da Paraíba.
O autor seria um policial militar que passou em concurso recentemente. O suspeito do crime teria sido ferido com um tiro deflagrado por outro segurança durante o tumulto. O pronto-socorro Clovis Sarinho, em Natal, para onde o policial teria sido socorrido não confirmou a entrada dele na unidade hospitalar.
O vereador e candidato a reeleição Marcos Teixeira (Pros) afirmou, em entrevista à TV Ponta Negra, que a arma foi apreendida pela polícia e logo foi identificada como pertencente ao governo da Paraíba. Teixeira disse ainda que o suspeito de assassinar os dois primos dele é policial militar com menos de dois anos de atuação e que "não tem experiência e fazia segurança de modo irregular."
"Como é que um rapaz com menos de dois anos na Polícia Militar vai ter experiência em um evento? Tanto que um segurança atirou no outro no meio do tumulto. Além disso, policial não pode fazer bico, é ilegal", afirmou Teixeira, que é sargento da Polícia Militar do Rio Grande do Norte.
O vereador afirmou, por meio de nota, que "há várias versões, mas até aqui todas as que vi e ouvi têm cunho politiqueiro". "Observem vidas humanas, pais de família, jovens trabalhadores que mesmo que um deles tenha promovido algum bate-boca, tem por trás uma família inteira. De uma avó com 96 anos a uma mãe com 78 anos até uma filha recém-nascida", disse Teixeira, afirmando que nada justifica o assassinato dos primos.
O vereador disse ainda que o assassinato dos primos dele foi um crime premeditado e que nada justifica terem tirado a vida deles. Teixeira voltou a afirmar que os seguranças do candidato não têm preparo para a função, tanto que se feriram atirando um contra o outro durante o tumulto.
"Foi execução pelas costas, sem direito de defesa, se perfilaram e aguardaram o momento para a desgraça. Despreparados se feriram entre si. Na saga de ceifar a vida de inocentes, se atingiram mutuamente, pois isso já está provado", completou. O vereador afirmou que a família pede justiça ao caso dentro da legalidade "porque não temos e nunca tivemos e nunca teremos vocação para o crime".
O UOL identificou o suspeito do assassinato na lista de aprovados do concurso da Polícia Militar da Paraíba ocorrido em 2018. Ele é lotado na 7ª Companhia Independente da Polícia Militar, localizada em Solânea (PB), a 82 km de Pedro Velho (RN).
Em redes sociais, Paulo Henrique Costa tem fotos com a farda da Polícia Militar da Paraíba segurando um fuzil e também durante o dia a dia em Pedro Velho, cidade onde nasceu. Em uma foto fardado, o policial colocou a seguinte legenda: "Deus proteja minhas costas porque o resto eu bato de frente". Na imagem, escreveu colocando ainda os símbolos de uma faca e de uma caveira.
O perfil do policial no Instagram era aberto, mas ontem ele ficou privado para que somente os seguidores dele tenham acesso as imagens. A reportagem entrou em contato com Costa, mas ele não retornou até a publicação deste texto.
Logo após saber que um colega da corporação seria um dos feridos no tiroteio ocorrido em Pedro Velho, policiais militares da Paraíba, usando um carro da corporação, estiveram no município e acompanharam os procedimentos na delegacia. O policial militar Paulo Henrique Costa teve o nome divulgado em uma nota do grupo Conexão Jovem, que faz parte da organização da campanha de Junior Balada.
O UOL ainda entrou em contato com a assessoria de Junior Balada para saber o porquê de o candidato estar sendo acompanhado por policial militar durante a caminhada política, mas ninguém atendeu às ligações e nem retornou até a publicação deste texto.
A Polícia Militar do Rio Grande do Norte disse que informações sobre o caso estarão a cargo da Polícia Civil. Procurada, a Degepol (Delegacia Geral de Polícia do Rio Grande do Norte) informou que as investigações ocorrem em sigilo. A delegacia de Polícia Civil de Pedro Velho apura o caso.
A reportagem também contatou a assessoria de imprensa da Polícia Militar da Paraíba para saber o motivo de um carro daquele estado estar em uma ocorrência do estado vizinho de forma não oficial, e também para saber se a corporação identificou o policial apontado como autor dos assassinatos, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
Reunião da Justiça com a segurança
Após tomar conhecimento dos atos de violência ocorridos em Pedro Velho, o Corregedor Regional Eleitoral, desembargador Claudio Santos, se reunirá com membros da segurança pública do Rio Grande do Norte, do Ministério Público Estadual e com a juíza responsável pela condução das eleições no município de Pedro Velho. A reunião deverá correr hoje, às 15h30, na sede da corregedoria, em Natal.
O Poder Judiciário e a Segurança Pública tratarão sobre medidas para conter o acirramento das eleições municipais em Pedro Velho, após os assassinatos de Adailson e Gilson Teixeira. "Os crimes estão sendo investigados pela polícia e há suspeitas de que as mortes tenham tido motivação política", disse o TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
Segundo o TRE, foram convidados a participar da reunião a juíza da 11ª zona eleitoral, Daniela Cosmo, que preside as eleições naquele município; o procurador regional eleitoral, Ronaldo Chaves; o secretário Estadual de Segurança Pública, coronel Araújo, e o comandante da Polícia Militar, coronel Alarico.
"Vamos ouvir da juíza os relatos sobre a situação de violência, sobre o que ela tem presenciado na campanha local, vamos ouvir a polícia e se necessário, tomar as devidas providências a respeito da política partidária em Pedro Velho", afirmou o desembargador Claudio Santos.
O caso e suas versões
Os irmãos Adailson da Silva Teixeira, 51, e Gilson Marques Teixeira, 43, foram mortos a tiros, e o suspeito dos dois assassinatos, o policial militar Paulo Henrique Costa, teria sido esfaqueado e levado um tiro. As mortes dos irmãos, segundo apoiadores do candidato a prefeito de Pedro Velho, Junior Balada (DEM), ocorreram porque os dois homens teriam ameaçado com uma faca o candidato, que estava realizando uma caminhada na comunidade Cuité das Bocas.
Após serem atingidos pelos tiros, as vítimas foram socorridas no Hospital Municipal de Pedro Velho, mas já chegaram sem vida. Segundo o hospital, Adailson foi atingido por um tiro nas costas. O irmão dele foi baleado na cabeça e no peito. O enterro dos corpos dos dois irmãos ocorreu no final da tarde de terça-feira (6), no cemitério de Pedro Velho.
Entretanto, familiares de Adailson e de Gilson Teixeira negaram que eles estivessem com faca e afirmaram que eles foram assassinados de forma covarde. Eles disseram que as vítimas estavam em uma estrada, distante da caminhada do candidato, quando tiveram o carro parado e revistado pelos seguranças de Junior Balada, ao contrário da versão do grupo do candidato.
"Após a revista, nada foi encontrado. Mas, mesmo assim, os seguranças do candidato continuaram a prender o carro dos meus primos e um deles se exaltou. Foi quando um segurança do candidato atirou para matar, pois atirou na cabeça e nas costas. Não justifica a reação com assassinato com o ato das vítimas, que são trabalhadores e nenhum tem histórico de envolvimento em confusão, briga, nada", relatou um parente dos irmãos assassinados.
A prefeita pediu segurança para o município e lamentou a morte dos dois moradores. "Peço segurança urgente para nossa Pedro Velho viver com tranquilidade. A nossa cidade não merece essa dor. Pedimos paz", disse Dejerlane Macedo (MDB).
A prefeita suspendeu as atividades políticas até que "haja segurança" durante a campanha eleitoral em Pedro Velho. A Prefeitura de Pedro Velho decretou luto de três dias em solidariedade à família das vítimas assassinadas.
Nas redes sociais, o grupo Jovens Pela Mudança, formado por jovens que apoiam Junior Balada, publicou uma foto da caminhada afirmando na legenda que o evento "foi lindo" e que é "mais uma comunidade que quer mudança pra cidade."
O grupo se manifestou nas redes sociais pedindo paz para o município. Em nota, o grupo relatou que muitos jovens participavam da caminhada pela primeira vez e que "estava fazendo política de forma limpa, pois queremos o melhor para Pedro Velho."
"Em momento algum, quisemos ou fomos atrás de confusão com alguém. Estávamos exercendo nosso direito político de pedir votos", diz o texto, enfatizando que torce que "justiça seja feita".
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