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Rejeitado por mulheres, Crivella escala vice e primeira-dama a orar por ele

Matheus Pichonelli

Colunista do UOL

03/11/2020 04h00

Com rejeição mais alta entre mulheres do que entre homens (64% contra 51% no último Datafolha), Marcelo Crivella (Republicanos) está disposto a desfazer a má impressão com o público feminino. Para isso está disposto a abrir o coração.

Foi o que anunciou na propaganda que levou à TV, na semana passada, ao lado da primeira-dama, Sylvia Jane.

No vídeo, ela faz sinal de concordância a tudo o que o marido afirma, enquanto ele admite que queria ter feito mais em sua gestão.

"Você não imagina a dureza que foi. Todo dia de madrugada ela orava pela gente", diz Crivella.

"E continuo orando, porque acredito no poder de Deus", completa ela, com um sorriso tímido e óculos escuros. O vídeo é curto, mas dá tempo de mostrar entrosamento quando o assunto é o slogan da campanha:

Ele: "Com Deus".

Ela: "Pela família".

Ele: "Pelo Rio".

Casais inteligentes recitam juntos, mas não só.

Sylvia Jane também tem aparecido nas redes sociais do prefeito. Em um vídeo recente, fez uma selfie com o presidente Jair Bolsonaro, principal cabo eleitoral do marido, pedindo um abraço ao "pessoal do pastel".

Na mesma semana, o prefeito abriu espaço em sua propaganda à candidata a vice em sua chapa, Andréa Firmo —que, ao menos dessa vez, tinha protagonismo e ocupava o centro da cena.

Em tom sério, Firmo disse ficar indignada quando vê ataques e agressões a mulheres, quando homens falam o que querem e usam palavras chulas (uma levantada de bola e tanto para alguém nas redes intercalar a fala com algum episódio envolvendo Bolsonaro, com quem Crivella lançará em breve um vídeo de apoio. O bate-boca com uma colega de Câmara e a gentileza com jornalistas e adversários estão disponíveis para aquela conferida no YouTube).

Na sequência, diz ser inadmissível que alguém com este perfil comande "nossa cidade". "Temos que manter o respeito às famílias e às nossas comunidades", afirma ela, antes de se apresentar como devota de Nossa Senhora, casada, mãe de dois filhos e integrante do Exército Brasileiro, com o qual se tornou a primeira mulher a comandar uma base de observadores militares em missão de paz da ONU na África. Fotos da missão surgem à cena como num PowerPoint.

Firmo fala na propaganda também que, ao ser convidada pelo atual prefeito, ficou acordado que ela não seria uma vice decorativa. "Mulher é sinônimo de força e garra. Somos capazes de vencer o ódio."

A propaganda foi veiculada diversas vezes na TV, inclusive no último sábado (31).

Quem também entrou na campanha para dar aquela força ao aliado foi a deputada Carla Zambelli, com quem Crivella gravou uma live. A dobradinha rendeu polêmica. Zambelli foi eleita e é (ainda) filiada ao PSL, com quem Bolsonaro rachou. E o PSL tem, ao menos oficialmente, outro candidato na disputa: o nadador Luiz Lima.

O fato é que, se dependesse das mulheres, Crivella estaria na quarta posição na disputa, segundo o Datafolha, com 9% das intenções de voto. Talvez estejam recentes ainda na memória declarações como a de que mulheres não entendem de futebol ou quando disse a uma juíza que ela tinha beleza de parar o trânsito.

Em busca pela reeleição, ele ficaria atrás de Martha Rocha (13%), Benedita da Silva (12%) e Eduardo Paes (30%) se só as mulheres votassem.

Resta saber se o espaço concedido à primeira-dama e à sua vice será suficiente para Crivella minimizar o sinal trocado implícito na parceria com o bolsonarismo.