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#MinhaCidadePrecisa: Em Salvador, educação concentra queixas de eleitores

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Vitor Pamplona

Colaboração para o UOL, em São Paulo

05/11/2020 04h00

A possibilidade de reabertura das escolas em meio à pandemia da covid-19 e a baixa qualidade da educação municipal são os temas mais preocupantes para os eleitores de Salvador durante a disputa pela prefeitura da cidade neste ano, aponta levantamento exclusivo do UOL em parceria com o Twitter.

As queixas relacionadas ao ensino municipal e à desvalorização dos docentes foram as mais recorrentes nos comentários e respostas enviados dentro do projeto #MinhaCidadePrecisa, que pede a usuários do Twitter para apontarem as maiores demandas das principais capitais brasileiras antes do primeiro turno das eleições 2020, que ocorre em 15 de novembro.

A rede social coletou opiniões de 14,6 mil moradores da capital baiana entre os dias 1º e 29 de outubro. Foram enviados 39,2 mil tuítes sobre os problemas da cidade —e os termos "professores" e "educação" foram os mais citados, respectivamente com 1.520 e 1.319 menções. O terceiro assunto mais comentado foi "pandemia", que apareceu 778 vezes.

"Esse resultado reflete a apreensão de pais, alunos e professores com a pressão dos governos municipal e estadual para uma volta às aulas sem vacina. Estamos convivendo todos os dias com ameaças do prefeito e do governador de reabrir as escolas de forma unilateral, com risco de aumentar a contaminação como tem ocorrido na Europa", diz Rui Oliveira, presidente da APLB-Sindicato, que representa os trabalhadores em educação na Bahia.

Para o dirigente, os decretos assinados em 30 de outubro pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e pelo governador do estado, Rui Costa (PT), que anteciparam para novembro as férias dos docentes e funcionários de escolas, provocaram uma "revolta muito grande" da categoria.

O temor é que as escolas sejam reabertas em dezembro, ainda sem a proteção de uma vacina contra o coronavírus. "Entramos na Justiça contra a medida e vamos convocar um plebiscito para ouvir os professores", afirma Oliveira.

Em sintonia com a decisão do governo estadual, a Prefeitura de Salvador alega que a decisão de antecipar as férias foi tomada por "não haver perspectiva de retorno em novembro", conforme disse na semana passada o prefeito ACM Neto (DEM). "A partir de dezembro, pode ser que haja alguma condição de ir retornando as coisas."

Quarta capital mais populosa do Brasil, com 2,9 milhões de habitantes, Salvador vem melhorando nos últimos anos alguns dos seus indicadores relacionados à educação pública municipal.

A mais recente Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), aponta que aumentaram a cobertura de creches para crianças de até 3 anos —a taxa passou de 36,1% em 2016 para 43,6% no ano passado— e a de pré-escolas para alunos de 4 a 5 anos —que evoluiu de 96,2% para 98,8% no mesmo período, colocando a cidade bem próxima da meta de universalizar o acesso à educação nessa faixa etária.

Mas a capital baiana ainda patina no indicador da qualidade: aparece na 16ª posição entre todas as capitais do país no ranking do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), embora tenha melhorado sua posição relativa na região: do sexto lugar entre as capitais do Nordeste que ocupava em 2011, passou atualmente para terceiro, atrás somente de Teresina (1ª no ranking geral) e Fortaleza (5ª).

Para muitas pessoas que participaram do levantamento no Twitter, a melhoria da qualidade da educação na rede municipal de Salvador depende da valorização da carreira de professor.

Durante a campanha deste ano, o candidato Bruno Reis (DEM), apoiado por ACM Neto e favorito na disputa de acordo com as pesquisas, tem apresentado a aprovação de um plano de cargos e salários para os professores em 2019 entre as conquistas da gestão.

No entanto, os representantes da categoria consideram o plano insuficiente.

Salvador é um desastre em termos de carreira, gestão e valorização profissional. Estamos há seis anos sem reajuste, sem gestão democrática, sem promoções.
Rui Oliveira, presidente do sindicato que representa os profissionais de educação na Bahia

O sindicato comandado por ele apresentou uma carta compromisso a todos os candidatos a prefeito, na qual os professores pedem a aprovação de um novo plano de carreira, entre outros pontos. Todos os concorrentes à prefeitura se assinaram a carta, diz Oliveira.

Outro tópico bastante comentado na rede social em meio às demandas dos professores da capital baiana são 1.190 professores aprovados em concurso, mas que não foram convocados a assumir os cargos por ACM Neto. Em vez disso, a prefeitura contratou professores temporários. O secretário municipal da Educação, Bruno Barral, admitiu que "protelou ao máximo a homologação" deles em 2019.

Barral irritou os concursados quando, no final de setembro, declarou em entrevista que eles haviam se tornado professores porque não estavam entre os melhores alunos. "Quem tem interesse em fazer um curso de pedagogia, psicopedagogia e curso de licenciatura não são os melhores alunos. Os melhores alunos vão fazer medicina, jornalismo, direito, engenharia", disse.

De acordo com o sindicato, que repudiou a declaração do secretário em nota, já foi feito um acordo com a prefeitura para o início da convocação dos aprovados "assim que a aulas voltarem" no período pós-pandemia.