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Frente ampla e exemplo de vizinhos: como PT lidera na 2ª maior cidade do RJ

Dimas Gadelha (à esq.), candidato do PT em São Gonçalo, com os prefeitos de Niterói, Rodrigo Neves, e de Maricá, Fabiano Horta (à dir.) - Reprodução/ Facebook
Dimas Gadelha (à esq.), candidato do PT em São Gonçalo, com os prefeitos de Niterói, Rodrigo Neves, e de Maricá, Fabiano Horta (à dir.) Imagem: Reprodução/ Facebook

Igor Mello

Do UOL, no Rio

18/11/2020 04h00

Após surpreender e liderar com folga a disputa pela Prefeitura de São Gonçalo —cidade com mais de 1 milhão de habitantes na região metropolitana do Rio—, o PT espera vencer no 2º turno e dar visibilidade a projetos sociais formulados na vizinha Maricá, governada pelo partido há 12 anos como uma espécie de laboratório social.

A receita do PT para construir uma candidatura competitiva em São Gonçalo passou por tirar do papel a tão falada frente ampla e usar projetos bem avaliados de cidades vizinhas com governos de esquerda como plataforma eleitoral.

Foi necessária também uma boa dose de pragmatismo, a começar pela escolha do candidato

O médico Dimas Gadelha foi secretário de Saúde na gestão do atual prefeito José Luiz Nanci (Cidadania), mas rompeu com ele e se lançou candidato a deputado federal em 2018 pelo DEM. Gadelha foi então convidado por Washington Quaquá —ex-prefeito de Maricá e principal cacique petista no Rio— para ingressar no PT.

Uma costura entre Quaquá e o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), viabilizou que PT e PDT estivessem na mesma chapa, ao contrário do que ocorreu no Rio.

Na campanha, Gadelha apostou em programas sociais implantados por Quaquá em Maricá, como uma moeda social —mecanismo de transferência de renda que privilegia o comércio local— e linhas públicas de ônibus com tarifa zero.

Também prometeu investimentos em segurança pública, como a implementação de 500 câmeras na cidade, nos mesmos moldes do que foi feito por Rodrigo Neves em Niterói. O mote da campanha não poderia ser mais claro: "Maricá e Niterói juntas por São Gonçalo".

Enquanto Maricá e Niterói vivem um momento de bonança após se tornarem as duas maiores arrecadações com royalties do petróleo do país, São Gonçalo convive com uma baixa arrecadação —a cidade projetava um orçamento de R$ 1,4 bilhão antes da pandemia, menos da metade das duas vizinhas.

Apesar disso, Gadelha garante haver recursos para implantar as propostas: "Todas essas propostas giram em torno de R$ 60 milhões por ano", afirma.

No primeiro turno, Gadelha ficou em primeiro lugar, com 31,3% dos votos, e enfrenta no 2º turno o deputado estadual Capitão Nelson (Avante), ex-policial militar com uma plataforma de direita. Gadelha descarta contudo fazer um debate ideológico.

"A gente vai continuar com a mesma pegada do 1º turno, discutindo a cidade e os problemas dos gonçalenses. Não queremos polarizar a campanha e nem ter briga entre direita e esquerda", afirma.

Em 2018, o presidente Jair Bolsonaro teve 67,3% dos votos na cidade, que tem um dos maiores eleitorados evangélicos do país e costuma eleger políticos conservadores. A deputada federal Flordelis (PSD), acusada de encomendar o assassinato do próprio marido, é uma das representantes desse campo político na cidade.

A pobreza também é uma marca de São Gonçalo: segundo o IBGE, o PIB per capita na cidade é de R$ 16,4 mil anuais, pouco mais de 30% do valor da capital (R$ 51,7 mil).

Embrião para 2022

Caso vença a eleição, o PT vê o Leste Fluminense —região na qual fica São Gonçalo— como o embrião para uma candidatura de centro-esquerda ao governo do estado.

Nesse cenário, o partido governaria simultaneamente São Gonçalo e Maricá, enquanto o PDT seguirá no comando de Niterói com Axel Grael.

Além disso, Quaquá apoiou a eleição do ex-deputado federal Marcelo Delaroli (PL) —seu desafeto histórico— como prefeito de Itaboraí. Juntas as quatro cidades têm mais de 2 milhões de habitantes.

Quaquá diz que uma vitória na cidade pode ser uma mensagem do PT em nível nacional. "O desafio é provar que é possível implantar esse novo modo petista de governar. É uma cidade grande, periférica, com eleitorado popular e muito evangélico. E o PT vai ganhar."

Segundo ele, caso a vitória do PT se confirme, é inevitável que a região tenha protagonismo na eleição de um novo governador.

Rodrigo Neves já foi apontado como pré-candidato ao cargo em 2018, mas desistiu diante de denúncias de corrupção que levaram à sua prisão em dezembro daquele ano. Solto três meses depois, terminou o governo com aprovação superior a 70%, segundo pesquisas feitas na cidade.

Depois de eleger o sucessor em 1º turno, o nome do pedetista —que teve uma trajetória de duas décadas no PT— volta a ganhar corpo.

"O Leste Fluminense passa a ter um projeto político, coisa que há muitos anos não tinha", diz Quaquá sobre uma possível candidatura articulada a partir da região. "Até 2022 muita água vai rolar embaixo da ponte, mas certamente essa articulação vai existir."