RJ elege vereadores investigados por envolvimento com milícia
O estado do Rio elegeu no domingo (15) vereadores investigados por suposto envolvimento com milícias em três municípios da Baixada Fluminense. Levantamento do UOL identificou candidatos suspeitos de ligação em crimes como associação criminosa, formação de quadrilha e até homicídio. Sem condenação por órgão colegiado, eles permaneceram habilitados a disputar o voto nas urnas.
A Polícia Civil investiga a ação de mais de dez "candidatos da milícia", após denúncias de proibição da presença de adversários políticos em territórios de atuação desses grupos. Em pouco mais de um mês, o Rio teve ao menos oito atentados com possível motivação política, deixando três mortos.
Capítulo 2 - Mesmo atrás das grades, bombeiro acusado de chefiar milícia e investigado por homicídio busca reeleição para vereador
Eleito como o 9º vereador mais votado de Nova Iguaçu com 6.073 votos —602 a mais ante 2016, quando ficou como suplente— Germano Silva de Oliveira, o Maninho do Cabuçu (Cidadania), foi alvo de mandado de busca e apreensão há pouco mais de uma semana em investigação policial para apurar as circunstâncias do assassinato de um rival político.
Também candidato a vereador, Domingos Barbosa Cabral, o Domingão (DEM), foi morto a tiros em 10 de outubro em um bar por homens de touca ninja quando estava no bairro Cabuçu, reduto eleitoral de Maninho.
Em setembro de 2016, às vésperas das eleições, Maninho chegou a ser detido com uma arma com documentação irregular e R$ 35 mil em dinheiro, suspeito de integrar franquia do Bonde do Ecko, a antiga Liga da Justiça.
Nos últimos dias, o UOL entrou em contato com um dos perfis de Maninho nas redes sociais, mas não obteve retorno.
O empresário Danilo Francisco da Silva, o Danilo do Mercado (MDB), foi o 8º mais votado para o cargo de vereador em Duque de Caxias, com 6.080 votos —aumento de 42% em comparação à votação de 2016, quando ficou como suplente.
Ele é apontado pela polícia como suspeito de chefiar um grupo de extermínio e de mandar matar dois homens em junho no bairro Vila Maria Helena, seu reduto político.
De acordo com as investigações, Danilo teria tentado comprar o terreno de uma das vítimas, que se recusou a fazer negócio e passou a receber ameaças de morte. Em agosto, foi alvo de mandado de busca e apreensão em sua casa por causa desse inquérito.
Ao UOL, Danilo negou qualquer tipo de envolvimento com milícias ou grupos de extermínio. Ele atribuiu as acusações a rivais políticos. "Se você vier no meu bairro, pode perguntar pra qualquer um. Ninguém vai dizer que fui eu [quem mandou matar os dois homens]. Eu não ando com segurança. Se tivesse envolvimento com milícia, eu estaria morto numa hora dessas", argumentou.
Mesmo atrás das grades, o vereador Márcio Cardoso Pagniez, o Marcinho Bombeiro (PSL), figurou como suplente em Belford Roxo, com 1.946 votos. Acusado de chefiar uma milícia, ele está preso preventivamente desde outubro de 2019 e é réu por suposta participação na morte de dois jovens em abril de 2017.
Lei da Ficha Limpa deveria ser revista, diz procuradora
Silvana Batini, procuradora regional eleitoral do Rio, propõe uma revisão na Lei da Ficha Limpa, para evitar que suspeitos de integrar o crime organizado possam participar de eleições. Ela propõe um endurecimento nas regras para a permissão de candidaturas, com o impedimento de investigados por crimes ligados à atuação de milícias.
Existe um impacto do crime organizado nas eleições. Mas a Justiça Eleitoral não combate milícia. E é preciso ter provas para comprovar crimes que demandam investigações com tempo maior. Talvez fosse preciso avançar para uma jurisprudência mais rigorosa que remeta à atividade de milícia
Silvana Batini, procuradora regional eleitoral do Rio
A procuradora explica que um candidato que venceu o pleito pode ter o mandato cassado e ficar inelegível se houver comprovação de violação à lei eleitoral.
Contudo, o prazo de apenas 15 dias após a diplomação —em meados de janeiro de 2021— é curto na avaliação dela para comprovar esse tipo de crime.
Eleito já foi detido por porte ilegal de arma
O UOL identificou outros dois vereadores eleitos que já foram alvo de operações policiais contra milícias na Baixada Fluminense.
Em outubro de 2019, Jeferson Ramos (MDB), então ex-subsecretário de Obras de Nova Iguaçu, foi preso em flagrante por porte ilegal de arma no seu sítio. Nas eleições deste ano, ele se elegeu como o 6º vereador mais votado do município, com 7.577 votos.
Em nota enviada pela sua assessoria, ele relacionou as acusações ao que entende ser uma perseguição política "de quem tinha o poder da caneta". Explicou, ainda, que a arma apreendida com ele era para proteção familiar, mas reconheceu que não tinha sido registrada na época.
"Jamais tive qualquer envolvimento com as práticas de grupos paramilitares (...). Tudo foi esclarecido, tenho Ficha Limpa e a prova disto é que pude concorrer livremente às eleições para vereador", disse.
Em novembro do ano passado, a Polícia Civil cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do PM Eduardo Araújo, reeleito para o cargo de vereador de Belford Roxo (RJ) com 2.622 votos.
Na ocasião, foram cumpridos 35 mandados de prisão preventiva e outros 93 de busca e apreensão contra suspeitos de integrar uma milícia conhecida por explorar serviços como TV a cabo, venda de cigarros e exploração de transporte alternativo. A reportagem procurou o vereador, mas não obteve resposta.
Candidatos não se elegeram na capital
No Rio, outros dois candidatos citados em episódios relacionados à atuação de milícias não se elegeram. Com 11 mil votos, o vereador o Zico Bacana (Podemos) ficou como suplente.
Em 2 de novembro, sobreviveu a um atentado na zona norte ao ser atingido por um tiro de raspão na cabeça. Quando era cabo da PM, foi citado no relatório final da CPI das Milícias da Alerj de 2008, apontado como chefe de um grupo paramilitar. Ele não foi indiciado e nega as acusações.
Carminha Jerominho (PMB), filha de Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, acusado de fundar a antiga Liga da Justiça, fez pouco mais de 4.000 votos e não se elegeu.
Ela e o pai foram alvo de busca e apreensão da PF na quinta-feira (12) para apurar suposta prática de organização criminosa e lavagem de dinheiro ligadas a crimes eleitorais. No dia da ação, ela disse ao UOL que se tratava de perseguição política para desestabilizar sua campanha.
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