Político raiz volta ao poder com Covas e ajuda Doria a buscar Presidência
No segundo parágrafo de seu programa de governo Bruno Covas (PSDB) escreveu: "Sou um homem público, um ser político". A mesma afirmação foi repetida nos primeiros programas de rádio e TV. Em momento algum da corrida eleitoral o candidato escondeu suas raízes e a reeleição à Prefeitura de São Paulo é considerada o retorno do "político raiz" por Wilson Pedroso, coordenador da campanha de Covas.
"Foi uma eleição de gente que se formou na política. O povo trouxe os políticos de volta ao poder".
A situação é bem diferente do último pleito municipal. Na eleição de 2016, o agora governador João Doria (PSDB) venceu a disputa com o discurso de que não era político, mas gestor. Passados quatro anos, tudo mudou. A avaliação é que a onda antissistema iniciada com as manifestações de 2013 perde força.
De olho em 2022, Doria faz seus movimentos para viabilizar uma candidatura a presidente da República. Ele dialoga com DEM e MDB e incluiu o apoio a Covas na conversa. A parceria firmada na cidade de São Paulo deu resultados, mas não significa que a aliança está fechada para a busca pelo Palácio do Planalto. Existem muitos capítulos a serem superados, como a eleição da presidência da Câmara dos Deputados no próximo ano.
Eleição de Covas é resposta ao bolsonarismo
Pela definição de um dirigente do MDB, o que existe é um protocolo de intenções. Neste contexto que a campanha de Covas ganha importância. Desde o primeiro turno, estrategistas nacionais do MDB e PSDB falavam que a candidatura dele era muito importante para testar o discurso a ser usado por uma terceira via contra o bolsonarismo e a esquerda.
Ainda em 2019 o prefeito falava que se posicionaria no centro e aceitaria apanhar dos dois extremos. No discurso da vitória, Covas usou palavras que podem ser lidas como uma resposta à maneira como Jair Bolsonaro (sem partido) venceu a disputa presidencial e tem governado.
"São Paulo mostrou que restam poucos dias para o negacionismo e obscurantismo. São Paulo disse sim à democracia, ciência e equilíbrio".
Mais que isto. Dirigentes do PSDB afirmaram que as urnas mostraram que onde PSDB, DEM e MDB estiveram juntos houve bons resultados. A chamada frente de centro se mostrou viável pelo menos nesta eleição. O coordenador da campanha de Covas ressalta que cada eleição tem um contexto que orienta a escolha popular, mas considera viável que a ponderação continue rendendo votos em 2022.
Esperança em Doria melhorar popularidade
O governador de São Paulo é considerado um dos postulantes a encabeçar a chapa caso a aliança PSDB, DEM e MDB se confirme. Mas patinar na aprovação dos paulistanos joga contra Doria. A última pesquisa do Datafolha na eleição para Prefeitura de São Paulo apontou que 61% da população não votaria nele. Além disso, integrantes do Palácio dos Bandeirantes admitem que o governador não tem uma imagem que gera empatia com o eleitor.
Mesmo com esta dificuldade, integrantes do PSDB de São Paulo não consideram que estes fatores sejam irremediáveis. A coleção de argumentos começa com a alegação de que não há nenhuma mancha, como casos de corrupção, que inviabilize a candidatura a presidente da República.
Em relação à impopularidade, existe a percepção que os próximos dois anos são suficientes para reverter o cenário. A linha de raciocínio ressalta que Doria se tornou contraponto a Bolsonaro e defende a ciência enquanto o presidente fala em gripezinha.
A avaliação é que entregando resultados a imagem melhora. A vacina contra a covid-19 seria um começo importante a ser complementado por uma recuperação econômica mais rápida e robusta que no restante do país.
O PSDB paulista também avalia que aprendeu com o passado. O ex-governador Geraldo Alckmin parecia consagrado nas urnas em 2016 por eleger um aliado à Prefeitura de São Paulo e vários outros nomes no interior. Na corrida presidencial dois anos depois, fez apenas 4,76% . Não sentar nos louros, mas pavimentar um caminho é a lição que lideranças do partido afirmam que assimilaram.
Luciano Huck é outro nome do centro
No discurso de vitória, Bruno Covas disse que sonha com a Presidência. Mas do Santos Futebol Clube. Brincadeiras de um festivo candidato reeleito, apontado como futuro do partido pelo maior cacique do PSDB, Fernando Henrique Cardoso.
No presente quem faz sombra a Doria é um global. Luciano Huck continua as movimentações de bastidores no meio político. Mais uma vez seu nome é ventilado como alternativa de "centro" e já houve reuniões com o próprio Doria e o ex-juiz Sergio Moro. O trio joga no mesmo time, mas dirigentes do MDB e até mesmo tucanos veem com bons olhos a candidatura do apresentador.
Ele larga sendo um rosto conhecido em todo o país, tem a vantagem de ser um comunicador testado e aprovado em anos de Globo e gera empatia com o povo, ponto de fraqueza de Doria. O passado de recuos na hora de decidir se vai concorrer levantam dúvidas sobre o apetite de Huck pela corrida presidencial, mas seu nome é bem visto.
Por hora, o discurso conjunto é de esperar. Políticos de centro concordam apenas que o bolsonarismo recebeu um sinal amarela e a esquerda teve maus resultados. Mas é preciso capitalizar, o que exige construir um nome. Doria é considerado uma das principais opções, mas um tucano fez a ressalva que Alckmin pensou a mesma coisa quatro anos atrás. Ao menos, a eleição municipal dá alguns indicativos e aponta caminhos a serem traçados.
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