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Após cancelamento de debates, Lula chama Bolsonaro para debater na USP

Lucas Borges Teixeira e Pedro Vilas Boas

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Salvador

15/08/2022 20h53Atualizada em 16/08/2022 06h45

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) provocou hoje (15) o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o convidou para um debate na USP (Universidade de São Paulo). Os dois presidenciáveis não têm confirmado participação em debates.

Em discurso na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo) nesta noite, Lula disse que Bolsonaro, seu principal adversário nas eleições, não gosta de estudante. Também voltou as ações de Bolsonaro à frente do governo

Este é o último evento de Lula antes do início oficial da campanha eleitoral, amanhã (16) —a agenda prevê visita a uma fábrica de carros, em São Bernardo do Campo, na Região Metropolitana de São Paulo.

Debate na USP: Em uma das principais universidades da América Latina, a educação foi o principal tema do discurso hoje. Fernando Haddad (PT), candidato ao governo estadual e professor da USP, fez um discurso rápido antes do ex-presidente.

Depois, em sua vez, em meio às provocações a Bolsonaro, Lula chamou o adversário para um debate.

Eu adoro vir aqui, debater. Debater não precisa ser só nós, de um partido só. Pode ser de outro partido político. Por exemplo, o Bolsonaro poderia vir aqui fazer um debate nas eleições. Ele não vai vir porque ele não gosta de estudante, ele não vai vir porque o ministro da Educação dele [ex-ministro Milton Ribeiro] disse que universidade não precisa ser para todos, é só para uma pequena parte."

Ele também aproveitou para falar sobre financiamento universitário —tema importante para os estudantes que estavam na plateia. "Como é que a gente pode conceber a ideia de que o país pode emprestar dinheiro para empresário, bilhões e bilhões, quando chega na época de financiar um estudante, mesmo que ele vá dar 'calote', tem problema? O que é um calote de um estudante, de R$ 15 mil ou 20 mil? Ele pode pagar com a qualificação do seu trabalho, melhorando a nossa capacidade produtiva."

Discurso à esquerda: Com o público em sua maioria jovem, com roupas vermelhas e identificação com esquerda, Lula falava para convertidos. Manteve o tom à esquerda, que tem permeado a pré-campanha.

Nós vamos voltar, e o pobre vai voltar para os aeroportos. Tem que pagar salário para doméstica, ela tem que ter férias. [...] Não tem ninguém rico que não seja às custas do trabalho dos pobres. Não tem ninguém que ficou rico...'ah, minha fábrica produziu'. Oh, seu 'babaca', quem foi que trabalhou, produziu as peças, se sacrificou?"

Vaias e aplausos: O ex-governador Márcio França (PSB), candidato ao Senado, foi vaiado pelo público ao ser anunciado no início do evento. As vaias voltaram ainda mais fortes quando Lula repetiu o nome em seu discurso. Sua esposa, Lúcia França (PSB), professora e candidata a vice na chapa de Haddad, anunciada na sequência, foi levemente aplaudida.

Juliano Medeiros, presidente nacional do Psol, também acabou levando uma vaia leve. Depois de uma disputa entre os partidos, ele aceitou ser suplente de França na chapa ao Senado. Já o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) e a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) foram os campeões de aplausos, com gritos individuais aos seus nomes.

Presidente da Caixa: Lula também tratou de temas que fazem parte de seu discurso, como igualdade racial e igualdade de gênero. Sempre em crítica a Bolsonaro, disse que em sua gestão o presidente de uma grande estatal não cometeria assédio, em referência a Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa.

Não vai ter presidente da Caixa que pratica assédio. Ele vai tomar tanta porrada que nem vai ser presidente."

Próximo a Bolsonaro, Guimarães foi acusado de assédio sexual por funcionárias durante viagens e eventos da estatal no final de junho. Ele deixou o cargo poucos dias depois em meio à investigação.

Fila gigante e ambulantes: Estudantes e interessados de diferentes idades começaram a chegar antes das 15h, horário marcado para abertura dos portões. Às 17h, quando o evento deveria começar, a fila já estava quilométrica entre as ruas que circulavam a FFLCH. Ambulantes levaram carrinhos e tendas para vender bebida, bandeiras, broches ou distribuir material de campanha.

Estudantes aguardam início de evento com Lula na USP, enquanto ambulantes comercializam materiais de campanha - Lucas Borges Teixeira/UOL - Lucas Borges Teixeira/UOL
Estudantes aguardam início de evento com Lula na USP, enquanto ambulantes comercializam materiais de campanha
Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Debate cancelado

Apesar do discurso a favor do debate na USP, o ex-presidente Lula, assim como Bolsonaro, não tem confirmado participação em debates promovidos pela imprensa.

No último dia 11, o consórcio de veículos de imprensa, que inclui UOL, Folha de S.Paulo, G1, O Globo, O Estado de S. Paulo e Valor, suspendeu a realização de um debate em pool entre candidatos à Presidência da República. O consórcio tomou a decisão de suspender o debate porque os dois primeiros colocados nas últimas pesquisas, Lula e Bolsonaro, não se comprometeram a participar.

O evento estava marcado para 14 de setembro, em São Paulo, previa reunir os quatro primeiros colocados em pesquisa eleitoral Ipec ou Datafolha da semana anterior ao evento, e ocorreria com a confirmação de ao menos três desses quatro. Em julho, a CNN Brasil também havia cancelado um debate.

Ainda estão mantidos os embates entre os presidenciáveis:

  • Nos estúdios da Band, no próximo dia 28, às 21h, que também contará com a participação de jornalistas do UOL, Folha e TV Cultura;
  • No dia 2 de setembro, organizado pela RedeTV!, Metrópoles e O Antagonista; e
  • Em 24 de setembro, promovido por SBT, CNN, Veja, Estadão, Terra e Nova Brasil FM, às 21h.

Em maio, o colunista do UOL Kennedy Alencar já havia noticiado que o PT pretendia propor aos veículos de comunicação a realização de três debates presidenciais no primeiro turno, num modelo de pool semelhante ao adotado nos Estados Unidos. Na avaliação da cúpula do PT, com uma campanha eleitoral tão curta, é inviável aceitar tantos convites.