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Após fala de Ciro Nogueira, Toffoli diz que discutir urna só alimenta ódio

Do UOL, em São Paulo

19/08/2022 14h05Atualizada em 19/08/2022 16h02

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, disse, hoje, durante um evento em São Paulo, que confia no sistema eleitoral, mas afirmou achar que ele "não é inviolável para sempre".

Após a fala do aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem atacado sem provas o sistema de votação por urnas eletrônicas, o ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), que também participava do evento, disse que a discussão sobre as urnas só alimenta o ódio e que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) é apenas um instrumento no processo. "Quem decide as eleições é o povo soberanamente", declarou Toffoli.

'Democracia sólida'

Na avaliação de Nogueira, o país vive uma democracia plena e a posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do TSE "foi uma demonstração de maturidade das instituições".

"Eu mesmo confio nas urnas brasileiras, confio no sistema eleitoral. Agora, eu acho que ele não é inviolável para sempre", afirmou durante evento "O Equilíbrio dos Poderes", organizado pelo grupo Esfera Brasil, que promove reuniões entre representantes dos setores público e privado.

Para o ministro, "nós temos que a cada dia aprimorar o nosso sistema eleitoral, coisa feita pela própria Justiça Eleitoral".

"Essa discussão se o Exército deve ou não interferir [na fiscalização do processo eleitoral]. O Exército foi convidado para participar do processo. A discussão é se as medidas que o Exército está apresentando vem contribuir ou não. Se não contribuir, tem que ser descartado (...) Acho que temos hoje democracia muito sólida, um exemplo para o mundo, um sistema eleitoral capaz de entregar resultados das urnas em apenas um dia. Isso tem que ser enaltecido, não tenho dúvida quanto a isso", continuou.

'Não vai ter golpe'

Toffoli falou na sequência, ressaltou a segurança do sistema eleitoral e classificou como "uma perda de tempo" continuar a discussão. "A gente tem que virar a página, a urna é segura. Todos os parlamentares aqui foram eleitos pela urna eletrônica."

"Não podemos criar impasses. Se ficarmos nesse impasse da urna vamos ficar alimentando ódios desnecessários", continuou.

O ministro ainda descartou a possibilidade de um golpe de Estado no Brasil com apoio das Forças Armadas. "Nossas Forças Armadas são instituições que sabem muito bem o preço que pagaram quando ficaram no poder por muito tempo."

Os questionamentos sobre as urnas surgem na esteira dos seguidos ataques de Bolsonaro. Ele tem levantado suspeitas infundadas sobre o sistema eleitoral e intensificou seus ataques ao TSE a partir de julho do ano passado, quando fez uma live levantando suspeitas sobre fraudes nas urnas, já desmentidas pela Justiça Eleitoral.

Desde que as urnas eletrônicas foram implementadas —parcialmente em 1996 e 1998, e integralmente a partir de 2000 — nunca houve comprovação de fraude nas eleições brasileiras, mesmo quando os resultados foram contestados. A segurança da votação é constatada pelo TSE, pelo MPE (Ministério Público Eleitoral) e por estudos independentes.

Em sua fala, o ministro do STF também elogiou a existência de um "centrão" que, segundo ele, "distensiona e transita entre os extremos e que não prega ódio nem desavenças".

Também participaram do evento na capital paulista os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Em uma entrevista coletiva dada após o painel, Pacheco disse considerar o processo eleitoral brasileiro "suficientemente transparente".

Lira também destacou que seu posicionamento é de que a urna é confiável, mas pediu maior transparência. "O sistema é confiável, não temos como dizer que não é. O que não quer dizer que ele não possa ser aperfeiçoado ou que tenha uma transparência mais clara", disse.