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OPINIÃO

Estabilidade e teto: Datafolha traz boas notícias para Lula e Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo

19/08/2022 04h00

A pesquisa Datafolha divulgada ontem mostra a estabilidade nas intenções de voto para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder no levantamento. Ao mesmo tempo, seu adversário, o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), apresentou um crescimento, apesar de a distância entre os candidatos ainda estar em dois dígitos.

Para os colunistas do UOL Notícias, Lula ter conquistado 47% das intenções de voto pela terceira pesquisa seguida é "incrível", mas tendo, aparentemente, atingido um teto. Bolsonaro, por sua vez, passou de 29%, em 27 de julho, para 32% agora. Com a margem de erro de dois pontos percentuais, o presidente apresentou crescimento.

Além disso, o petista continua com a possibilidade de vitória em primeiro turno, mas ela vem diminuindo. O Datafolha, agora, mostrou que Lula teria 51% dos votos válidos em 2 de outubro. Na pesquisa de maio, ele alcançava 54%.

Mas, com o início do horário eleitoral no rádio e na televisão no próximo dia 26, é preciso observar como o eleitorado irá se comportar: mantendo a tendência de primeiro turno ou mudando o cenário. E o desempenho dos outros candidatos —caindo em relação aos levantamentos anteriores— também terá peso no quadro caso haja migração das intenções de voto para Lula.

Confira como os colunistas do UOL Notícias analisaram a pesquisa:

O destaque da última pesquisa Datafolha é a incrível estabilidade das intenções de voto em Lula. Ele começou a série do Datafolha com 48% de preferência do eleitorado e, nas últimas três pesquisas pontuou os mesmos 47%. Todos os outros somados ficaram com 42%.

O Datafolha mantém a possibilidade de vitória no primeiro turno se Bolsonaro, apesar de crescer, não conseguir conquistar votos no eleitorado do petista.

Ou seja, esse é o desafio do início da propaganda eleitoral gratuita na TV. E se houver migração de votos de Ciro e Simone para Lula, a fatura estará liquidada

Não chega a ser uma grande surpresa, mas o que mais chama a atenção neste Datafolha é a incrível estabilidade das intenções de voto em Lula, que continua com 47% desde junho.

Com a artilharia de fake news da guerra religiosa e a chuva de dinheiro dos auxílios, Bolsonaro subiu três pontos. Foi para 32% e diminuiu a diferença de 18 para 15 pontos, mas não tirou votos do petista para garantir um segundo turno.

Em votos válidos, o ex-presidente continua com 51% e está no limite da margem de erro para decidir a eleição no primeiro turno. Em rejeição, Bolsonaro (51%) tem 14 pontos acima de Lula (37%). No segundo turno, se houver, Lula vence com 54% contra 37%.

Para mudar esse cenário nos 45 dias que faltam, o presidente precisa diminuir a rejeição dele, aumentar a de Lula e inverter a curva das intenções de voto. Não será tarefa fácil

Essa rodada do Datafolha foi melhor para o Bolsonaro do que para Lula. Marginalmente, mas foi.

Bolsonaro está conseguindo melhorar a avaliação de seu governo, diminuir sua rejeição, aumentar seu teto eleitoral —medido pelo seu percentual no 2º turno— e sua intenção de voto estimulada e espontânea.

Já Lula está parado, até oscilando para baixo na simulação de 2º turno. O petista parece ter batido no teto

A resultante disso é que as chances de Lula se eleger já no 1º turno são declinantes: ele tinha 54% dos votos válidos em maio, tem 51% agora.

Pode se eleger em 2 de outubro? Em tese sim, mas esse cenário é cada vez menos provável —salvo o eleitor se cansar das confusões da campanha eleitoral e resolver acabar com tudo logo, antecipando o 2º turno no 1º. A diminuição dos votos declarados aos candidatos da chamada terceira via mostra que isso é possível.

A nova pesquisa Datafolha trouxe esperança para a campanha de Jair Bolsonaro. Ele vem lentamente reduzindo a diferença para Lula (21 pontos, em maio, 18, em julho, e agora 15).

Há a expectativa de que as parcelas do Auxilio Brasil temporário de R$ 600 tragam votos dos mais pobres, o que ainda não ocorreu, da mesma forma que a redução dos combustíveis causou impacto entre quem ganha entre dois e cinco salários mínimos.

A notícia boa para Lula é que ele mantém boa vantagem em Minas Gerais, estado que é considerado o termômetro da eleição nacional por ter regiões que representam o eleitorado do resto do país. Com isso, quem ganha lá leva também no Brasil desde a redemocratização. O petista bate Bolsonaro por 49% a 29%, mantendo a diferença de 20 pontos da pesquisa anterior.

A grande novidade da pesquisa Datafolha é que Lula conseguiu um diálogo melhor com as elites que xinga do que com os evangélicos que busca. Estes aderem à candidatura depois do trunfo Michelle.

Lula ganha fôlego entre a minoria mais rica provavelmente devido à bravataria antidemocrática do presidente. Mas Bolsonaro aparentemente tem diálogo direto com a população que ganha entre 2 e 5 salários mínimos, uma imensa massa de eleitores.

A tendência é que Lula caia e a máquina turbine Bolsonaro. Resta saber como será esse ritmo até outubro

A maior novidade da pesquisa é o avanço de seis pontos percentuais de Bolsonaro entre o público evangélico —certamente resultado da entrada de Michelle Bolsonaro em campo, com o discurso sobre Deus e o demônio, e das fake news disseminadas pelo deputado Marco Feliciano, entre elas a de que Lula planejaria fechar os templos evangélicos.

Mas, além dessa novidade, a pesquisa traz uma dúvida:

Bolsonaro não cresceu entre os mais pobres porque o segmento ainda não sentiu o impacto do Auxílio Brasil ou porque o benefício nao se transformou e nem se transformará em votos?

A primeira hipótese é benéfica para o presidente porque aponta para a possibilidade de um crescimento futuro nas pesquisas; a segunda é ruim porque, a pouco mais de 40 dias da eleição, Bolsonaro não tem outro coelho para tirar da cartola"

A pesquisa Datafolha traz um dado novo da inflação brasileira: nunca cada ponto percentual de intenção de votos custou tão caro a um presidente candidato à reeleição.

Depois de aprovar a PEC que driblou a Lei Eleitoral para distribuir R$ 41 bilhões em benefícios como Auxílio Brasil, vale-gás e assemelhados, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu reduzir em apenas três pontos a diferença que o separa do líder Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, Lula tem 47% e Bolsonaro 32%.

Pelo que foi gasto no pacote de bondades, cada ponto custou aos cofres públicos R$ 13,5 bilhões

Como aconteceu na pesquisa Ipec, petistas têm bons motivos para comemorar. Mesmo com o uso da máquina governamental em magnitude nunca vista, Bolsonaro não conseguiu avançar de forma considerável. Entre os entrevistados que ganham até dois salários mínimos, Lula tem 55% de intenção de votos.

O povão ainda guarda na memória que o petista foi o presidente que criou o Bolsa Família e que fez um governo voltado para os mais pobres.

Ficou mais difícil levar na primeira rodada da eleição, mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva —que aparece na última pesquisa Datafolha com 51% dos votos válidos— ainda pode sonhar com uma vitória no primeiro turno.

A depender da dinâmica de campanha, Lula pode conseguir votos suficientes para vitória apertada porque há menos candidatos, e o presidente Jair Bolsonaro não consegue crescer de forma que possa, no cenário de hoje, fazê-lo vencer a eleição presidencial.

Apesar da montanha de benesses que Bolsonaro dá no período eleitoral, ele avança pouco nas pesquisas nas simulações de primeiro e segundo turno. O Datafolha e o Ipec mostraram que Bolsonaro parece ter um teto de votos insuficiente para se reeleger.

Depois de tudo, o dado surpreendente está em Lula ainda poder vencer no primeiro turno. A diferença é de 15 pontos no primeiro turno —há 15 dias, era de 18—, e de 17 pontos no segundo (antes, de 20).

Bolsonaro se aproxima um pouco, sempre na margem de erro. A eleição não está tão longe assim. Até agora, o suposto efeito arrasador das PECs ilegais de combustíveis e dos benefícios sociais não se verificou.

Um dado relevante: Fernando Haddad (PT) tem 38 pontos para o governo de São Paulo. Venceria Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Rodrigo Garcia (PSDB) no segundo turno. Estes marcam na primeira etapa 16 e 11 pontos, respectivamente. Ruim para o tucano, que oscilou dois pontos para baixo em relação a maio. O candidato de Bolsonaro cresceu 3, e o petista, 4.

Lula bate Bolsonaro no Estado por 44% a 31%, um desempenho até agora notável. O PT só ganhou eleição presidencial em São Paulo em 2002. A vida segue difícil para o tal "Mito".

A despeito de Lula ainda estar em ampla vantagem na disputa, o presidente Jair Bolsonaro tem conseguido reduzir gradualmente seu índice de rejeição e o governo aposta que o efeito dos auxílios turbinados e a entrada da primeira-dama Michelle na campanha ainda podem diminuir a vantagem do petista.

O maior desafio para campanha do presidente impedir uma vitória de Lula já no primeiro turno é evitar episódios polêmicos, como o embate entre Bolsonaro e um youtuber ontem, que mostrou um comportamento impulsivo e até agressivo de Bolsonaro, o que dificulta a tentativa de suavizar a imagem e reduzir sua rejeição.

A principal novidade da nova pesquisa Datafolha é a ausência de novidades no comportamento do pedaço mais pobre do eleitorado.

O início do pagamento do Auxílio Brasil vitaminado ainda não rendeu votos para Bolsonaro no rodapé da pirâmide social

Entre os eleitores que ganham até dois salários mínimos, que compõem 51% da amostra, o presidente manteve os mesmos 23% que amealhara em 29 de julho. Lula oscilou um ponto para cima, somando 54%.

No resultado global, caiu de 18 para 15 pontos a vantagem de Lula (47%), que se manteve estável, sobre Bolsonaro (32%), que avançou três pontos.

O capitão e seus operadores esperavam que a conversão do Tesouro em cabo eleitoral produzisse uma enxurrada de votos. O avanço em conta-gotas apressa o plano dos estrategistas de Bolsonaro de submeter Lula a uma pancadaria sem precedentes. Os golpes abaixo da linha da cintura, já iniciados nas redes sociais, migrarão na semana que vem para a propaganda eletrônica no rádio e na TV.

O crescimento de três pontos no Datafolha é insuficiente para acalmar Jair Bolsonaro, mas reforça o alerta na campanha de Lula para o avanço do presidente entre evangélicos e brasileiros de renda média, que recebem de dois a cinco salários mínimos por mês.

Bolsonaro busca resgatar o apoio dos segmentos que votaram nele em 2018 e que continuam sendo desprezados pelo PT, enquanto espera que os efeitos do aumento do Auxílio Brasil reduzam seu desgaste entre a população de baixa renda, simpática a Lula.

O petista mantém vantagem folgada no Nordeste (33 pontos), no Sudeste (12) e entre as mulheres (18), chegando a 51% dos votos válidos, na margem de erro para eventual vitória em primeiro turno.

Agora que será vidraça na campanha oficial, terá de resistir aos ataques de Bolsonaro e apelar ao voto útil do eleitorado de Ciro Gomes.