Um a cada 20: candidatos da segurança na esquerda somem perto da direita
Quando disputarem as eleições em outubro, agentes de segurança pública que são candidatos em partidos de esquerda ou centro-esquerda serão um a cada vinte em relação aos de siglas de direita e centro-direita, segundo um relatório do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
O grupo —que hoje tem pouca representação no legislativo nos níveis federal, estadual e municipal— diverge em algumas propostas para a segurança pública, mas é unida em condenar políticas do presidente Jair Bolsonaro (PL), especialmente a facilitação ao armamento, e afirma que os atuais policiais no Legislativo não defendem os interesses da categoria.
"A segurança é plural", afirma o agente da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Fabrício Rosa, que concorrerá a uma vaga de deputado estadual em Goiás pelo PT.
Segundo ele, o universo dos agentes de segurança "não é um bloco monolítico" e comporta uma diversidade considerável de visões sobre a segurança pública.
Dos atuais candidatos nas polícias, quantos são de esquerda? Segundo o FBSP, há 95 candidatos policiais em oito partidos que são classificados pela pesquisa como de esquerda ou centro-esquerda:
- PSB (29 nomes),
- PDT (27),
- PSOL (11),
- PT (10),
- Rede (9),
- PV (4),
- PCdoB (3),
- PSTU (2).
O PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inscreveu 10 nomes, somando casos que declararam atuar em alguma das forças e os que informaram outras ocupações. Para o vereador de Porto Alegre Leonel Radde (PT), que agora é candidato a deputado estadual, a esquerda precisa estar mais presente na área da segurança pública.
É importante que o campo da esquerda se aproprie do campo da segurança pública. Na profissão, tem que ser um cumpridor de lei, não ter viés político. Mas é preciso dialogar. A esquerda dialoga com uma série de categorias, mas age como se cada policial fosse a corporação e não abre o debate
Leonel Radde, policial e vereador em Porto Alegre (RS)
Ao todo, quantos policiais sairão candidatos? Segundo o levantamento do FBSP, são pelo menos 1.866 agentes de segurança candidatos registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Pela atualização mais recente do TSE, às 22h de ontem, são 1.890. O número definitivo só será conhecido após a homologação das candidaturas.
Do montante analisado pelo FBSP, 449 (24%) não informaram a corporação em que atuam, e sim outras ocupações. Isso porque a pesquisa identificou todos os candidatos pelo nome de urna, não apenas os registrados como agentes de segurança.
Já entre as cinco categorias declaradas, tanto militares quanto civis, a PM é a que mais tem nomes na disputa. Até a última atualização dos dados do TSE, o número de agentes candidatos em cada força eram:
- Policial Militar (825 candidatos),
- Militar Reformado (244),
- Policial Civil (192),
- Bombeiro Militar (120)
- Membro das Forças Armadas (60).
Conforme mostrou o UOL Notícias, na última terça (16), o número de PMs candidatos foi o maior desde 2002. O PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, tem 94 nomes na lista, o maior número entre todos os partidos.
A que cargos os agentes concorrerão? A análise do FBSP aponta que os candidatos se dividem entre todos os cargos em disputa, exceto Presidente da República. Militar reformado, Bolsonaro não aparece no levantamento porque foi registrado com a ocupação Presidente da República. Os contabilizados são os seguintes:
- Deputado Estadual (1.044)
- Deputado Federal (712)
- Deputado Distrital (54)
- Governador (15)
- Senador (13)
- Vice-governador (11)
- 2º Suplente de senador (10)
- 1º Suplente de senador (5)
- Vice-presidente (2)
Nesta eleição, a direita e a centro-direita têm 95% das candidaturas de agentes de segurança, segundo o FBSP.
Há unidade de propósitos policiais de esquerda e de direita? O delegado da PF Alexandre Saraiva, que concorrerá ao cargo de deputado federal no Rio de Janeiro pelo PSB, avalia que os policiais de legendas de esquerda têm pontos em comum, como a crítica à política armamentista de Bolsonaro e a visão de que segurança pública é um tema que vai além da repressão.
"Eu vejo a construção de alguns consensos nesse campo. Um deles é de que a inteligência deve ser sempre a primeira ferramenta da polícia, e a violência, a última", diz o delegado.
Embora reconheçam que estão em minoria, há candidatos que avaliam que as polícias, em suas bases, têm uma diversidade de posições maior do que a refletida nos parlamentos.
"Nós, policiais, não temos uma visão tão fechada. Não é um traço de qualquer policial a visão de que a segurança tem que ser repressiva", diz o presidente da Feipol (Federação Inrerestadual dos Policiais Civil) da região Sudeste, Márcio Pino, que é candidato a deputado estadual em São Paulo pelo PDT.
"Entendemos que, em situação como o combate ao crime organizado, o Estado deve estar presente, tem que mostrar força. Mas tem crimes que pedem uma ação social antes da policial", explica.
Há semelhanças entre os policiais dos dois campos ideológicos? O pesquisador Renato Sérgio de Lima, que conduziu a análise do FBSP, avalia que pautas de defesa das carreiras policiais são comuns a agentes da esquerda e da direita.
"Por vezes, o que se vê é mais um debate sobre salários e condições adequadas de trabalho. Tudo isso é verdade, e não tem nenhum problema que haja agendas corporativas. Mas segurança não é só atividade policial: para que o debate avance, a gente precisa pensar no desenho da segurança no Brasil", avalia.
Agentes de oposição avaliam que os policiais, especialmente os de carreira civil, perderam direitos durante o atual governo. "Eu percebo que os poucos policiais de esquerda que atuam no Legislativo têm uma pauta mais voltada a assuntos que interessam à classe trabalhadora,", diz a delegada de polícia civil Maria Nysa (PT), candidata a deputada estadual no Paraná.
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