Moro ignora críticas que sofreu de Bolsonaro no JN e foca em ataques a Lula
Candidato ao Senado pelo Paraná, o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) tem ignorado os ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), mas, por outro lado, concentra suas críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O ataque mais recente ao petista aconteceu hoje, quando o ex-magistrado ironizou a participação do adversário político na sabatina do Jornal Nacional, da TV Globo, se colocando à disposição para "ajudar" na entrevista, relembrando que interrogou Lula enquanto julgou processos da Operação Lava Jato. "Tenho experiência", comentou nas redes sociais.
Por meio de seus perfis nas redes sociais, Moro foca suas postagens com teor crítico ao petista, que ele condenou à prisão em 2018, no âmbito da Operação Lava Jato; na contramão, o ex-juiz poupa Bolsonaro, de quem foi ministro da Justiça entre 2019 e 2020, embora o atual chefe do Executivo não poupe ataques ao ex-aliado.
Bolsonaro chamou Moro de "pouco produtivo". Quando esteve no Jornal Nacional, da TV Globo, na última segunda-feira (23), Jair Bolsonaro questionou o trabalho de Sergio Moro à frente do Ministério da Justiça, sugeriu pouca produtividade e afirmou que a efetividade da pasta "melhorou muito" com a saída do ex-juiz, com "melhores" resultados "na apreensão de drogas, na apreensão de numerários, em operações" com um todo, afirmou.
Presidente avalia Moro no governo como "erro". Também neste mês, Bolsonaro participou do podcast "Cara a Tapa", e afirmou se arrepender de ter nomeado Moro como ministro de seu governo. Segundo o político, alçar o ex-juiz ao posto de chefe da Justiça "foi um erro", pois os dois nunca conseguiram manter uma relação de proximidade.
Sergio Moro deixou o governo em 2020, após acusar Jair Bolsonaro de tentar interferir politicamente no comando da PF (Polícia Federal).
Moro ignorou Bolsonaro, mas não Lula. Em ambas as ocasiões, o ex-magistrado não se manifestou sobre os ataques de Jair Bolsonaro. Já em seu perfil no Twitter, ele tem recorrentemente citado o nome de Lula, sempre com teor crítico.
Ex-juiz ironiza Lula no JN e lembra casos de corrupção. Hoje, quando o petista será sabatinado no Jornal Nacional, o ex-magistrado se ofereceu para "ajudar" os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos a questionarem o presidenciável sobre temas relacionados à Lava Jato.
Lula foi preso em 2018 por determinação de Sergio Moro, mas solto em 2019, após o STF (Supremo Tribunal Federal) mudar entendimento sobre a prisão em segunda instância. No ano passado, a Corte reconheceu que o ex-juiz agiu de forma parcial em suas sentenças contra o petista, além de tornar as condenações nulas, e restabelecer os direitos políticos do ex-presidente. Em ambos os casos, Moro questionou as decisões do Supremo.
Ontem, sem citar nominalmente Lula, Moro disse que o retorno da prisão em segunda instância "é fundamental para que o país possa atingir um salto civilizatório na justiça do Brasil". "Enquanto isso não acontece, continuamos assistindo ao desfile da impunidade", acrescentou.
"Candidatura de Lula é uma fake news". Em outro ataque ácido, Moro afirmou que a candidatura do petista é "a maior fake news" das eleições neste ano.
"Alguém condenado por corrupção e beneficiado por um erro judiciário não tem moral para ser candidato", acrescentou.
O UOL procurou a assessoria de Sergio Moro para saber se ele comentará os ataques de Jair Bolsonaro, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.
'Moro precisa de bolsonaristas'
Para o colunista do UOL Alberto Bombig o principal motivo pelo qual Sergio Moro cessou seus ataques a Jair Bolsonaro é o fato de ele depender dos votos dos eleitores bolsonaristas para conseguir se eleger ao Senado.
Conforme o colunista, como Moro "virou as costas" para seu padrinho político, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), ele pode se "dar mal" porque "imagem de traidor dificulta" numa eventual eleição.
Na avaliação de Bombig, Sergio Moro deve evitar atacar o presidente Jair Bolsonaro (PL) a fim de atrair eleitores conservadores para sua base. "Ele acusou o presidente de interferência da Polícia Federal. O presidente já falou cobras e lagartos dele também", disse.
Em propaganda partidária disseminada nas redes sociais e grupos de mensagens, Sergio Moro diz que nunca estará ao lado de Lula. "Jamais. Isso é impossível. Eu decretei a prisão do Lula, eu desmontei o esquema de corrupção do PT."
Em relação a Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Justiça, que já foi tachado de traidor, sinaliza um possível apoio: "Em relação ao Bolsonaro, uma coisa eu posso te dizer. Nós temos o mesmo adversário."
Pesquisa Ipec aponta Dias como líder na disputa pelo Senado no estado, com 35% das intenções de voto. Moro aparece em segundo lugar, com 24%. O resultado é da sondagem estimulada —quando os entrevistados recebem uma lista prévia de candidatos.
O Podemos foi o primeiro partido ao qual Moro se filiou após deixar o Ministério da Justiça. O ingresso ocorreu devido a uma articulação de Dias, mas o ex-ministro deixou a legenda em março deste ano para entrar no União Brasil, em uma tentativa falha de ser escolhido pela sigla para disputar o Palácio do Planalto. À época, o Podemos disse que soube da saída pela imprensa. Hoje, Moro e Dias são adversários.
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