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'Cidade banguela', polarização e 'caciques': o que Simone Tebet disse no JN

Jéssica Bernardo

Colaboração para o UOL

26/08/2022 23h21

Em quarto lugar na última pesquisa Datafolha, com 2% das intenções de voto, a candidata Simone Tebet (MDB) falou ao Jornal Nacional nesta sexta-feira (26), encerrando a série de sabatinas com presidenciáveis realizadas pela Rede Globo. Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também foram entrevistados nesta semana.

Em 40 minutos de conversa com os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos, Tebet falou sobre temas como a desunião no MDB em torno de sua candidatura, a corrupção de membros do partido, além de abordar propostas sobre educação, economia e habitação.

O UOL separou oito frases da senadora que chamaram atenção durante a entrevista.

Cidade banguela. Tebet criticou o uso de emendas de relator, usadas nas negociações do governo com as bancadas do Congresso em troca de apoio político. A emedebista disse que, se eleita, vai assinar uma portaria exigindo que todos os ministérios "abram as contas", para que a população saiba o destino dos recursos empenhados.

Para explicar como pretende lidar com o orçamento secreto, Tebet disse que vai investir na transparência e deu como exemplo uma cidade que teria recebido emenda para extrair 14 dentes de cada habitante, "do bebê ao idoso de 90 anos".

Dou um exemplo que parece anedota, mas fique registrado hoje, pode ser que vá virar meme depois disso. Uma cidade para poder receber muito dinheiro do orçamento secreto, disse que extraiu 14 dentes de cada habitante do seu município, é a cidade mais banguela do planeta. 14 dentes, do bebê ao idoso de 90 anos, é a cidade mais banguela do Brasil, para receber dinheiro e emitir nota fria."

Corrupção no MDB. Logo no começo da entrevista, Tebet foi questionada sobre os escândalos de corrupção envolvendo membros do MDB e defendeu o partido. A candidata citou nomes como Ulysses Guimarães e Mário Covas.

O MDB é muito maior que meia dúzia de seus políticos e caciques, o maior partido do Brasil, o partido que vem da base da redemocratização. O meu partido é o partido de Ulysses Guimarães, de Tancredo Neves, de Mário Covas, de homens desbravadores, corajosos, e acima de tudo éticos, que têm espírito público e vontade de servir o povo."

"Puxar meu tapete". Na sequência, a candidata disse que precisou "vencer uma maratona" para seguir na disputa pela presidência. Desde o período pré-campanha, diferentes integrantes do MDB, como o senador Renan Calheiros, têm declarado apoio à Lula já no primeiro turno.

Tentaram puxar meu tapete até pouco tempo atrás. Se tivesse um tapete aqui já teria caído da cadeira também. Tive de vencer uma maratona com muitos obstáculos. Nós tivemos oito candidatos, e eu permaneci. Passou Natal, virou Ano-Novo, chegou o Carnaval, disseram que o partido seria cooptado. Tentaram numa fotografia recente levar o partido para o ex-presidente Lula, judicializaram."
Tebet, lembrando os embates que travou para se manter na disputa.

A senadora disse ainda que é candidata não apenas do MDB, mas também do PSDB, do Cidadania e do Podemos, que fazem parte de sua coligação.

Polarização. Questionada por William Bonner sobre sua dificuldade em unir o partido em torno de seu nome, Tebet atribuiu a falta de apoio à polarização vivida no país.

Nós estamos diante de uma polarização, uma polarização política, ideológica, que está levando o Brasil para o abismo, Bonner. Essa é a grande realidade. Você tem aí uma polarização que faz com que os partidos ou alguns companheiros sejam cooptados, em compensação eu tenho, por exemplo, muitos dos prefeitos desses estados nos apoiando."

A emedebista disse ainda que, apesar da falta de apoio entre líderes de alguns estados, sua candidatura recebeu o apoio de prefeitos de várias cidades.

"Nós temos o prefeito da maior capital do Brasil, doze milhões de habitantes, o prefeito de Porto Alegre, nós temos o governador do Estado de São Paulo que vai dar palanque também para outros candidatos, que já esteve comigo em convenção que está nos apoiando. Só São Paulo são 24% da população brasileira", afirmou.

CPI da Covid. Um dos nomes que ficou em evidência no Senado durante os trabalhos da CPI da Covid, Tebet também falou no JN sobre os impactos da pandemia no Brasil e criticou o atraso na compra de vacinas contra o coronavírus.

Nós não vamos esquecer o legado da pandemia. Coisa triste que eu vivenciei lá. Eu não consigo falar sem me emocionar; e eu falo que eu tenho que me conter mesmo, porque foi um momento muito difícil da minha vida, porque eu entrei comovida e saí totalmente indignada com o que aconteceu lá dentro. Se negou vacina no braço do povo brasileiro; 45 dias de atraso. Quantas pessoas morreram neste período?"

Presidencialismo. Em resposta a Renata Vasconcellos, que perguntou até onde Tebet aceitaria ceder para atrair partidos em um eventual governo, a candidata criticou a forma como se dão as alianças entre o presidente e o Congresso atualmente, e declarou que vai buscar um "presidencialismo de conciliação".

Não é ceder, temos que deixar de lado esse chamado presidencialismo de coalizão, que na verdade é de cooptação, que aconteceu com o mensalão do passado. Compraram consciência dos parlamentares para tentar uma reeleição, foram descobertos, vieram com o petrolão, fatiaram a maior estatal do Brasil, e colocaram aí inclusive gente do meu partido, e do partido do atual Presidente da República, foi descoberto."

Igualdade salarial. Liderando uma das duas únicas chapas femininas na disputa presidencial deste ano, Tebet afirmou que o primeiro projeto que vai colocar em votação sobre o tema das mulheres é o de igualdade salarial no país.

Nós aprovamos no Senado, está parado na Câmara, se eu virar presidente, o primeiro projeto que vou pedir para pautar na Câmara dos Deputados é igualdade salarial entre homens e mulheres. A mulher ganha 20% menos do que o homem, exercendo a mesma função. Se for negra, preta, recebe 40% menos. Me explique qual é a lógica disso?."

Tebet foi questionada pela apresentadora do JN sobre a falta de candidaturas de mulheres em seu partido para os outros postos. A emedebista reconheceu o problema e disse que todas as siglas só cumprem a cota obrigatória. "Não é só do meu partido, são de todos os partidos, eles só cumprem a cota", afirmou Tebet.

Teto de gastos. Ao falar de economia, a candidata afirmou que o mercado financeiro sabe que o teto de gastos será extrapolado no ano que vem por causa dos programas sociais de transferência de renda e disse que não é possível deixar de pagar os R$ 600 para os beneficiários do Auxílio Brasil.

O mercado já sabe que nós vamos ter que o ano que vem extrapolar o teto [de gastos], nesse valor de algo em torno de R$ 60 bi para cobrir com essa transferência de renda, porque de novo, não é admissível nós não garantirmos pelo menos R$ 600 para quem tem fome, R$ 600 para quem come, mas não paga o aluguel."

A emedebista declarou que, se eleita, terá como um dos focos a erradicação da pobreza e que "pode faltar dinheiro para qualquer coisa, mas não pode faltar dinheiro para acabar com a miséria".

O teto de gastos foi criado durante a gestão do também emedebista Michel Temer tendo como justificativa um melhor controle das contas públicas.