Leia a íntegra da entrevista de Simone Tebet ao Jornal Nacional
A senadora Simone Tebet (MDB) foi a quarta e a última candidata à Presidência entrevistada pelo Jornal Nacional, da TV Globo, na noite de hoje. Durante a semana, Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram sabatinados.
Na entrevista com William Bonner e Renata Vasconcellos, o primeiro assunto foi corrupção e a candidata afirmou que o seu partido é um novo partido. Tebet falou sobre a falta de apoio dentro do partido e aliados e as dificuldades para garantir sua candidatura.
Na maior parte da conversa, a senadora falou sobre suas propostas para erradicar a miséria e a fome, como cobrar mais dos mais ricos, investir na educação, para, assim cuidar das crianças e adolescentes. Tebet também destacou que a polarização política levou o país ao abismo.
Para fechar, a candidata foi questionada sobre suas propostas para segurança pública, levando em consideração o seu estado, Mato Grosso do Sul, e ela falou das dificuldades desse território por causa das fronteiras, apontando que as armas que chegam ao Rio de Janeiro chegam por lá.
Leia aqui a íntegra da sabatina com Simone Tebet no Jornal Nacional:
[Renata Vasconcellos]: Olá, boa noite. Nós estamos entrevistando os candidatos à Presidência mais bem colocados na pesquisa Datafolha de intenção de voto divulgada em 28 de julho. Pela ordem determinada em sorteio com a presença dos assessores dos partidos, Simone Tebet, do MDB, é a entrevistada de hoje. O candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, do PL, o candidato do PDT, Ciro Gomes, e Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, já foram entrevistados nesta semana.
[William Bonner]: Em 40 minutos, nós vamos abordar aqui os temas que marcam a candidatura, e a candidata Simone Tebet vai ter um minuto para as considerações finais. Candidata, boa noite, obrigado pela presença.
[Simone Tebet]: Boa noite. Boa noite, Renata, boa noite, Bonner.
[Renata Vasconcellos]: Boa noite, obrigada por ter vindo, seu tempo começa a contar a partir de agora. Candidata, a senhora já disse que parte do seu partido, o MDB, foi para o fisiologismo e se envolveu com corrupção. A senhora afirma que nunca fez parte disso, mas afirma que é preciso fazer um mea culpa. Fato é que políticos do MDB envolvidos em escândalos de corrupção continuam no partido. Como é que a senhora pretende depurar o MDB?
[Simone Tebet]: Bom, primeiro dizer que o MDB é muito maior do que meia dúzia de seus políticos e seus caciques. É o maior partido do Brasil, o partido que vem da base da redemocratização. O meu partido é o partido de Ulysses Guimarães, de Tancredo Neves, de Mário Covas, de homens desbravadores, corajosos e, acima de tudo, éticos, que têm espírito público e a vontade de servir o povo. E hoje o meu espelho é Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos. Então, é este o espelho, e esta é a minha trajetória. Aprendi dentro de casa a ter coragem, espírito público e vontade de servir. O MDB vem da base, é o partido que tem o maior número de prefeitos, de vice-prefeitos, de vereadores, de vereadoras. É um partido ético que tem, sim, uma meia dúzia que esteve, por exemplo, envolvido no passado, no escândalo do Petrolão, do PT, e que não estão conosco. Aliás, Renata, se você me permitir, tentaram puxar o meu tapete até pouco tempo atrás. Tivesse um tapete aqui, eu acho que eu já tinha caído da cadeira também.
[Renata Vasconcellos]: Como assim?
[Simone Tebet]: Porque a todo momento... Veja, o que me trouxe até aqui? Tive que vencer uma maratona com muitos obstáculos. Nós tivemos oito candidatos, e eu permaneci. Passou o Natal, virou o Ano Novo, chegou o Carnaval, disseram que o partido seria cooptado, depois que iria para uma outra candidatura. Tentaram, em uma fotografia recente, levar o partido para o ex-presidente Lula. Judicializaram, Renata, minha candidatura. Judicializaram! E foi imediatamente rejeitada a ação. A todo momento me impedindo de fazer exatamente isso: de mostrar que o partido não é mais fisiológico. Hoje tem um presidente que sabe do seu compromisso, do compromisso e da importância que o centro democrático tem em relação ao Brasil, e é por isso que eu cheguei aqui. E eu não sou mais candidata do MDB, eu sou candidata do MDB, do PSDB, do Cidadania, do Podemos e de uma legião de pessoas que não querem mais voltar ao passado e muito menos permanecer no presente. Então, diante disso e com esse corpo de pessoas de bem, éticos, honestos, é que nós vamos, ganhando as eleições... se ganharmos as eleições, governar; governar com a maioria do centro democrático, da frente democrática.
[Renata Vasconcellos]: Mas, pelo que a senhora disse então, o velho MDB, de qualquer forma, ele continua dentro do chamado novo MDB. E mais: a corrupção não fica só no MDB, ela se estende a outros partidos no Congresso com quem a senhora vai ter que governar, vai ter que conversar, dialogar para justamente poder aprovar projetos de interesse de um eventual governo. A senhora pretende ceder? A senhora vai ceder cargos a políticos desses partidos?
[Simone Tebet]: Não, Renata, nós vamos governar com os partidos que se somem conosco. Ninguém faz nada sozinho. Mas é preciso apenas duas características e vou exigir apenas duas coisas para estar no Ministério: ser honesto e ser competente, independente de qualquer outro posicionamento. E nós temos muita gente honesta dentro do Congresso Nacional e dentro desses partidos. E os demais vão fazer oposição. Mas eu não vou blindar, não vou de forma alguma impedir os órgãos de fiscalização e controle de entrar dentro do meu governo e dentro de qualquer poder. Nós vamos estar garantindo a independência, a autonomia do Ministério Público, da PGR, da Polícia Federal, para fazer a sua parte, com transparência. No meu governo, vai ser transparência absoluta.
[Renata Vasconcellos]: Mas até onde a senhora está disposta a ceder para poder atrair os partidos?
[Simone Tebet]: Não é ceder, nós temos que deixar de lado esse chamado "presidencialismo de coalizão", que, na realidade é de cooptação, que aconteceu com o mensalão do passado. Compraram consciência dos parlamentares para tentar uma reeleição. Foram descobertos, vieram com o Petrolão, fatiaram a maior estatal do Brasil e colocaram ali, inclusive, gente do meu partido, que você tem razão, e do partido do atual Presidente da República. Foi descoberto. Para ganhar uma eleição, quase ganharam uma estatal e fizeram com que até hoje a gente pagasse e pague energia mais cara por isso, a todo momento tentando cooptar. Eu venho para fazer diferente. Do contrário, não colocaria o meu nome à disposição do Brasil. A presidente que vai estar no Brasil governando o Brasil, a partir de primeiro de janeiro do ano que vem, não é a senadora, não é a deputada, não é quem foi prefeita, quem foi vice-governadora, é a alma da mulher, o coração de mãe, é para isso, é para fazer diferente. É possível governar assim, que é a sua pergunta? É. Um presidencialismo de conciliação. Nós vamos trazer para perto pessoas que pensam como nós, que têm os mesmos projetos, que têm soluções concretas para os problemas reais do Brasil.
[William Bonner]: Agora, candidata, a senhora mencionou, ainda há pouco, que puxaram o seu tapete no MDB. Em nove estados e no Distrito Federal, líderes do MDB declararam abertamente apoio a candidatos à presidência que são adversários seus. Nove estados e o Distrito Federal, somados, correspondem a 51 milhões de eleitores. É um senhor colégio eleitoral. Por que a senhora não conseguiu unir o partido em torno do seu nome, a senhora não conseguiu o apoio integral do seu partido?
[Simone Tebet]: Nós estamos diante de uma polarização, uma polarização política, ideológica, que está levando o Brasil para o abismo, Bonner. Essa que é a grande realidade. Então, você tem aí uma polarização que faz com que os partidos, ou alguns companheiros, sejam cooptados. Em compensação, eu tenho, por exemplo, muitos dos prefeitos desses estados nos apoiando. Nós temos o prefeito da maior capital do Brasil, doze milhões de habitantes, o prefeito de Porto Alegre, nós temos o governador do Estado de São Paulo, que vai dar palanque também para outros candidatos, que já esteve comigo em convenção e que está nos apoiando. Só em São Paulo, são 24% da população brasileira. Mas eu acho que é o mais importante, de novo, eu só preciso de um caixote e um microfone. Agora é comigo. Depois de todos esses obstáculos, agora é hora de eu me dirigir às pessoas, falar para as pessoas que nós temos o melhor programa de país, o maior programa de governo, que nós temos condições de resolver o problema da fome, da desigualdade, da miséria, garantir educação de qualidade, uma saúde decente para as nossas famílias. Nós não vamos esquecer o legado da pandemia. Coisa triste que eu vivenciei lá. Eu não consigo falar sem me emocionar; e eu falo que eu tenho que me conter mesmo, porque foi um momento muito difícil da minha vida, porque eu entrei comovida e saí totalmente indignada com o que aconteceu lá dentro. Se negou vacina no braço do povo brasileiro; 45 dias de atraso. Quantas pessoas morreram neste período?
[William Bonner]: Mas então, a sua candidatura, inclusive, surgiu depois da sua atuação na CPI, né? Isso é de conhecimento do público todo. Eu falava ainda há pouco desses nove estados e do Distrito Federal, mas eu queria mencionar o caso do seu estado, especificamente. Em Mato Grosso do Sul, o candidato indicado pelo MDB, André Puccinelli, manifestou apoio à sua candidatura à presidência, mas por outro lado, ele disse também que quem quiser votar em outra pessoa, em outro candidato, não vai ser alvo de nenhum tipo de recriminação. Por que no seu estado a senhora não conseguiu a união do MDB?
[Simone Tebet]: Tem o apoio lá não só do MDB, como do PSDB, dos partidos que estão lançando candidaturas ao governo. Mas, de novo, a minha candidatura não vem para dividir. Ninguém governa um país sozinho e deixa os companheiros. Nós sabemos das dificuldades regionais. Nós sabemos... nós estamos vindo, eu, particularmente, de um estado conservador. Diante desse quadro, eu tenho que dar liberdade para os meus companheiros. E vamos lá, é meu estado. Quer dizer, os votos, na realidade que eu terei, serão pelo meu trabalho. Você falou, foi muito feliz quando falou da CPI. Porque hoje ser político se aparece só quando você está nas manchetes policiais, porque os escândalos tomam conta, e é natural porque o jornalismo tem que entregar a verdade para a população. Mas a minha história de vida política começou há 20 anos. Eu sou filha do interior do interior do Brasil, de uma cidade pequena. Fui morar na capital, aliás, me permita, hoje é aniversário de Campo Grande, um beijo a cidade que me acolheu com tanto carinho. Mas eu fui para Campo Grande e ali eu comecei minha vida. Fui estudar no Rio de Janeiro, vim fazer faculdade, voltei, dei aula 12 anos, dei aula exatamente como se administra um país. Olha que coisa interessante, jamais imaginei depois que estaria nessa bancada do "Jornal Nacional" como candidata à presidência da República. Fui deputada estadual, fui vice-governadora, prefeita, reeleita prefeita, fui considerada a prefeita da industrialização, nunca se levou tantas indústrias para o nosso estado. Nós tivemos o pleno emprego. E graças a isso tudo aconteceu na vida das pessoas, porque se você me permite ainda, se eu pudesse fazer alguma alteração na Constituição, para o futuro, não para agora, para não falar que eu estou legislando em causa própria, eu gostaria muito que os presidentes da República tivessem a experiência de ter sido prefeito, porque nada muda mais a vida das pessoas, nada aproxima mais a pessoa, nada dá mais experiência ao homem público do que ser prefeito. Porque é ali que o cidadão sabe, o cidadão sabe aonde você mora, ele sabe aonde você está, se bobear, ele sabe o remédio que você toma porque ele te viu na farmácia. Então é isso, é ali que ele bate pedindo casa para morar, pedindo emprego, vaga na creche, médico na clínica, no posto de saúde. Então é uma experiência ali já. Concluindo a sua pergunta, os votos que terei em Mato Grosso do Sul serão por méritos próprios, e respeito os companheiros e quem pensa diferente.
[Renata Vasconcellos]: Agora existe um outro tema que o seu partido, um tema importantíssimo sobre o qual seu partido parece não estar alinhado com as suas preocupações. A senhora promete ter um ministério com um número igual de mulheres e homens. E esse ano, 66% das candidaturas do seu partido são de homens, e só 33% de mulheres. Como é que a senhora pretende superar essa postura conservadora do seu partido?
[Simone Tebet]: Não é só do meu partido, são de todos os partidos, eles só cumprem a cota. Eu fui a primeira mulher presidente da Comissão de Combate à Violência Contra a Mulher, no Senado. E entre outras coisas, tem essa violência política. E nós conseguimos avançar agora com 30%, tempo de rádio, de televisão, para mulher, e isso fez com que nós pudéssemos aumentar em quase 50% o número de deputadas. E aqui eu vou falar uma coisa do meu coração. Eu fui relatora e virou lei, está na Constituição, agora, que os partidos que elegerem negros e elegerem mulheres, vão contar em dobro para o fundo. Não vai aumentar o fundo, é que vai dividir o fundo, e vai trazer mais fundo para os partidos que elegerem mulheres e negros. Olha que coisa boa.
[Renata Vasconcellos]: Mas por que a senhora não conseguiu envolver o seu partido nesse objetivo de não só cumprir a meta mínima, mas ir além?
[Simone Tebet]: Porque é uma escada, né, Renata. Tudo na vida da gente é difícil, você sabe disso. Como é difícil ser mulher na iniciativa privada, que dirá na vida pública. Eu sou privilegiada, porque veja, estou diante de um partido que saiu na vanguarda e teve coragem de lançar nesse momento mais difícil do Brasil uma mulher candidata presidente República. Isso é inédito. É inédito na história. E se me permitir, porque hoje é o Dia Internacional da Igualdade Feminina, onde a gente comemora o direito de votar. Vamos a uma rápida história aqui. Os avós de vocês que estão nos assistindo não podiam casar, as avós, sem autorização dos pais, não podiam trabalhar sem autorização do marido. Não podiam votar nem ser votadas. É um passo, é uma escada. O projeto número um nessa pauta, para mim, e nós conseguimos avançar graças ao fato de nós termos elegido uma mulher líder da bancada feminina, eu fui a primeira também líder da bancada feminina, isso me dá uma alegria danada, isso é uma emoção para mim, é uma prioridade absoluta como mãe de duas meninas. Nós aprovamos no Senado, está parado na Câmara, se eu virar presidente, o primeiro projeto que vou pedir para pautar na Câmara dos Deputados é igualdade salarial entre homens e mulheres. A mulher ganha 20% menos do que o homem, exercendo a mesma função, a mesma atividade. Se for negra, se for preta, ela recebe 40% menos. Me explique, qual é a lógica disso? Não é só por ela, não é pelo reconhecimento. 20% disso vai direto para o mercado, vai direto para a economia. Isso gera emprego direto, indireto. Qual é o problema? Nós estamos há 20 anos, Renata, lutando por um projeto desse e não conseguimos. Se eu for eleita Presidente da República, essa é a prioridade número um em relação à pauta feminina.
[Renata Vasconcellos]: A senhora falou em avanços no seu partido com relação a esse tema que eu abordei, mas, nos últimos quatro anos, o MDB não mudou. Em 2018, o MDB também lançou 66% de candidatos e 33% de candidatas.
[Simone Tebet]: E qual foi a média dos demais partidos? Igual. É a luta. Eu estou concordando com você que é difícil. Estou gostando de você ter me feito essa pergunta, porque é contra isso que a gente luta. Mas tem...
[Renata Vasconcellos]: Mas a gente está falando do MDB, no caso.
[Simone Tebet]: Não, sim, mas são todos, quer dizer, não dá para tirar o MDB e martirizar o MDB. É tudo uma comparação na vida. Eu lamento, eu luto. Inclusive, eu tenho um projeto nesse sentido que estabelece... Sabe como a gente vai realmente mudar? E aí a imprensa começou a despertar para esse projeto, Bonner? Eu tenho um projeto que eu estou pedindo para pautar, e não pautam no Congresso, estabelecendo o seguinte: tem que ter pelo menos 30% de mulheres nas executivas dos partidos, porque é lá que eles descobrem que a mulher é candidata. Aquela coisa que mulher não vota em mulher não é verdade, não é? Porque escolhem mulheres, muitas vezes, laranjas. A mulher vota em mulher se ela souber que tem uma mulher competitiva, corajosa, que tem currículo, que tem trabalho. Quantas mulheres de chão de fábrica? Quantas professoras, quantas líderes comunitárias, quantas mulheres das comunidades têm condições de liderança? Então, quando nós tivermos 30% de mulheres nas executivas, nós vamos fazer a diferença e nós vamos mudar esse percentual.
[William Bonner]: Vamos falar de economia? A senhora, no seu programa, a senhora promete criar um programa permanente de renda, erradicar a miséria, zerar a fila do SUS, construir um milhão de casas. Mas o que se sabe: o ambiente econômico do próximo governo, do próximo presidente, quem ocupar o Palácio no ano que vem, seja quem for, vai ter um ambiente econômico hostil, de desequilíbrio das contas. Como é que essa conta vai fechar com esses gastos que a senhora está planejando?
[Simone Tebet]: Muito simples: nós temos o melhor time, a melhor equipe dos economistas liberais do Brasil. Então nós temos um compromisso fiscal, mas como meio para se alcançar a responsabilidade social. A agenda prioritária, o eixo do meu governo são as pessoas, a agenda social: erradicar a miséria, diminuir a pobreza e acabar com a fome no Brasil. É inadmissível um Brasil que alimenta o mundo, nós alimentamos o planeta Terra, e nós temos a incapacidade de alimentar os nossos filhos. Hoje, quando nós sairmos daqui, cinco milhões de crianças vão dormir com fome no Brasil. Nós não podemos admitir isso. Pode faltar dinheiro para qualquer coisa, mas não pode faltar dinheiro para acabar com a miséria. A pobreza nós vamos diminuir, a miséria nós vamos acabar. De que forma, Bonner? De trás para frente na sua colocação: um milhão de casas são 250 mil casas para famílias de até um salário mínimo e meio. Quanto isso custa, lembrando que o município dá o terreno, a estrutura, e a União entra, com a Caixa Econômica, com esse valor subsidiado? Exatamente o valor do orçamento secreto por ano. Nós chegamos a essa conta só acabando com o orçamento secreto. Em relação à transferência de renda permanente, isso já está aí, está precificado, o mercado já sabe que nós vamos ter que, o ano que vem, extrapolar o teto nesse valor de algo em torno de 60 bi para cobrir essa transferência de renda, porque, de novo, não é admissível nós não garantirmos pelo menos 600 reais para quem tem fome; 600 reais ele come, mas não paga o aluguel, e quem está nos ouvindo, as nossas mães sabem disso. E você falou de zerar as filas. Aí outra coisa que eu acho muito importante. O governo abriu calamidade pública, estabeleceu que tudo era calamidade pública para gastar dinheiro que não tem, para emitir títulos, para furar teto em cima de... para fazer orçamento secreto, para cobrir gastos que não são gastos da pandemia. Eu te pergunto: quais são as duas sequelas da pandemia? O que mais nos chocou, além das mortes prematuras dos nossos entes queridos? O nosso déficit na grade curricular das nossas crianças. Dois anos das crianças pobres, nas escolas públicas, sem estudar, sem saber ler e escrever, e as filas intermináveis, hoje, de consultas, e exames, e cirurgias. Pessoas estão morrendo com câncer avançado de próstata e de mama porque não puderam fazer exames. Então, por que eu estou dizendo isso? Eu estou dizendo que isso sim nós podemos decretar, dar continuidade, estado de calamidade, ou estado de emergência, para fim de... porque dinheiro tem; às vezes não tem o teto... para fim de dizer para o prefeito: cumpra a sua parte, faça os exames, mande a nota e nós vamos pagar. Então, em dois anos, não em um, nós zerarmos essa fila do passivo; não são as filas permanentes das sequelas da COVID.
[William Bonner]: Nós estamos falando de medidas, de iniciativas que consomem, exigem dinheiro, exigem investimento. A senhora mencionou aí, por exemplo, o orçamento secreto, mas o orçamento secreto não está nas mãos do presidente, ou da presidente, está nas mãos do Congresso, é uma questão a se resolver. O eleito terá que convencer o Congresso a abrir mão do poder que tem hoje com o orçamento secreto, cerca de 20 bilhões de reais, mas independentemente disso, chama atenção no seu plano de governo que a senhora manifesta diversas intenções, com termos como: "Vamos ampliar certa coisa", "Vamos acelerar isso", "Vamos reforçar aquilo", "Promover isso e aquilo". Faltam 37 dias para as eleições, hoje. Não tem como a senhora ser mais específica, detalhar mais esses planos para que o eleitor possa avaliar, não apenas a pertinência, mas a capacidade de executar esses planos que a senhora está falando?
[Simone Tebet]: Sem dúvidas, a campanha começa agora, e começa hoje. Eu sei da responsabilidade que tenho de estar aqui, e nós vamos estar no horário eleitoral falando disso, mas nós estamos colocando números. Um milhão de casas, zerar a fila das cirurgias atrasadas em dois anos, nós vamos e vamos estender mais, eu vou governar olhando para o futuro: criança e adolescente é o centro do nosso governo.
[William Bonner]: Mas como fazer isso, candidata?
[Simone Tebet]: Vamos lá. Orçamento secreto. Não é com diálogo só, é com transparência, com um único ato, uma portaria, exigindo que todos os ministros abram as contas de seus ministérios. Na hora em que a população ver o Ministério Público, o Tribunal de Contas, ver, por exemplo, que a maioria desses recursos estão indo para os municípios mais pequenininhos. Por que está indo no município mais pequenininho, onde não tem imprensa? Por que não está chegando serviço lá? Quem é que foi que mandou? Chegou o dinheiro? Dou um exemplo que parece uma anedota, mas fique, quem sabe, registrado hoje como, pode até ser que vá virar meme depois disso: uma cidade para poder receber muito dinheiro do orçamento secreto, disse, para aumentar o teto, que extraiu 14 dentes de cada boca de cada habitante do seu município. É a cidade mais banguela do planeta. Quatorze dentes, do bebê ao idoso de 90 anos. É a cidade mais banguela do Brasil. Para quê? Para receber dinheiro e emitir nota fria. Não é volta de 10%, é 100% embolsado, dinheiro que vai para o bolso e que está tirando dinheiro de vocês. Dinheiro do remédio que não tem no posto, na creche. A partir do momento que a gente abre essas contas, a gente basicamente coloca os órgãos de fiscalização e controle, e o orçamento secreto acaba rapidinho.
[William Bonner]: Vamos lá: erradicar a miséria no Brasil. Não é um tema de que alguém possa vir a discordar. Não se imagina ainda um cidadão no Brasil que discorde de uma medida como essa, mas para executar isso, de quanto a senhora precisa? Qual é o valor, o tamanho da conta para executar isso? Lembrando mais uma vez da pergunta que lhe fiz sobre as dificuldades de equilíbrio orçamentário para o ano que vem. Essa gestão comprometida.
[Simone Tebet]: Eu sou relatora de um projeto chamado "Lei de Responsabilidade Social", feito pelos maiores economistas liberais do Brasil, que já foram ministros, presidentes de Banco Central, do senador Tarso Jereissati. Nós temos uma meta de, em quatro anos, erradicar a miséria. Foi desse projeto. Se hoje está uma média de 4%, ele vem? quando a gente fala erradicar, é chegar a 1%, 0,5%. Ninguém erradica absolutamente. Mas 1% é menos do que a média dos países desenvolvidos no mundo. De 4 para 3,5; para 3; 2,5; 2, mas a gente começa depois a crescer. Esse projeto, que está organizado, ele depende de duas coisas que estão acontecendo: reforma tributária e o Brasil voltar a crescer. Quando o Brasil voltar a crescer e gerar emprego, você também diminui. Então, não erradicar a pobreza é só com dinheiro público. Erradicar a pobreza não é dando só transferência de renda, é dando peixe e ensinando a pescar. Inclusive, a nossa transferência de renda vem com condicionantes. Nós temos, se vocês me permitirem, nós temos, Renata e Bonner, meio milhão de anjos da guarda no Brasil. Sabe o que é isso? Meio milhão de anjos da guarda no Brasil? São os assistentes sociais e agentes comunitários de saúde que fazem por amor aquilo que eles fazem. Eles entram nas casas e vão ver se a criança está sendo vítima de pedofilia, se a mãe está sendo espancada, se ele está na escola, se a vacina está em dia, e nos ajuda a incluir no mercado de trabalho. Quando nós falamos em erradicar a miséria é: de um lado, garantir a transferência de renda para quem está precisando, isso vai cair, à medida em que ele vai entrando no mercado de trabalho; do outro lado, é a garantia de escola de qualidade. O filho do pobre que está na escola pública tem que ter, e vai ter, a mesma qualidade de ensino da escola privada; e, nesse aspecto, a união tem que parar de jogar essa conta para os estados e municípios. Educação é nossa responsabilidade. Eu, como professora, não tenho como pensar diferente. Então, de que forma nós vamos erradicar a miséria nesse aspecto, além da transferência de renda? É preparar o Brasil para o futuro. Daqui dez anos, Deus nos livre, mas se vier uma pandemia, uma guerra, se houver uma crise, essa geração está preparada. Ela não vai ser mandada embora. Ela vai estar preparada porque ela está com uma educação de qualidade. Nesse aspecto, nós vamos cuidar da primeira infância, garantido pelo Fundeb. Aí tem dinheiro do Fundeb. Nós já dobramos, já está aprovado no Congresso. Educação tem dinheiro. Não falta dinheiro para a Educação, falta vontade. Ninguém quer educar o povo porque quer o povo no cabresto para, na hora do voto, poder, através de uma transferência de renda, comprar voto. Eu quero povo cidadão, eu quero povo que escolha os seus eleitores independentemente de partido, mas de acordo com a sua consciência. Ele não faz isso sem educação. Então, nós vamos garantir 100% das vagas, que é isso que diz a lei, e o dinheiro já está lá, para crianças na creche, de quatro a cinco; e, no ensino médio, nossos jovens não podem mais ficar sequestrados pelo crime organizado, pelas drogas. O ensino médio vai ter aluno dentro, com conexão da Internet, aprendendo, já um ofício com ensino técnico. E nisso, você não falou, foi generoso, mas ainda tem uma outra conta para eu pagar, chamada "poupança jovem", mas se quiserem, que é depositar um dinheirinho na conta do aluno todo ano até o término do ensino médio.
[William Bonner]: A senhora mencionou a reforma tributária.
[Renata Vasconcellos]: A gente vai voltar a falar também de educação, mas a senhora falou da necessidade de se fazer uma reforma tributária. E o imposto de renda, qual é o seu plano?
[Simone Tebet]: Nós temos três reformas tributárias importantes no Brasil, mas a mais importante hoje é do consumo, Renata. Porque quem mais paga imposto no Brasil é o pobre, é o que mais consome. Proporcionalmente a renda, quanto você deixa no supermercado? Quanto eu deixo no supermercado? Quanto o pobre deixa no supermercado? Ele deixa metade, um pouco mais da metade do salário dele no mercado. Então, a reforma tributária mais emergente, que está pronta para votar no Congresso Nacional, só não votou porque o presidente não quis, que nós tentamos votar na Comissão de Constituição e Justiça, por isso que eu digo que dá para votar seis meses no ano que vem, porque a gente vota esse ano ainda, se eu for eleita, no Senado, e o ano que vem na Câmara, ela mexe exatamente com isso. Nós estamos desburocratizando, simplificando, as empresas vão ter um por conta disso, vão ter uma economia de 60 bilhões de reais por ano, porque hoje usam para entender a máquina, a legislação com contador, com advogado, com administrador, isso vai ser circular na economia para abrir mais porta de emprego, gerar emprego e renda. Mas indo para o lado do mais pobre, ele vai contar e vai ter devolvido no sistema, isso não é um projeto nosso, já está lá há dois anos e todos os governadores concordaram, todos os governadores pela primeira vez na história, e esse projeto vai depois devolver o imposto que a dona de casa mais humilde paga, no próprio CadÚnico, no próprio cartão dele.
[Renata Vasconcellos]: Só para entender com relação ao imposto de renda que eu lhe perguntei. Quais são seus planos, a gente tem cinco faixas, né, os isentos e mais quatro. O que que muda?
[Simone Tebet]: Nós temos que garantir mais espaço para a classe média. Ou seja, nós temos que fazer com que classe média possa não pagar o imposto de renda, para isso só tem um caminho: tirar dos mais pobres e pedir para os mais ricos. Eu sou a favor da taxação do lucro e dividendos, e essa é uma discussão madura que nós temos com todo o equilíbrio, mas com toda a verdade, colocar para a população. Eles já sabem disso, isso está no nosso programa, e a gente mexe na tabela de imposto de renda à medida em que cobra essa taxa de lucros e dividendos dos ricos, é a lei "Robin Hood", mas nós não vamos roubar de ninguém, nós só vamos pedir a eles que contribuam minimamente para o país, que é o país mais rico do mundo com o povo mais pobre.
[Renata Vasconcellos]: Mas a senhora corrigiria também a tabela, por exemplo, para aumentar a isenção dos isentos, por exemplo? Aumentar o número de isentos, por exemplo?
[Simone Tebet]: Sim, sim. Alcançar o máximo possível a classe média, isentar o máximo possível essas tabelas, essas faixas. E a partir daí, a dosagem vai depender, porque eu não vou cometer estelionato eleitoral, ninguém vai aqui não colocando números, os nossos economistas estão colocando tudo no papel, porque a única coisa que eu tenho é meu nome e minha história, não venho para mentir em rede nacional, nós vamos mexer na tabela.
[Renata Vasconcellos]: Só queria saber quanto cada faixa vai pagar.
[Simone Tebet]: Não, aí nós vamos ter que ver dados, porque essa é uma pergunta importante. Por que o orçamento brasileiro está na mão do Congresso? Porque nós temos um governo que não planeja nada, ele não sabe aonde quer chegar, ele não sabe para onde quer ir, não tem projeto de país. E com isso, o dinheiro fica solto, todo mundo vai lá e pega um pouquinho, é um puxadinho, daqui a pouco essa casa cai, porque o alicerce, que é a base, não foi feito o dever de casa, não sabe o orçamento. A dona de casa sabe. Pergunta o que ela faz com o pouquinho de dinheiro que ela ganha. Primeiro ela compra comida, depois ela paga o aluguel, se der, ela paga as contas, só aí ela vai fazer o lazer. É assim também quando se administra um país, você elege prioridades e vai dentro do possível adequando...
[William Bonner]: A senhora falou em prioridades, e tinha falado também em educação, tem dinheiro para a educação, falta vontade. Então, vamos falar um pouco de educação, aqui. A senhora fala com muito orgulho de ser professora, a senhora fala com orgulho também de ter sido vice-governadora de Mato Grosso do Sul. Quando a gente olha o período em que a senhora esteve no governo do seu estado, a gente vê que a avaliação do ensino médio no Ideb ficou estagnada naquele período, e, ano a ano, acabou se afastando, crescentemente, da meta estabelecida pelo Governo Federal. A senhora tem um diagnóstico de por que isto aconteceu?
[Simone Tebet]: Primeiro que eu era vice-governadora, não era governadora, não tinha caneta na mão. Mas posso garantir que nós saímos do governo do estado garantindo os melhores salários e valorização dos professores do Brasil. Não sei se estava entre os três ou se foi o primeiro na época.
[William Bonner]: A informação é o ensino.
[Simone Tebet]: Não, e graças a isso, o Ideb, saiu recentemente, o Brasil no ensino médio, acho que o MDB lá, a nossa gestão, e agora com a atual, uma consequência do passado, o Ideb deu um salto, eu acho... salvo engano, não quero cometer nenhuma fake news aqui, mas o Ideb de Mato Grosso do Sul para o ensino médio, se não for o primeiro, segundo, é o terceiro. Fruto de... educação. Me cobrem pelo que fiz como prefeita, aí eu posso falar. Fui uma das primeiras do Brasil a pagar hora atividade para o professor...
[William Bonner]: Tá bom.
[Simone Tebet]: Uma das primeiras do Brasil a pagar o piso salarial para o professor.
[William Bonner]: Eu lhe fiz a pergunta apenas para relembrar um número que a senhora traz de um período em que esteve no executivo estadual como vice-governadora, como a senhora lembrou, é fato. No entanto, a senhora recentemente disse que, para se obter uma educação de qualidade, oito anos são suficientes. Se são suficientes oito anos, os números que a senhora traz desta gestão à frente de Mato Grosso do Sul não parecem amparar a tese.
[Simone Tebet]: Dá exatamente sete anos. Nós saímos em 2015 e nós estamos em 2022. Os dados do ano passado, seis anos, mostram— dá uma olhadinha no Ideb do ensino público no estado de Mato Grosso do Sul. Não estou dizendo que foi só mérito do governo, tem mérito do atual governo também.
[William Bonner]: Sim, porque no período em que a senhora estava, os números não mostraram isso.
[Simone Tebet]: E se você me permitir, os dados, porque eu não falo nada sem checar, não são meus. Eu gosto muito dos institutos que cuidam da educação no Brasil, e "Todos pela Educação" diz isso. Hoje, nós avançamos um pouco, ainda que não muito, no ensino básico. Então, em função disso, a gente só precisa melhorar o fundamental— o ensino fundamental I, a gente precisa melhorar o fundamental II para garantir que, entre o fundamental II e o ensino médio, que são esses oito anos, a gente garanta um ensino de qualidade. A gente avançou, o problema é que avançou muito lentamente. Então oito anos se muda, sim, uma geração. E disse isso para dizer o quê? Só para dizer para a classe política: façam educação de qualidade para salvar o povo brasileiro. É só isso que vai salvar o povo brasileiro. É só isso que dá cidadania. Qual é o direito social mais importante de um cidadão? É o direito ao trabalho. Não tem trabalho que não tem qualificação, ou tem um sub-trabalho, ou ele vai para a informalidade. Ele, tendo educação, ele tem direito ao trabalho. É o direito ao trabalho que garante comida na mesa, é o direito ao trabalho que garante o aluguel, que garante o lazer, que garante felicidade, que dá esperança para as pessoas. Então, educação não tem como não ser prioridade nacional; ela vai ser prioridade nacional absoluta. Cheguei a primeira pergunta que me fizeram, Bonner, quando eu falei sobre isso, porque eu sou uma apaixonada pela educação, foi assim: "Mas criança não vota, adolescente não vota". Eu tive que escutar isso, de uma pergunta feita para mim, quando eu fui visitar lá nas barbas do Planalto, um dos bairros mais pobres, uma das cidades mais ricas do Brasil, Brasília, eu vi um dos bairros mais pobres quando eu fui visitar uma creche da Tia... não vou citar o nome porque não gosto, mas enfim, fui visitar uma creche bancada sozinha por uma mulher. Esgoto a céu aberto em todas as ruas. Sabe o que eu ouvi daquela mulher? É que eu não posso falar porque eu me emociono, mas ouvi dela... eu falei assim: "Hoje eu vim aqui para ouvir vocês". Uma mulher chegou para mim e falou assim: "Olha, então você vai ouvir o seguinte: eu não quero só 600 reais, porque os 600 reais só dão para comer, mas o que eu quero é dignidade, porque o meu filho, quando ele vai buscar emprego, ele é até recebido, mas quando eles olham e veem onde ele mora, a primeira coisa que eles falam é olhar o sapato do meu filho para ver se eu não estou trazendo esgoto para dentro... se ele não está trazendo esgoto para dentro do ambiente". É essa a realidade que nós temos que mudar, e não vai ser só com 600 reais. Se nós não prepararmos o país para o futuro, nós, de novo, estaremos perguntando, o Bonner perguntando para o próximo candidato a Presidente da República de onde vai tirar o dinheiro para fazer tudo isso. Não vai precisar, porque nós vamos ter realmente filhos cidadãos. Nós vamos abraçar, nós vamos cuidar dessas crianças; é disso... e dos nossos adolescentes. É disso que o Brasil está precisando. É por isso que eu me apresento ao Brasil. A gente fala muito de... que eu fui isso, que eu fui aquilo, mas quem está aqui não é a senadora, quem está aqui não é a deputada, quem está aqui não foi a prefeita, reeleita prefeita; quem está aqui é a alma da mulher brasileira, é o coração de mãe que não aguenta mais ver o que está acontecendo na rua. Eu lutei muito, Renata, quando eu tinha 14 anos, eu pedi para a minha mãe autorização para ir para as ruas lutar por Diretas. Eu não podia ainda dirigir, porque eu vim muito nova para o Rio de Janeiro, eu pegava ônibus, e eu vi, na década de final de 80, pessoas comendo comida da lata de lixo; eu nunca imaginei mais vivenciar essa situação, e hoje a gente retrocedeu nos índices sociais. Por quê? Porque o passado, o governo do PT não fez o dever de casa com a educação, e o atual não dá nenhuma importância a isso.
[Renata Vasconcellos]: A gente insiste, candidata, em trazer a sua experiência no executivo, porque ela é importante como um exemplo, né? E durante o seu período como vice-governadora no seu estado, o Mato Grosso do Sul, na área de Segurança Pública também os números não foram bons. Houve casos de homicídios dolosos, latrocínios e lesão corporal seguida de morte, houve um aumento de 77%. As suas propostas para a Segurança Pública levam em conta essa experiência no seu estado?
[Simone Tebet]: Sem dúvida, Renata. Eu sou de um estado de fronteira. É um estado que não dá para comparar com nenhum estado.
[Renata Vasconcellos]: De que forma então?
[Simone Tebet]: Você sabe de onde vem todas as armas que chegam no Rio de Janeiro? As drogas que vêm do Rio de Janeiro, naquela época? A maioria absoluta vinha do meu estado. Só que ele deixava um rastro de violência antes de chegar aqui. Eu sou de um estado de fronteira. Eu trabalhei com o secretário de segurança em um dos projetos mais importantes do Brasil, que está engavetado, começou com o Fernando Henrique, dez bi, um bi por ano para a gente fechar a fronteira contra o crime organizado, que começa na Amazônia e termina no Paraná, em foz do Iguaçu, mais ou menos assim. Sistema integrado de inteligência, começou com o CIVAM. Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Rodoviária, Polícia Federal, Forças Armadas, envolvendo base aérea, Marinha e Exército, e nós temos tudo isso dentro do nosso estado. Todo ano, o dinheiro era cortado, e não acontecia. Nós não temos condições de cuidar sozinhos. Graças a essa experiência, nós estamos colocando no nosso programa de governo. Nós vamos recriar o Ministério Nacional de Segurança Pública. Porque é a união que coordena. Segurança Pública, os governadores não dão conta de fazer sozinhos. Eu pergunto para vocês que estão nos assistindo se o seu bairro está seguro agora. Então, é preciso uma coordenação, é preciso vontade política. E não precisa mais dinheiro. É preciso vontade política. Nós temos o Fundo Nacional Penitenciário, nós temos o Fundo Nacional de Segurança Pública. Nós precisamos de uma coordenação. Nós precisamos de alguém que olhe, que cuide, não que desmobilize os órgãos de fiscalização e controle do país. É assim que nós vamos fazer, colocando um bom ministro da Segurança Pública para estar ao lado dos governadores, combatendo o crime organizado. Quando eu falo "combatendo o crime organizado", é mexendo com todo o sistema. É mexendo com o Código de Execução Penal, com sistema carcerário, vendo a quantidade de presos provisórios lá. Quantos pais de família estão presos, cometeram nada, às vezes foram no supermercado, e, passando necessidade, pegaram um quilo de carne para comer e estão presos ao lado de bandidos, faltando vagas para colocar os verdadeiros bandidos na cadeia...
[William Bonner]: Candidata. Desculpe, eu não queria interrompê-la.
[Simone Tebet]: Tranquilo. Por favor.
[William Bonner]: O tempo está passando, eu só não queria que a gente deixasse de abordar uma questão que chama a atenção no seu plano de governo. A senhora tem dito que vai criar um seguro de renda para trabalhadores informais. Hoje são 40 milhões de brasileiros. Isso parece ser uma espécie de previdência desses trabalhadores informais. E a gente sabe que o financiamento de previdência, não é só no Brasil, é um problema para todos os países do mundo, não?
[Simone Tebet]: É um FGTS, e é um FGTS para os informais que estão no Auxílio Brasil. E já tem números, e já tem valores. A cada declaração, ele vai dizer o quanto. Nós não vamos checar, ele vai dizer o quanto ele realmente ganha na informalidade. Ele é um pedreiro, ele trabalha uma vez por semana e ganha 150, 190 reais na semana. Então, chegou no final do mês, ele recebeu 800 reais. Vamos colocar mil reais para facilitar a minha conta. Nós vamos depositar 15%. Isso faz parte da transferência. Por isso que eu falei do programa da transferência de renda, e veio inclusive desses economistas liberais essa ideia. Por que isso? É uma forma de a gente garantir que se em algum momento ele possa, excepcionalmente duas vezes por ano, ele levantar, e não é para efeito de previdência, é para efeito de sobrevivência mesmo, ele não passar mais necessidade.
[William Bonner]: Duas vezes ao ano ele poderia retirar o saldo?
[Simone Tebet]: Excepcionalmente, em alguns casos. Quinze, eu estou falando em números concretos, depois nós vamos colocar na televisão de onde vai sair, 15% da renda que ele declarar, nós vamos depositar para uma emergência dele.
[William Bonner]: Tá. Então, mas a forma de financiamento disso, brevemente, gostaria, a senhora disse que tem essa forma?
[Simone Tebet]: Temos a forma.
[William Bonner]: O cálculo de tudo o que está programado?
[Simone Tebet]: E vai ser devidamente colocado. Eu tenho muita preocupação com isso, porque, repito, os maiores economistas liberais estão. Então, eles são Caxias, eles são muito rigorosos, e têm que ser. Porque se você não aplica bem o dinheiro, se você gasta mais do que tem, isso vai bater lá na inflação no preço da comida, quem vai pagar a conta é o mais pobre.
[William Bonner]: A nossa insistência exatamente se dá por esse motivo, a nossa insistência no tema, porque, como se sabe, as contas do ano que vem estão claramente já comprometidas.
[Simone Tebet]: Vamos abrir, Bonner, os cem anos do sigilo do presidente, cartão corporativo, acabar com os supersalários? É gradual, a gente sabe. Eu dormi sete anos dentro do Senado Federal. Eu sei que não é fácil, mas nós vamos? fora o Brasil voltando a crescer, há uma arrecadação maior por parte das empresas, das indústrias, o Brasil crescendo...
[Renata Vasconcellos]: Obrigada, o nosso tempo terminou, a senhora agora tem um minuto para suas considerações finais.
[William Bonner]: Depois do gole d'água.
[Simone Tebet]: Obrigada, obrigada. Bom, eu quero me dirigir a vocês para dizer que eu quero ser Presidente da República porque o Brasil precisa seguir um caminho diferente. Não é possível continuar como está. O Brasil precisa de união, de amor e de cuidados verdadeiros. Nós vamos colocar as pessoas em primeiro lugar, para acabar com a fome e com a miséria. Porque eu sou mãe, sou professora, sou advogada, tenho experiência. Fui prefeita, reeleita com 76% dos votos. Antes, fui deputada estadual, vice-governadora, e hoje sou senadora. Tenho experiência e sou ficha limpa. Por isso, eu vou estar todos os dias pedindo autorização para entrar na sua casa, para poder olhar nos seus olhos, uma campanha simples, direta, para poder falar para vocês como nós vamos apresentar soluções reais para os problemas reais da população brasileira. Comida mais barata, educação e saúde de qualidade, emprego e renda, esse é nosso compromisso. Para isso, eu preciso da sua confiança, do seu apoio e do seu voto. Meu número é 15. E assim, juntos, com amor e com coragem, que nós vamos mudar o Brasil de verdade.
[William Bonner]: Seu tempo, candidata.
[Simone Tebet]: Muito obrigada.
[Renata Vasconcellos]: Obrigada mais uma vez pela sua presença. O Jornal Nacional volta depois do intervalo.
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