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Tales: Esperava mais de Simone Tebet, que cansou o telespectador

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/08/2022 22h24Atualizada em 27/08/2022 05h31

A senadora Simone Tebet (MDB) foi a quarta e última entrevistada na série de sabatinas realizadas pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, mas não convenceu. O colunista do UOL Tales Faria avaliou que a entrevista da presidenciável, realizada hoje, acabou cansando o telespectador, que esperava ouvir mais soluções de governo.

"Esperava mais da Simone Tebet. Sinceramente, acho que ela começou nervosa e foi nervosa até o final. Ela ligou a metralhadora e falava, falava, falava e falava. Acho que isso para o telespectador ficava um pouco cansativo", avaliou durante o programa UOL Eleições, que analisou a participação de Tebet no telejornal.

"Outra coisa é que achei que ela fugiu de respostas e saia pela tangente. Teve uma hora que o Bonner foi bem claro: 'vem cá senadora, quanto a senhora vai precisar para extinguir com a miséria como está dizendo no seu programa?'. Ela rodou, rodou, rodou e não respondeu. (...) Ela faz muitas promessas, mas não aparece de onde vai vir o dinheiro"

Tales também fez um paralelo entre as entrevistas e o programa de governo de Tebet e Ciro Gomes, pontuando que o candidato do PDT, além das promessas, apresenta soluções. "Se você fizer uma comparação com o Ciro, ela é quase como o Ciro na medida em que tem um programa com várias coisas para oferecer, mas o Ciro vai além das promessas. Ele aparece com a numerologia toda. 'Vamos botar tantos milhões aqui e tantos milhões ali', e ela não".

Por fim, o colunista do UOL também chamou a atenção para o fato de que senadora não tem conseguido alavancar sua candidatura como uma opção da chamada "terceira via".

"Simone era a candidata predileta da Faria Lima. Se esperava dela que fosse a terceira via e ela não está se tornando. Isso a está deixando meio perdida na história. Acho que essa entrevista mostrou isso. Ela está muito insegura e um pouco perdida", concluiu.

Mariliz: Simone Tebet parecia mais à vontade na CPI da Covid

"A gente viu a Simone Tebet participar da CPI da Covid e ela parecia muito mais à vontade, uma pessoa muito mais assertiva e aguerrida. Foi uma entrevista bastante calma, até pela posição dela nessa corrida eleitoral", analisou a comentarista do UOL Mariliz Pereira Jorge.

"Ela tem 2% das intenções de voto então acho que a pressão tanto sobre ela, quanto sobre os apresentadores acaba sendo menor", completou. "Acho que ela começou a entrevista bem nervosa, mas isso não foi só ela, aconteceu com outros candidatos", completou.

Mariliz também destacou a representatividade política feminina levada por Tebet ao "Jornal Nacional" durante o UOL Eleições. "Ela fez uma defesa importante da participação da mulher na política, mas acho que o discurso dela ainda é muito engessado. Falou sobre algumas questões ali e acho que faltou abordar outras. Acho que as pessoas sentiram falta de conhecer um pouco mais a candidata".

Ela ainda chamou a atenção para a postura de William Bonner e Renata Vasconcellos, que insistentemente cobraram uma maior representatividade feminina dentro do partido da candidata. "A gente teve mais de 10 minutos, muito tempo com os apresentadores falando da dificuldade de ela ter apoio do partido, inclusive no próprio estado. Ela foi cobrada o tempo todo pela falta de representatividade de mulheres no partido."

Deysi: Tebet seguiu muito media training, mas aproveitou para se apresentar

A cientista política Deysi Cioccari também participou da análise e, apesar de enxergar como positiva a participação de Simone Tebet na sabatina, chamou a atenção para um excesso de orientações do media training que foram seguidas. "Às vezes me deu a impressão de que ela estava fazendo muito o que o media training mandou. Ela insistiu em falar que era mulher, que era mãe, e isso é muito coisa de media training. Isso ficou muito explícito na fala dela".

Mas, apesar de um nervosismo natural para uma primeira sabatina no "Jornal Nacional" concorrendo a presidência do país, a cientista política enxergou pontos positivos.

"Ela começou nervosa, mas tem alguns aspectos que vejo como positivos. Ela foi a única estreante entre os entrevistados e ela segurou bem o rojão em uma bancada do 'Jornal Nacional', acho que foi muito bem. Ela não respirou. Os entrevistadores perguntavam e ela já respondia. Vi isso como algo muito positivo".

Além disso, Deysi também destacou algumas cutucadas que a candidata deu nos líderes das pesquisas de intenção de voto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). "Ela aproveitou umas oportunidades muito bem. Quando era questionada, sempre aproveitou para dar uma pancadinha no Lula ou pancadinha no Bolsonaro. Mas, se eu fosse resumir essa sabatina dela, acredito que a Tebet usou o tempo dela para se apresentar. Uma apresentação de quem é Simone Tebet no cenário nacional".

Kennedy: Achei que deveriam ter perguntado sobre aborto para Tebet

O colunista do UOL Kennedy Alencar levantou a questão do aborto também durante a análise no UOL Eleições. Em um primeiro momento, ele disse que por Simone Tebet ser mulher e líder da bancada feminina, a pergunta deveria ter sido feita pelos âncoras do "Jornal Nacional". "Ela é líder da bancada feminina, é uma senadora, teve um papel importante na CPI e o mote dela é 'a alma da mulher brasileira e o coração de mãe'. Claro que a obrigação de pautas femininas e da questão feminina tem que ser de todos os candidatos e todos os partidos. Mas no meu entender, [faltou] na pergunta dos apresentadores, era a questão do aborto como uma questão de saúde pública, se é relevante ou não. Eu acho importante porque era uma mulher, com questões caras a ela e ela tem um lugar de fala que eu não tenho", opinou.

"Eu, por exemplo, acho que o aborto tem que ser encarado como uma questão de saúde pública no Brasil e a gente sabe o preço que as pessoas pagam por defender essa posição em um país conservador como o Brasil. É sexista achar que ela tem que responder sobre aborto ou não? Até acho que os outros também têm que responder, mas tem que fazer uma pergunta para cada um que o aperte", continuou.

Na sequência, Mariliz Pereira Jorge e Deysi Cioccari argumentaram que a pergunta não deveria ter sido feita, uma vez que também não foi para os demais candidatos. A cientista política ainda pontuou que a questão do aborto no Brasil pode custar muitos votos, e por isso, poderia também ter prejudicado Tebet de alguma forma.

Após a exposição do ponto de vista das colegas, Kennedy acabou sendo convencido. "Vocês duas me convenceram. Volto atrás, reviso meu voto e sigo a relatora Mariliz. A guerra cultural da extrema direita usa essa questão para mobilizar politicamente o tempo inteiro no mundo inteiro".

Veja análise da entrevista de Simone Tebet no Jornal Nacional com os colunistas do UOL: