Presidenciáveis focam fome em estreia na TV; Bolsonaro ignora e cita vacina
Na estreia dos candidatos à Presidência da República no horário eleitoral na TV, a fome foi o principal tema destacado. Criticado por adversários, Jair Bolsonaro (PL) ignorou o tema e destacou a compra de vacinas contra a covid-19 —que ele atacou em diversos momentos durante a pandemia.
O tema da fome foi central nas propagandas de Lula (PT) e Soraya Thronicke (União Brasil). Já Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) destacaram a inflação dos alimentos.
Já Bolsonaro ignorou a crise alimentar e econômica em seu programa e preferiu destacar a geração de empregos em seu governo.
Lula dá espaço a Alckmin e acena a evangélicos
Líder nas pesquisas e dono do maior tempo de TV, Lula iniciou seu programa com um jogral opondo ideias que procura associar a Bolsonaro —"o que debocha", "o que mata e desmata"— e as que procura associar aos seus governos —"o que ampara" e "o que cuida". As últimas imagens exibidas nesse trecho foram mãos fazendo o gesto de arminha, característico do atual presidente, e o L símbolo do petista.
Ao começar a discursar, Lula fez um aceno aos evangélicos —eleitorado preferencial de Bolsonaro. "Peço a Deus que ilumine essa nação e nos ajude a reconstruir o Brasil", disse ele.
Lula também criticou a volta da fome e da inflação, reduzidas em seus governos. "Como é que este país tão rico retrocedeu tanto? Como pode um governante não se importar com o sofrimento de tanta gente?".
O programa petista ainda exaltou a democracia e colocou Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice, para destacar a ideia de frente ampla: "Mesmo que a gente não pense igual em tudo, nesse momento algo muito mais importante nos junta: o desejo de reconstruir o Brasil", disse o ex-governador de São Paulo.
Bolsonaro destaca compra de vacinas após atacá-las
Bolsonaro foi o único dos candidatos a não tratar da crise econômica, que faz hoje 33 milhões de brasileiros passarem fome. Ontem, Bolsonaro negou a gravidade do problema ao colocar em dúvida dos dados sobre insegurança alimentar no Brasil e questionar aos integrantes do programa "Pânico", na rádio Jovem Pan: "Vê alguém pedindo pão?".
O programa focou em reduzir a rejeição do presidente —que chegou a 56%, segundo a última pesquisa Datafolha. Com o hino nacional como trilha sonora e a onipresença do verde e amarelo em cenas cotidianas da população, a campanha destacou características pessoas de Bolsonaro: afirmou que ele é um "homem simples, verdadeiro e honesto" e que "fala o que pensa".
Em sua fala, o presidente prometeu manter o Auxílio Brasil de R$ 600 no ano que vem. Ele também destacou agendas econômicas de sua gestão, como a Lei da Liberdade Econômica e os dados de geração de emprego. "Os preços dos combustíveis foram lá pra baixo, empregos voltam a crescer", disse ele.
O momento que mais chamou atenção, porém, foi quando ele destacou a compra de 500 milhões de doses de vacina.
Em 19 de dezembro de 2020, o presidente criticou a pressa pela aprovação de uma vacina contra a doença e afirmou que a pandemia estava chegando ao fim —ainda que os números indicassem o contrário. "A pressa pela vacina não se justifica, porque você mexe com a vida das pessoas", declarou Bolsonaro.
Depoimentos e documentos obtidos pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19 provaram que o governo ignorou três propostas da farmacêutica Pfizer para a aquisição preferencial de vacinas, que seriam entregues no início de dezembro. A primeira dose de imunizante —da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantã por iniciativa do governo de São Paulo— só foi aplicada quase dois meses depois disso, em 17 de janeiro de 2021.
Soraya diz que "fome dói", Tebet lembra da CPI ; Ciro destaca inflação
Último a ter seu programa exibido, Ciro Gomes, terceiro colocado nas pesquisas, teve apenas 52 segundos. Nesse tempo, empurrando um carrinho com itens de feira, disse: "Entrar no supermercado hoje em dia é levar susto após de susto com o preço das coisas". Reforçando sua contraposição a Lula e Bolsonaro, ainda prometeu: "É esse sistema que eu quero mudar"
Primeira candidata a falar com o eleitor —Roberto Jefferson (PTB) não teve o seu programa exibido— Soraya Thronicke, eleita senadora na onda bolsonarista, focou suas críticas no atual presidente e fez um discurso com forte apelo às questões sociais.
"Eu não admito chamar fome de insegurança alimentar. Quando a barriga da gente ronca a gente sente fome. E fome dói", disse, antes de destacar. "O suor de quem trabalha tem que ser respeitado".
Uma das candidaturas da chamada terceira via, a senadora também procurou criticar a polarização entre Lula e Bolsonaro: "Não dá mais para conviver entre medo e ódio. Não dá mais para voltar aos erros do passado e nem errar de novo"
Já Simone Tebet destacou sua biografia e produziu um momento inusitado ao tratar de tarefas domésticas: "Não sei passar roupa, mas gosto de arrumar casa, de varrer e cozinhar". Representante da bancada feminina na CPI, ela lembrou de suas participações na comissão e criticou a volta da pobreza.
"Não tem sentindo um governo que não cuida do mínimo, que não proteja, não acolha", pregou ela, antes de prometer "comida mais barata" para a população.
Com apenas 22 segundos,Luiz Felipe D'Avila (Novo) atacou a polarização: "Chega do país dividido, chega de escolher sempre o menos pior", pregou.
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