Após criticar 'fundo bilionário', Deltan pede recurso público para campanha
Crítico contumaz do fundo eleitoral, Deltan Dallagnol —ex-procurador que chefiou a força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba— pediu ao Podemos, seu partido, acesso a esses recursos para financiar sua campanha a deputado federal. A informação foi antecipada pelo site Metrópoles e confirmada pelo UOL Notícias.
Dallagnol deixou o Ministério Público Federal em novembro de 2021 e é considerado um dos principais puxadores de votos do Podemos nesta eleição —ele concorre a uma vaga na Câmara pelo Paraná.
O que dizia Deltan sobre o fundo eleitoral? Em 2017, o ex-procurador se engajou em uma campanha contra a reforma eleitoral que ampliou o financiamento público de eleições. Em um texto publicado em sua página no Facebook, ele chegou a afirmar que o dinheiro iria ficar "nas mãos dos caciques partidários, em grande medida a velha política".
"Em vez de proibirem as caríssimas produções de marketing televisivo (filmagens holywoodianas passadas no horário de campanha eleitoral da TV) e valorizarem o debate de ideias, fizeram o inverso, propondo a expansão do valor do fundo partidário para R$ 3,6 bilhões, 0,5% do orçamento, em tempos de crise e de aumento dos impostos. Além disso, tudo indica que a distribuição do fundo para candidatos ficará nas mãos dos caciques partidários, em grande medida a Velha Política".
Em 2018, Deltan fez uma nova investida contra o fundo partidário, divulgando a proposta de extinção do financiamento público.
"Pelo fim do fundo bilionário que tira dinheiro da saúde, da educação e de outros serviços públicos para as eleições e que está sendo usado para perpetuar o poder da velha política. Isso está nas 70 novas medidas contra a corrupção - é a medida 16", publicou ele.
Ele também se associou antes do início da campanha ao movimento 200+, que tem entre suas pautas eleger congressistas comprometidos com a redução do fundo eleitoral.
Por que mudou de opinião? Agora, Dallagnol argumenta que "o Fundo Eleitoral nasceu com o objetivo de reduzir a corrupção, equilibrar a disputa eleitoral e impulsionar a renovação política".
O ex-procurador diz ainda que o fundão foi criado após a Lava Jato revelar o esquema de financiamento ilegal de campanhas e que, no Congresso, irá defender a redução do valor repassado aos partidos.
"Enquanto não mudamos isso, para mim a única maneira de fazer uma campanha usando o fundo eleitoral é com total transparência, mostrando para onde vai cada centavo do dinheiro gasto", alega ele.
Após a publicação da reportagem, Dallagnol negou ter mudado de opinião sobre o assunto: "Eu sigo defendendo a redução ou extinção do fundo eleitoral como sempre defendi", diz. "Se o fundo não for usado por quem defende sua redução ou extinção, isso diminui a probabilidade de eleição justamente dessas pessoas e consequentemente dificulta a mudança que se busca realizar".
O que diz a lei sobre gastos em campanha? Pelas regras da Justiça Eleitoral, todos os candidatos são obrigados a prestar contas dos valores que gastam durante a campanha, divulgando as pessoas e empresas contratadas para prestação de serviços.
Quanto já recebeu a campanha de Deltan? Até o momento, Dallagnol não recebeu recursos dos fundos partidário e eleitoral. O Podemos repassou à campanha do ex-procurador R$ 50 mil, oriundos de doação de pessoa física.
Além disso, ele arrecadou R$ 253,2 mil com financiamento coletivo e cerca de R$ 32 mil com doações de pessoas físicas —dos quais R$ 30 mil vieram do senador General Girão (Podemos), um dos investigados no inquérito dos atos antidemocráticos no STF (Supremo Tribunal Federal).
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