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Leia a íntegra do primeiro bloco do debate presidencial no UOL

Do UOL, em São Paulo

28/08/2022 22h06

O primeiro debate entre candidatos à Presidência da República nas Eleições 2022 aconteceu neste domingo (28), com transmissão do UOL, em parceria com Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura. Participaram os seis concorrentes mais bem colocados nas pesquisas de intenção de votos.

Após uma rodada em que todos os candidatos falaram sobre inflação e emprego, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o primeiro a questionar um concorrente —e escolheu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O tema escolhido foi corrupção.

Leia aqui a íntegra do primeiro bloco do debate no UOL:

[Adriana Araújo]: Olá, boa noite a todos!

[Eduardo Oinegue]: Boa noite. A partir de agora, você acompanha um encontro histórico nos estúdios da Band em São Paulo, em uma parceria do Grupo Bandeirantes com a TV Cultura, o Jornal Folha de São Paulo e UOL. Começa, nesse instante, o primeiro debate de 2022 entre candidatos à Presidência da República.

[Adriana Araújo]: Faltando 35 dias para o primeiro turno, o eleitor tem a oportunidade inédita de ver lado a lado, ouvir e comparar os concorrentes ao Palácio do Planalto. O debate também é transmitido ao vivo pelas rádios Bandeirantes, Band News FM, pelo Band News TV, além da Band Internacional e também as plataformas digitais.

[Eduardo Oinegue]: Em nome de todos integrantes do pool, nós agradecemos a presença, aqui no estúdio, dos candidatos: Felipe D'Ávila, do NOVO; Luiz Inácio Lula da Silva, do PT; Simone Tebet, do MDB; Jair Bolsonaro, do PL; Soraya Thronicke, do União Brasil; e Ciro Gomes, do PDT.

[Adriana Araújo]: Eu lembro que, em caso de ofensa pessoal ou moral, o candidato pode pedir direito de resposta assim que terminar o tempo de quem estiver com a palavra, basta fazer um sinal para os mediadores.

[Eduardo Oinegue]: Que uma comissão presente na Band formada por um advogado e dois jornalistas vai avaliar a solicitação no mesmo bloco. Caso concedido, o tempo será de 45 segundos.

[Adriana Araújo]: Como acertado previamente com as campanhas, não temos público aqui neste estúdio, mas, para receber convidados e jornalistas, a Band montou uma sala digital com dados exclusivos, em parceria com o Google e YouTube.

[Eduardo Oinegue]: E você pode acessar as mesmas informações apontando o celular para esse código que aparece na tela. Será possível acompanhar em tempo real gráficos com a repercussão e temas mais buscados. O debate é transmitido também no Band Play, band.com.br e canal Band Jornalismo do YouTube.

[Adriana Araújo]: Vamos acompanhar agora, então, como será a dinâmica desse debate com as regras que foram aprovadas em reunião com todos os partidos.

[Repórter]: No primeiro bloco, cada candidato, por ordem de sorteio, tem um minuto e meio para responder a uma pergunta sobre planos de governo. Serão três perguntas diferentes, cada uma direcionada a dois dos candidatos. Na sequência, também em ordem definida por sorteio, a primeira rodada de confronto direto. Todos perguntam e todos respondem. O candidato escolhe quem vai responder e tem um minuto para a pergunta e um minuto para a réplica. O tempo de resposta e de tréplica será de quatro minutos no total, a ser administrado pelo próprio candidato. No segundo bloco, jornalistas das empresas integrantes do pool fazem perguntas para os candidatos, escolhendo quem vai responder e quem vai comentar. O tempo é de quatro minutos para a resposta e a réplica, a ser administrado pelo candidato. O comentário tem um minuto. Todos respondem e todos comentam. O terceiro bloco será mediado pelos jornalistas Leão Serva, da TV Cultura, e Fabíola Cidral, do UOL, e começa com mais uma rodada de confronto direto entre os candidatos, seguindo as mesmas regras do primeiro bloco. Na sequência, os candidatos respondem perguntas programáticas. Serão três perguntas diferentes, cada uma direcionada a dois dos candidatos. Depois disso, os candidatos terão dois minutos cada para suas considerações finais.

[Adriana Araújo]: Vamos, então, à primeira pergunta, que será dirigida aos candidatos Felipe D'Ávila e Soraya Thronicke, nessa ordem.

[Eduardo Oinegue]: E quem vai fazer a primeira pergunta é a jornalista especializada em economia Juliana Rosa, do Grupo Bandeirantes. Boa noite, Juliana.

[Juliana Rosa]: Boa noite, boa noite, candidatos, boa noite a todos. Prazer estar aqui com vocês nessa noite tão importante. Pesquisas mostram que as maiores preocupações da população são inflação e emprego. Diante das dificuldades, tem-se falado muito da necessidade de estender os auxílios aos mais vulneráveis e algumas categorias, manter zerados os impostos sobre combustíveis e também aumentar salários de servidores. Mas tantos gastos não cabem nas regras fiscais. E a gente sabe que sem responsabilidade com as contas públicas, a nossa moeda perde o valor e isso gera mais inflação e baixo crescimento. Gostaria de saber como equilibrar as enormes demandas sociais e, ao mesmo tempo, garantir a responsabilidade com as contas do país. Muito obrigada.

[Felipe D'Avila]: Boa noite, Juliana, em nome da TV Bandeirantes, quero agradecer esse debate muito importante. Boa noite aos candidatos e candidatas. E boa noite a você que nos assiste. Realmente, esse é o maior problema. A economia brasileira está estagnada há mais de 20 anos. O Brasil não cresce, não aumenta a geração de emprego e renda. E nós temos de conciliar, sim, com o gasto público. Mas, pra fazer isso, é preciso cortar desperdício da máquina pública. Tem muito dinheiro sendo desperdiçado. Mas eu gostaria de me apresentar. Eu sou o Felipe, um cidadão como você, que vive do trabalho, de empreender, é dono do negócio, não vive da política, não vive de governo. E nós estamos cansados desse estado caro e ineficiente que atrapalha a vida de todo mundo que trabalha, que rala todo dia de manhã pra conseguir o seu dinheiro. Nós somos o país entre os 15 mais que cobra imposto. Pra quê? Pra dar um serviço público de péssima qualidade. Tá na hora de ter gestão pública. E, pra isso, é preciso deixar de votar no menos pior. Precisamos votar em alguém que entenda de gestão pública, assim como é o caso do governador Zema em Minas Gerais, como é o caso do prefeito Adriano Silva em Joinville. Gente que entende de gestão, sabe como cortar gasto público, equilibrar as contas públicas, atrair investimento e fazer a economia crescer. É assim que nós vamos mudar o Brasil. Muito prazer, eu sou Felipe D'Avila, candidato do Partido Novo.

[Adriana Araújo]: Obrigada, candidato. Agora a candidata Soraya Thronicke responde à mesma pergunta. Por favor, candidata, boa noite.

[Soraya Thronicke]: Boa noite a todos. Boa noite, Juliana, obrigada pela pergunta. Mas antes eu gostaria de me apresentar. Quero primeiro cumprimentar os candidatos que vieram, o comparecimento de todos é de extrema importância, é uma obrigação dos candidatos e é um direito do eleitor conhecer todas as propostas. Não comparecer é um ato de covardia. Eu sou Soraya Thronicke, sou senadora pelo Mato Grosso do Sul, e como o outro candidato acabou de dizer, eu não sou do mundo político, eu não dependo do mundo político. Estou política porque eu tenho uma proposta. Como você, que está aí sentado no sofá, eu também estive. Estive nesses últimos 20 anos assistindo a debates como esses. E aí a minha esperança se renovava a cada quatro anos e depois só vinha decepção. Eu acho realmente que é muito chato ficar escutando aqui juridiquês e economês. Eu não vim pra brigar com ninguém, não vim pra duelar, eu vim pra falar com você na língua que todos os brasileiros entendem. Nós temos uma solução pro nosso país: é o imposto único federal. Nós trocaremos 11 impostos federais por um imposto só. E no decorrer da minha campanha, no decorrer desse debate, você vai conhecer mais sobre essa proposta inovadora, e, na verdade, revolucionária.

[Eduardo Oinegue]: Agora minha pergunta será respondida pelos candidatos Simone Tebet e Jair Bolsonaro. Poder Executivo, Legislativo, Judiciário. Na Constituição, eles deveriam funcionar de forma harmoniosa, independente. Na vida real, na prática, conflitos e intromissão um no outro. Se a senhora for eleita, se o senhor for reeleito, o que pretende fazer pra reduzir esse clima de tensão que não contribui com a ordem e o progresso do Brasil?

[Simone Tebet]: Boa noite a todos. Permitam-me, antes de mais nada, agradecer à imprensa em nome da Band pelo debate que só fortalece a democracia. Cumprimentar os candidatos e a candidata e a todos que estão nos acompanhando. É muito simples: a harmonia dos poderes depende excessivamente de um presidente da república que saiba cumprir a Constituição e o seu papel. Nós, hoje, temos uma radicalização, uma desarmonia em função de termos um presidente que ameaça à democracia e aos valores democráticos a todo momento. Não respeita a imprensa livre, não respeita a independência do Supremo Tribunal Federal, do Poder Judiciário e do Poder Legislativo. A resposta é: precisamos trocar o presidente da república. Sem paz, nós não vamos unir o Brasil. Sem união, o Brasil não vai voltar a crescer, gerar emprego, renda pra população brasileira. A nossa candidatura, a candidatura do centro democrático, do MDB, do PSDB, do Cidadania e do Podemos é uma candidata que vai reposicionar o Brasil porque é a única capaz de garantir credibilidade, previsibilidade e segurança jurídica. Como professora e como advogada, respeito a Constituição e os demais poderes. Está na hora dos poderes terem as suas funções. É a política que está judicializando o Poder Judiciário, e consequentemente o Poder Judiciário acaba excedendo o seu poder. Nós vamos fazer a diferença e vamos pacificar o Brasil.

[Eduardo Oinegue]: Candidato Jair Bolsonaro.

[Jair Bolsonaro]: Assumi a Presidência, escolhi meus ministros pelos critérios técnicos, sem ingerência política. Isso causou um desconforto por parte de alguns políticos e por parte de alguns partidos, como o MDB, por exemplo. Então, eu abalei a harmonia onde todos eram amiguinhos e, obviamente, davam uma banana para o povo brasileiro. Hoje vocês conhecem quem são os meus ministros e sabem a capacidade de cada um. Possíveis problemas com o Supremo Tribunal Federal, é uma voz corrente, a ingerência, o ativismo judicial que hoje se faz presente no Brasil. Um ministro agora há pouco interferiu mandando investigar, fazendo buscas e apreensões, entre outras barbaridades em um grupo de empresários. Ou seja, esse não é o trabalho do Poder Judiciário. Reagi no tocante a isso. Como, por exemplo, também, dei anistia a um deputado federal que havia, injustamente, sido condenado a nove anos de cadeia por falar, não interessa o que ele falou, ele tem imunidade por qualquer palavra, opinião e voto. Eu não tenho problemas com poder nenhum. Alguns poderes, ou melhor, alguns ministros do Supremo Tribunal Federal que querem, a qualquer preço, interferir no Poder Executivo. Nós não podemos admitir isso daí. A harmonia tem que existir e a independência e o respeito, acima de tudo. E o respeito não falta da minha parte. De outra parte, que alguns se manifestam contrário à minha pessoa.

[Adriana Araújo]: Obrigada, candidato. Agora, eu faço a próxima pergunta para os candidatos Lula e Ciro Gomes, nessa ordem. A educação no Brasil, o retrato da educação já era considerado há muitos anos ruim com o Brasil na lanterninha dos testes internacionais de avaliação da qualidade do ensino. Só que com a pandemia essa situação se agravou muito. Um estudo recente da Fundação Getúlio Vargas indica que o retrocesso no aprendizado de matemática foi de 15 anos. Em português, nossas crianças retrocederam uma década, e o abandono escolar também foi muito mais forte com a pandemia, ampliou muito, sobretudo entre as crianças de cinco a nove anos de idade. A minha pergunta é: Se eleitos, os senhores têm um plano para que o Ministério da Educação aja imediatamente para resgatar essa geração COVID de crianças que podem estar condenadas no futuro a baixos salários, a subemprego, comprometendo inclusive o crescimento do Brasil? E qual é o plano? Começamos com o candidato Lula.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, primeiro eu quero parabenizar a Bandeirantes por manter a sua tradição de fazer os debates políticos na época de campanha. Segundo, dizer para vocês que, lamentavelmente, a gente não tem informação do MEC para saber quantas crianças estão hoje, sabe, com o grau de educação muito abaixo daquilo que deveria estar. Porque hoje nós temos dois tipos de estudantes. Nós temos aquele que teve acesso a tablet, computador e continuou estudando durante a pandemia, e nós temos aqueles mais pobres que não conseguiram acompanhar e ficaram sem ir para a aula. Além disso, nós temos no ensino médio uma quantidade de evasão escolar muito grande. E nós precisamos, então, trazer essas pessoas. O que eu estou comprometido a fazer? A primeira coisa que eu pretendo fazer, se ganhar as eleições, é logo no começo de janeiro convocar uma reunião com todos os governadores de Estado, convocar uma reunião com os prefeitos das capitais, no primeiro momento, para que a gente possa fazer um pacto, de fazer uma verdadeira guerra contra o atraso educacional que a pandemia deixou, e contra o atraso educacional de outras situações pelo corte de dinheiro que houve na educação. Eu sou daqueles que quando peguei a educação, eu quintupliquei o orçamento da educação, porque eu acreditava que era necessário melhorar a educação. Lamentavelmente, a educação foi abandonada nesse país.

[Adriana Araújo]: Obrigada, candidato. Agora, a mesma pergunta para o candidato Ciro Gomes. Boa noite.

[Ciro Gomes]: Boa noite a todos e a todas os brasileiros. Eu quero agradecer à Bandeirantes que lidera esse pool, por essa oportunidade de debater. Quero cumprimentar, dar um boa noite a todos os meus ilustres oponentes aqui, às senadoras e aos senhores candidatos. E a todos os brasileiros, eu devo dizer basicamente que essa pergunta parece ser uma escolha que Deus me deu. Por quê? Porque o Ceará tem hoje a melhor educação pública do Brasil, e eu, modestamente, ajudei a produzir isso. Nós temos em todos os indicadores de avaliação, 79 das 100 melhores escolas públicas do Brasil, e já estamos encaminhando uma equação para esse prejuízo grave que a pandemia causou entre a comunidade escolar. Porém, vamos ter clareza. Eu vou fazer durante esse debate um esforço imenso para que a gente entenda que os problemas brasileiros de hoje não são problemas que nasceram agora. O descuido com a educação brasileira parece ser um projeto de governo. Portanto, nós precisamos transformar a educação pública brasileira numa das dez melhores do mundo em 15 anos. E para isso, eu preciso dizer como. Mudar o padrão pedagógico, trocar o decoreba por um ensino emancipador, que os tempos digitais pedem, e reforçar estruturalmente o financiamento. Se nós não mudarmos o modelo de financiamento da educação brasileira, assim como da saúde, assim como de todas as grandes questões, será falsa toda e qualquer promessa ou desconhecimento da realidade em que estamos atolados no Brasil. Eu quero pedir a todos que acompanhem nas minhas redes os detalhes dessa proposta.

[Eduardo Oinegue]: Vamos começar agora a primeira rodada de confronto direto entre os candidatos: todos perguntam e todos respondem.

[Adriana Araújo]: Lembrando que perguntas e réplicas têm um minuto cada. Respostas e tréplicas, somadas, têm quatro minutos, que serão administradas pelo próprio candidato. Pelo sorteio prévio, quem começa essa rodada indicando quem vai responder é o candidato Jair Bolsonaro. Por favor, para quem vai à sua pergunta?

[Jair Bolsonaro]: Ex-Presidente Lula.

[Adriana Araújo]: Um minuto, por favor.

[Jair Bolsonaro]: Corrupção: a Petrobras, ao longo de 14 anos de PT, se endividou em aproximadamente 900 bilhões de reais. Fruto de desmandos, refinarias começadas e não concluídas, entre tantas outras coisas. Esses 900 bilhões de reais dariam para fazer 60 vezes a transposição do Rio São Francisco. Ou seja, o povo nordestino sofreu por falta d'água por causa da corrupção do seu governo. Mais ainda, esse montante é equivalente a 120 vezes o orçamento do Ministério da Infraestrutura. Eu estou falando isso para que se tenha noção do tamanho da corrupção, somente na Petrobras; e delatores devolveram 6 bilhões de reais. Ou seja, corrupção houve. Presidente Lula, o senhor quer voltar ao poder para quê? Para continuar fazendo a mesma coisa na Petrobras.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu acho que, de vez em quando, a gente tem que acreditar de que nada acontece por acaso. Era preciso ser ele para me perguntar, e eu sabia que essa pergunta viria. Eu acho que isso é importante porque as pessoas precisam saber de que inverdades não valem a pena na televisão. Citar números que são mentirosos, também não compensa na televisão. Aqui é importante a gente citar o seguinte: não teve nenhum Presidente da República que fez mais investigação para que a gente apurasse a corrupção do que nós fizemos. E é importante deixar claro que nós fizemos o Portal da Transparência, a fiscalização da CGU, a lei de acesso à informação, a lei anticorrupção, a lei contra crime organizado, a lei contra lavagem de dinheiro, colocamos AGU no combate à corrupção, fizemos o Coaf funcionar e movimentações bancárias atípicas. Ou seja, colocamos? Então, tudo que foi eu que nós fizemos no nosso governo.

[Adriana Araújo]: Por favor, um minuto.

[Jair Bolsonaro]: Segundo o Palocci, tudo no seu governo foi aparelhado. Tudo. Exceto o Banco Central. Então, se todo mundo fazia malfeitos, roubava, desviava, só o ex-Presidente não sabia. E o Palocci conclui, na sua delação premiada, que foi reservado uma conta no exterior de 300 milhões de reais, que o senhor recebia pacotes, dele mesmo, 50 mil reais, a título de propina. O seu governo foi marcado pela cleptocracia, ou seja, um governo feito à base de roubo; e essa roubalheira era para conseguir apoio dentro do Parlamento, não era apenas para o ex-Presidente Lula. Era para ele também conseguir apoio dentro do Parlamento. Assim sendo, nada justifica essa resposta mentirosa que você deu nessa questão. Sim, o seu governo foi o governo mais corrupto da história do Brasil.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Bom, é indescritível o que nós acabamos de ouvir. O Presidente precisaria estar informado de que foi exatamente no nosso governo que a Petrobras ganhou o tamanho que ganhou, com a capitalização de 70 bilhões de reais para a Petrobras crescer. O Presidente precisava saber que o meu governo é marcado pela maior política de inclusão social, pela maior geração de emprego, pelo maior aumento de salário-mínimo, pelo maior investimento na agricultura familiar, pelo maior investimento na criação da Lei Geral da Pequena Empresa, pela criação do Simples, ou seja, o nosso governo, além disso, foi o governo que mais fez investimentos na educação. São 18 universidades federais novas, 178 camps e 422 escolas técnicas, que fizeram uma revolução nesse país. O meu governo deveria ser conhecido exatamente por isso, porque quando eu cheguei à Presidência, acho que tinha 3,5 milhões de estudantes universitários; quando saí da Presidência, a gente tinha 8,5 milhões de pessoas na universidade. É exatamente isso que é a marca do meu governo: 51 milhões de hectares de terra disponibilizados para efeito de assentamento de pessoas nesse país. O menor desmatamento da Amazônia foi feito no meu governo, dos acordos que nós fizemos. Foi o meu governo que fez o acordo com a Alemanha e com a Noruega para que a gente tentasse contribuir com a preservação da Amazônia e com a exploração da riqueza da biodiversidade, para garantir possibilidade de desenvolvimento para quase 30 milhões de pessoas que moram na Amazônia. Foi o meu governo que deu cidadania ao Brasil nas suas relações internacionais. Nunca antes na história do Brasil, o Brasil foi tão respeitado no mundo. Respeitado pelos Estados Unidos, respeitado pelo Chile, pela China, pela Rússia, pela Índia, respeitado pela União Europeia; e foi exatamente no meu governo que nós fizemos com que o país que não tinha um fluxo comercial sequer de 100 bilhões de dólares ultrapassasse 500 bilhões de dólares de comércio no exterior. Esse país, que era um país que, quando deixei a Presidência, estava crescendo a 7,5%. Esse país, que teve 20 milhões de empregos com carteira assinada, é o país que o atual Presidente está destruindo. Está destruindo porque ele adora. Adora com bravata, adora falar números que não existem, adora entender que o povo que está aí, ouvindo a gente, acredita no que ele fala. Portanto, o país que eu deixei é um país que o povo tem saudade. É o país do emprego. É o país em que o povo tinha o direito de viver dignamente, de cabeça erguida neste país. E esse país vai voltar.

[Eduardo Oinegue]: O próximo a perguntar é o candidato Ciro Gomes.

[Ciro Gomes]: Vou perguntar ao Presidente Jair Bolsonaro. Presidente Bolsonaro, o senhor, infelizmente, para mim, costuma falar muitos absurdos. Eu não sei se por maldade ou para desviar a atenção dos gravíssimos problemas do governo, seja de inflação, seja de corrupção, seja de problemas familiares, mas, assim, entre tantas aberrações que eu já ouvi e que me levaram a certa indignação, eu, anteontem, fiquei chocado. O senhor disse, pura e simplesmente, que o Brasil não tem gente com fome e que as pessoas não procuram pedir comida, porque o Brasil não tem, propriamente, fome; as pessoas até não comem bem, eu ouvi o senhor falando, mas que não tem fome no Brasil. O senhor não— Qualquer pessoa que conhece o Brasil como eu conheço, que anda nas ruas, vendo as pessoas com placa pedindo comida, qualquer pessoa que não tenha trocado o coração por uma pedra sabe que a fome está no lar de muitos milhões de brasileiros, que a subnutrição ofende crianças na mais jovem das idades; as mães estão nos ouvindo aqui, e elas sabem o que é uma criança dizer "mãe, estou com fome". O senhor não teme que isso seja interpretado como conivência com isso?

[Jair Bolsonaro]: Cada um interpreta as informações como acha melhor. Ciro, inflação: você tem que falar do "fica em casa e a economia a gente vê depois". Agora, mesmo assim, a inflação do Brasil é uma das menores do mundo, menor até que do próprio Estados Unidos. Nós estamos colaborando na geração de empregos. Muitos diziam que apenas a partir do ano que vem voltaríamos aos números de pré-pandemia; voltamos agora. Pode ter certeza que o mês que vem devemos ter essa taxa chegando a 8%. O nosso PIB está crescendo. Nós fizemos milagre durante a pandemia. Lamentamos as mortes, mas investimos para que empregos não fossem destruídos, como os programas PRONAMPE e BEM. Atendemos os mais necessitados. Temos aqui dados do próprio Ipea, levando-se em conta o começo do meu governo, 2019, até agora: no mundo, o número de famílias na extrema pobreza cresceu, e no Brasil diminuiu — passou de 5.1 milhões para 4 milhões. Ou seja, nós atendemos aos mais necessitados. Foi o meu governo que negociou, o ano passado, passar em média 190 reais, o valor do Bolsa Família, para, no mínimo, 400 reais. Foi o meu governo, contra o voto do PT na Câmara. Foi o meu governo que, junto ao Parlamento, fez diminuir o ICMS dos combustíveis, contra o voto dos senadores do PT no Senado. E o meu governo, no corrente ano, entre outras coisas, deu mais 200 reais para o Auxílio Brasil até o final do ano, e já está garantido com a equipe econômica que esse valor será definitivo a partir do ano que vem. Ou seja, o meu governo atendeu aos mais necessitados, e esses mais pobres que estão passando necessidade — alguns passam fome, sim, não nesse número exagerado. Querer fazer demagogia com números aqui fica complicado. Aí isso é inadmissível. E diz o próprio— próprios dados do Ipea que, por exemplo, quem ganha até 1.9 dólares por dia está na linha de pobreza. 1.9 dólares são dez reais. E o Auxílio Brasil paga 20 reais. Quem, porventura, está abaixo do nível da pobreza — deve ter gente, sim, passando necessidade, sim — é só se cadastrar que vai passar a ganhar, então, o Auxílio Brasil de 600 reais. Ou seja, é um governo que tem olhar todo especial para os mais pobres. Demos 600 reais, três vezes maior do que o PT dava lá atrás com o Bolsa Família, e lá atrás era em média 190 reais em valores corrigidos, onde tinha família ganhando 80 reais por mês. Nós passamos no mínimo 600, e aquela mãe que tem filho e está sem marido, ela pode passar para 1.200 reais. Lá atrás, quando se conseguia um emprego, perdia o Bolsa Família; no meu governo, não perde o Auxílio Brasil. Ou seja, um governo que atende aos mais necessitados, que procura incluí-los. Não esqueçamos que 38 milhões de pessoas perderam tudo durante a pandemia por quê? Foram obrigados a ficar em casa. E pagamos auxílio emergencial para 68 milhões de pessoas no Brasil. Um governo que pensa nos mais pobres, pensa naquele que passa fome e procura melhorar a vida deles mesmo tendo contra ele, dentro da Câmara e do Senado, partidos como PT, PCdoB, PSOL, entre outros. Então, Ciro, com todo respeito, nós fazemos a nossa parte, temos, sim, colaborado para que essa chaga seja afastada. Agora, dá uma olhadinha como é que seu PDT votou na Câmara essas propostas de reduzir o imposto dos combustíveis e aumentar o Auxílio Brasil.

[Ciro Gomes]: Eu considero uma verdadeira aberração termos à testa da administração nacional brasileira um presidente que desconhece. A Rede PENSSAN é uma das instituições mais respeitadas do mundo. São números recentes. 33 milhões e 100 mil brasileiros estão passando fome. 125 milhões de brasileiros. Você tá nos ouvindo aí. Não comeram as três refeições. Só uma de cada quatro crianças no Brasil fazem três refeições. Por isso eu quero encerrar essa disputa de quem é que é mais Papai Noel em véspera de eleição, Bolsa Família, mais 200, que mostre os limites politiqueiros de uma política de renda. Nós temos que transformar isso numa política de renda como uma perna da previdência social. O programa de renda mínima Eduardo Suplicy vai garantir mil reais por domicílio, peço que você acompanhe os detalhes nas minhas redes, todas as fontes de financiamento, de onde é que vem o dinheiro, e com isso eu acabo definitivamente com a fome e também com a manipulação política e demagógica da fome e da miséria do povo por esse tipo de interesse.

[Eduardo Oinegue]: Candidato Bolsonaro, o senhor tem 13 segundos pra sua tréplica.[Jair Bolsonaro]: 2019, cinco milhões e cem mil famílias abaixo da linha da pobreza. Mesmo com pandemia, 2022, quatro milhões de famílias. Estamos melhorando sem demagogia e com responsabilidade fiscal.

[Adriana Araújo]: Obrigada. O próximo candidato que faz pergunta agora é Felipe D'Avila. Pra quem o senhor vai dirigir a sua pergunta?

[Felipe D'Avila]: Pro candidato Ciro Gomes. Ciro, eu venho fazendo um trabalho no centro de liderança pública há mais de 14 anos melhorando a qualidade da gestão pública nos estados e municípios. E uma das coisas que nós precisamos melhorar é a educação, como você sabe muito bem. A gente começou a falar aqui de educação. Mas se não houver uma melhoria real na educação, não haverá aumento de produtividade. E sem produtividade, o Brasil não consegue crescer e gerar emprego nessa era do conhecimento. Eu queria perguntar pra você: neste Brasil em que nós gastamos 5,8% do PIB com educação há tantos anos, as crianças continuam não aprendendo, os professores continuam não ensinando, e eu pergunto pra você, que tem um exemplo de sucesso em Sobral, como você tem mesmo no fundamental I, o que é que nós precisamos fazer pra acabar com esse descalabro da educação? Agora, recentemente mesmo, mais de quatro ministros da educação roubam no FNDE como sempre. O que nós temos de fazer pra ter uma educação de qualidade? Porque não é gastar dinheiro, é transformar a educação de qualidade pro brasileiro.

[Ciro Gomes]: Professor Felipe D'Avila, eu lhe saúdo e agradeço essa pergunta. São duas graves questões que nós precisamos considerar em relação à educação. A primeira é que tipo de educação nós oferecemos. De fato, com o mesmo dinheiro que nós aplicamos, já poderíamos ter, como o Ceará mostra, um padrão de educação muitas vezes melhor para o filho do trabalhador e pra filha do trabalhador. Por quê? Porque o padrão de escola que se oferece hoje na rede pública, salvo muito maravilhosas exceções, é o ensino do século XIX, é o ensino do século XX, é o decoreba, é o ensino sem graça, é o enciclopedismo raso em que o menino é obrigado a decorar coisas que não têm sentido pra ele em tempos de Google. Isso é puro lixo. Essa é a primeira grande questão: mudar o padrão de educação para oferecer uma pedagogia da teoria digital, do mundo digital, do mundo do conhecimento. A outra, Felipe, entenda, é financiamento. O Brasil gasta per capita muito menos do que aquele padrão que a Europa, por exemplo, gasta, que os Estados Unidos gasta, e hoje nós estamos obrigados a competir com eles em terceiros mercados ou no mercado brasileiro. Me pergunte, na sequência, como fazer isso, e eu também, se tiver oportunidade, quero dizer ao povo brasileiro que eu serei o presidente da educação e aquele que vai cuidar do bolso da família pobre brasileira.

[Felipe D'Avila]: Olha, pra colocar o Brasil entre os melhores países do mundo, nós temos de focar no aprendizado do aluno. A gente desperdiça dinheiro público com a máquina pública. Isso não melhora o aprendizado do aluno. A criança não aprende. Nós precisamos investir na carreira do professor, uma carreira pra valorização do professor. O professor precisa aprender a dar aula. O curso de Pedagogia precisa mudar completamente. É completamente arcaico hoje. E mais do que isso, nós precisamos investir no ensino profissionalizante pra reter os nossos jovens na escola, porque senão existe êxodo de mais de 48% dos jovens da escola. Então educação profissionalizante, focar na formação dos professores e mensurar o aprendizado do aluno. E não ficar desperdiçando dinheiro público com o gasto da máquina pública. Essa é a forma de fazer a educação no Brasil ser de verdade. No governo do PT teve muito gasto com educação, mas 50% das crianças não estavam devidamente alfabetizadas aos seis anos, e quatro em cada 100 só sabiam conteúdos de matemática no fim do ensino médio.

[Ciro Gomes]: O desastre da educação brasileira é medido pelos indicadores de avaliação. Se nós estabelecermos o PISA, que é de avaliação internacional, o que de fato nos recomenda aprofundar o debate. Deixa eu ver, motivar o professor, retreinar o professor para que ele passe a fazer essa pedagogia emancipadora, que a garotada possa ir para escola interessada em dominar as tecnologias digitais e pensar fora da caixinha do decoreba. Ensinar o mesmo conteúdo de pontos de vista diferentes, para estimular a autonomia intelectual. Isso já vi funcionando e nós estamos experimentando isso com extraordinário êxito no Ceará. Só para você ter uma ideia, Felipe, 60 de cada 100 alunos do ensino médio do Ceará já estão em tempo integral. Boa parte, profissionalizante. Saem dali com estágio remunerado os seis primeiros meses pelo governo, e mais de 93% ficam retidos pelas empresas porque nós fazemos essa aposta. E essa é uma experiência que eu quero generalizar para todo o Brasil. Mas, meu irmão, me permita cumprimentando, nós precisamos entender que sem remuneração decente, sem financiamento decente isso tudo não vai acontecer. O piso salarial do magistério brasileiro, comparado com o mundo, é de encher de vergonha. Viva o magistério brasileiro que consegue dar aula um mês inteiro, sem material, sem equipamento, numa lousa com giz, sabe, ganhando R$ 3.500. Alguns estados, muitos municípios sequer estão pagando o piso salarial. Qualificar a gestão das escolas também é um elemento essencial. Muitos lugares do Brasil não há padrão de avaliação, a gestão escolar é indicação de político, de vereador. Isso tem que ser uma carreira de estado, como nós fazemos no Ceará. Todos os dirigentes de escola são capacitados, treinados, concursados, que se percebe inclusive dotes de liderança para, além de gestão, contabilidade, essas coisas todas, envolver as famílias. Acompanhar aluno a aluno para que ele não perca a idade escolar certa na capacitação. Isto é o que vai mudar o Brasil. E em qualquer circunstância não haverá essa mudança de qualidade na educação se não com esses números. O PT, por exemplo, se gaba, o Lula acabou de falar aí, o Presidente Lula, de bilhões, de milhões de crianças e adolescentes, de estudantes que foram para o ensino universitário, é verdade. O Brasil tem hoje 18, de cada 100 garotos de 18 a 25 anos, no ensino superior. A Colômbia tem 42. E quando nós vamos olhar que tipo de escola passaram no governo do PT, do Lula, 40 bilhões de reais para empresários privados. Deixando um garoto endividado no começo da vida com uma conta de 110 a 150 mil reais no FIES. Isso é uma coisa absolutamente chocante, isso não é educação.

[Eduardo Oinegue]: A próxima perguntar é a candidata Soraya Thronicke.

[Soraya Thronicke]: Eu escolho a candidata Simone Tebet. Candidata, enquanto os profissionais da saúde enfrentavam corajosamente o Coronavírus, muitos pacientes que precisavam de procedimentos eletivos, como é o caso de uma cirurgia de catarata ou um procedimento ortopédico, tiveram seus atendimentos cancelados ou adiados. O que é que pode ser feito para diminuir a fila por consultas, exames e cirurgias no SUS?

[Simone Tebet]: Obrigada, candidata Soraya, pela pergunta. Afinal, é uma das questões mais importantes hoje do Brasil. Saúde pública. Nós acabamos de sair de uma pandemia, se é que saímos dela, uma pandemia que podia ter sido muito melhor gerida se nós tivéssemos um Presidente da República sensível à dor alheia. Lamentavelmente, no momento que o Brasil mais precisou do Presidente da República, ele virou as costas para a dor das famílias enlutadas brasileiras. E negou vacina no braço do povo brasileiro. Eu sei porque eu estava lá na CPI. Eu estudei os documentos. Atrasos de 45 dias na compra de vacina. Quantas famílias perderam prematuramente seus filhos? Quantas mães perderam filhos e quantos filhos perderam pais? E eu não vi o Presidente da República pegar a moto dele e entrar em um hospital para dar um abraço a uma mãe que perdeu um filho. Eu vi mais do que isso, eu vi um escândalo de corrupção na compra de vacinas como se a vida pudesse custar um dólar. Nesse aspecto, Soraya, a pandemia se arrastou porque não teve coordenação do Governo Federal. Não é porque ficamos em casa. É porque se tivesse tido coordenação do Governo Federal, nós teríamos uma pandemia melhor resolvida, já estaríamos todos trabalhando. E com isso, a sua pergunta é extremamente importante. Nós ficamos com atraso na realização de exames, cirurgias e consultas. Só tem um jeito. Decretou-se calamidade pública para tudo, para gastar, para fazer orçamento secreto, para colocar dinheiro público no bolso da classe política, colocando dinheiro onde nós nem sabemos se chegou. Então, a sequela da pandemia é o atraso desses exames. O que nós vamos fazer, Soraya? Nós vamos decretar calamidade pública e estado de emergência apenas para isso, para que possamos criar um crédito extraordinário, e com isso colocarmos dinheiro fundo a fundo para os municípios e para os estados. Cada exame, cada consulta, cada cirurgia atrasada que eles executarem vai ser imediatamente pago, para que a população brasileira não possa morrer prematuramente das doenças, da sequela da pandemia da covid-19.

[Soraya Thronicke]: Candidata, realmente o SUS sempre foi um orgulho para todos nós brasileiros, no caso da vacinação. Confesso que, no atendimento, ele é muito mais bonito no papel do que na realidade. E quem conta isso é o usuário do SUS. Quem tem que nos dizer se o SUS é bom ou não, não somos nós que não utilizamos esse serviço. Quem tem que dizer é quem está lá na fila. Temos um projeto liberal, de verdade, para a Economia, para executar, não é no gogó. Não é no gogó. E é por isso que para diminuir todas as filas para exames, para cirurgias, para consultas, nós iremos usar toda a capacidade da iniciativa privada para complementar o SUS, e, com isso, agilizar o atendimento das pessoas; e, realmente, é uma catástrofe o que o Brasil vive. Eu, Soraya, ando nas ruas e o que eu vejo nas ruas é desalento. O meu telefone não para de tocar pedindo: "Senadora"—

[Fim do tempo]

[Simone Tebet]: Nós concordamos, candidata Soraya, e gostaria até de dar um depoimento e fazer um pedido aos candidatos à Presidência da República. Eu peguei um carro, daqui de São Paulo, e fui a Barretos para poder assinar um documento no Hospital do Amor? do Câncer, de Barretos, que é um dos hospitais mais importantes na cura contra o câncer no Brasil. O que eu vi lá é de dar inveja ao mundo. Mas eles fizeram uma súplica. Eu fui a primeira a assinar um documento que, se eleita Presidente da República, vou atualizar a tabela SUS: 25%, por ano; até 100%, nos quatro anos. Sabe por quê? Porque, hoje, as Santas Casas e as filantrópicas atendem a 60% das cirurgias e das médias e altas complexidades, ou seja, dos casos mais complicados de saúde da população pobre. Sabe o que eu ouvi de lá, dos médicos especialistas? "Senadora Simone, as pessoas morrem prematuramente". Pobre morre? Até 25% dos pobres morrem no Brasil porque não têm acesso a porta do SUS para tratamento preventivo do câncer. Porque nós não conseguimos atender, porque a tabela SUS está defasada. Eu fui a primeira. Eu conclamo os demais candidatos a Presidente da República que assinem esse compromisso pela vida: 25%. Vamos tirar do orçamento secreto. Vamos tirar dos desperdícios, vamos reduzir a máquina, mas vamos dar dignidade da saúde a quem mais precisa. Porque esse Brasil é de todos. Ele não pode ser mais do rico do que do pobre. O rico não pode ter atendimento de saúde privada de excelência enquanto o pobre morre nas filas dos hospitais.

[Adriana Araújo]: Obrigada, candidata. O próximo a perguntar agora é o candidato Lula, que deve dirigir a pergunta para o candidato Felipe D'Ávila ou para Soraya Thronicke. Para quem vai?

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu vou dirigir ao Felipe D'Ávila.

[Adriana Araújo]: Por favor.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Candidato, o mundo hoje vive discutindo a questão climática. Ou os governantes tomam noção de que é da responsabilidade de cada governante cuidar do seu país para que todos cuidando do seu, cuidem do planeta, ou a gente vai destruir o planeta, que é nossa terra. Eu queria que o senhor me desse sua opinião sobre o que está acontecendo no Brasil. Ou seja, o Brasil rompeu o acordo que tinha com a Alemanha e com a Noruega, o Brasil faz discurso todo santo dia de que é preciso desmatar, que é preciso queimar, que é preciso plantar? Ou seja, e não há nenhum cuidado com a questão ambiental. Ou seja, qual é a sua proposta para resolver a questão ambiental?

[Felipe D'Avila]: Bom, candidato Lula, a retomada do crescimento econômico do Brasil depende de uma política ambiental que faça o Brasil ser a primeira nação carbono zero entre as grandes potências econômicas. Isso está no nosso plano de Governo. Esta é a maior oportunidade que o Brasil tem para sequestrar carbono. O Brasil tem potencial para sequestrar 50% do carbono do mundo, plantando árvores em terra degradada. Nós temos 50 milhões de hectares de terra degradadas, dá para plantar árvores em três milhões de hectares, isso vai gerar renda para pessoas mais pobres, isso vai gerar progresso em outras regiões do Brasil. Vai ajudar também a impulsionar a energia renovável no Brasil. O Brasil já tem a matriz mais limpa de energia e precisa continuar expandindo. E nós vamos criar o "Emprego Verde", porque este emprego de serviços ambientais, da bioeconomia, é a maior fonte para atrair investimento externo para o Brasil. Investimento fundamental para a retomada do crescimento econômico, da geração de emprego e renda. Portanto, o meio ambiente precisa ser tratado com seriedade, como a maior oportunidade que o Brasil tem para recuperar o seu crescimento econômico, atrair investimento. E mais, ajuda ao agro brasileiro. Porque o agro brasileiro é o que mais sofre quando se desmata no Brasil, porque vem retaliação lá de fora, dizendo que não vai comprar soja do Brasil, ou carne do Brasil, porque vem de área desmatada. O que é mentira. O agronegócio brasileiro é o mais sustentável do mundo. Nenhum outro país do mundo planta soja no cerrado e mantém 35% de reserva legal. Nenhum outro país do mundo colhe uma tonelada de cacau, no Norte, e mantém 80% de reserva legal. Portanto, nós não podemos desperdiçar esta enorme oportunidade que o Brasil tem para atrair investimento, renda e emprego, e se transformar no primeiro país carbono zero do mundo.

[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, nenhum empresário sério, que conhece a questão da relação comercial do mundo, vai fazer queimada ou vai destruir os biomas brasileiros, seja o Pantanal, seja a Amazônia, seja a caatinga, não vai. Entretanto, nós temos gente do governo que até incentiva. Nós tivemos ministro que dizia "deixa a boiada passar". Bom, o que eu quero, na verdade, é o seguinte: eu tive o prazer de ser Presidente da República e participar da COP-15, em Copenhagen. Em Copenhagen, o Brasil assumiu um compromisso, que depois foi referendado em Paris, em que a gente reduziu o desmatamento em 80% e que a gente iria diminuir a emissão de gás de efeito estufa em 36.9%. E o Brasil passou a ser referência no mundo inteiro, todo mundo conversava com o Brasil, e hoje as pessoas têm o Brasil como um país que não leva a sério e ninguém respeita as decisões do Brasil.

[Luiz Felipe d'Avila]: É verdade, Lula, mas só que mudou muito a questão do meio ambiente. Meio ambiente nós vamos resolver com mais mercado. Existem hoje 50 trilhões de dólares no mundo que vai investir em país que respeita o meio ambiente, a questão da governança e a questão social. E o PT me dá sempre a impressão de que não gosta do mercado, empresário é latifundiário; não é isso, nós temos que olhar o mercado com juízo. O mercado vai ajudar o Brasil a resolver a questão do meio ambiente, vai trazer investimento privado! Nós temos de acabar com essa dicotomia que preservar o Brasil é manter o atraso; não! Preservar significa exatamente o oposto: atrair investimento, renda e emprego com o dinheiro privado. Não tem mais essa dicotomia que, para preservar o meio ambiente, nós temos que simplesmente não fazer nada na terra; não, nós temos que saber usar isto a nosso favor. Eu tenho certeza absoluta que o Brasil vai ser um exemplo em ser este país que vai capturar 50% do carbono do mundo, dar uma lição para o mundo, e isso vai ser fundamental para recuperar a credibilidade internacional do Brasil. O Brasil jamais vai voltar a ser um país confiável nas relações internacionais se continuar tratando o meio ambiente com o descaso que vem acontecendo nos últimos anos. É uma pena, porque nós temos essa potência do desenvolvimento regional. Veja só como é importante o desenvolvimento sustentável para gerar receita no Nordeste, com as energias renováveis, com eólica, solar, biomassa, a fronteira agrícola crescendo de forma sustentável. Esse é o Brasil que dá certo, é o Brasil do agronegócio. É o único setor da economia capaz de competir no comércio internacional. Nós temos que usar o exemplo do agro para poder crescer e expandir o nosso mercado. O agro é o único setor da economia brasileira que não tem medo da concorrência internacional.

[Eduardo Oinegue]: A última a perguntar nessa rodada é a candidata Simone Tebet, a pergunta a ser feita à Senadora Soraya Thronicke.

[Simone Tebet]: Candidata Soraya, eu não tenho como professora não fazer pergunta sobre educação. Eu gostaria de perguntar à senhora— A senhora sabe o quanto esta questão é cara para mim. Dei aula, 12 anos, de Direito Administrativo, de como é que se administra um Estado e um país, e tive o privilégio de tê-la como uma excelente aluna. Mas, infelizmente, educação nunca foi prioridade no país. Educação nunca foi colocado como um projeto nacional, de Estado, e não de governo. É por isso que os indicadores da educação estão nesse patamar há mais de 30 anos. Mas nunca a educação esteve tão estampada nas páginas policiais. Não é só descaso, é corrupção, é superfaturamento de ônibus escolares, é fotografia, na Bíblia, de um ministro, com dinheiro público, para participar de eleição. Então, a pergunta é: diante de tudo isso, como fazer para resolver o problema da educação e garantir dignidade para as nossas crianças e para os nossos jovens?

[Soraya Thronicke]: Obrigada, candidata, pela pergunta. É um assunto que também me é caro. Poucas pessoas sabem, mas eu fui professora de inglês por muito tempo, então eu sei o que é que é uma sala de aula também. E como a senhora bem disse, a senhora foi minha professora, nós sabemos a importância da educação, e por isso a nossa primeira proposta, e revolucionária, é isentar — escutem bem, escutem bem —, isentar de imposto de renda todos os professores. Todos os professores, tanto do ensino público quanto privado. Isso não é conto de fadas, isso é verdade, isso já foi estudado, o impacto é apenas de 10 bi por ano. Eu sei disso, isso é possível fazer, principalmente por conta do financiamento que o Imposto Único Federal vai proporcionar. Mas, além dessa valorização, que é a primeira coisa: a valorização de você, professor, que está ali na ponta e que é tão desvalorizado, começa por aí. E aí nós temos inúmeras propostas, propostas de— em relação ao analfabetismo funcional, a criação de metodologias autodidáticas; isso é muito importante para que as pessoas consigam, complementariamente ao professor, aprender sozinhas. Mas uma coisa que eu quero deixar aqui muito claro e que muito me preocupa: durante a pandemia, nós tivemos nossas crianças fora da escola, e o governo não conseguiu fazer um programa que resolvesse isso. Simples seria se ele utilizasse o mesmo método que utilizou o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo. Marcelo Rebelo é professor também, e ele foi para a TV estatal. Ele foi para a TV estatal dar aulas, e contratou os melhores professores do país para dar aula na TV aberta para os alunos. E aí nós temos a nossa EBC, que passou todo esse tempo fazendo campanha para o atual Presidente da República. Isso é grave, isso é sério em um governo que prometeu privatizar. Portanto, dentre tantas, e tantas, e tantas propostas nossas, que é, inclusive, incluir a iniciativa privada dentro do nosso sistema para conseguir resolver o problema— o que falta na educação pública, nós incluiremos também a capacidade da iniciativa privada para nos ajudar, porque, no Brasil, contrariamente ao que disse o ex-presidente Lula, atual candidato, nós gastamos muito, gastamos como primeiro mundo na educação e entregamos uma educação de quinta categoria. Isso tem que acabar.

[Simone Tebet]: Sem dúvida, candidata Soraya, valorização do professor é fundamental, cuidar de quem cuida. Mas é mais do que isso. Ensinar o professor não apenas o que educar e ensinar, mas como educar e ensinar. Nós vamos atacar o problema desde a primeira infância. Vamos acabar com as mais de duas mil creches que estão paralisadas há muitos anos. E dinheiro tem do Fundeb, que nós dobramos e tá fora do teto. Vamos colocar todas as crianças de quatro a cinco dentro das nossas... do ensino infantil. Mas vamos atacar o maior problema que é o ensino médio. O ensino médio técnico profissionalizante sai do papel pra que os nossos jovens possam entrar no mercado de trabalho imediatamente. E pra isso, pra que eles não virem nem-nem, nem estudo nem trabalho, nós vamos colocar um poupança jovem. O nosso jovem vai ganhar dinheiro todo ano, e no final do terceiro ano do ensino médio, vai ganhar cinco mil reais pra fazer o que ele quiser, dar uma entrada numa moto ou num celular, mas pra que ele não saia. Porque a educação vai ser prioridade pela primeira vez na história do Brasil. Eu sei porque sou professora. Eu sei que só a educação salva.

[Eduardo Oinegue]: Tempo.

[Soraya Thronicke]: Sem falar, brasileiros, do valor da merenda que não foi atualizado. As nossas crianças, muitas delas têm somente a merenda escolar pra comer. É triste demais. Nossas crianças sequer, muitas delas, não têm banheiro nas escolas. Então, assim, é sério. Estamos vivendo o maior caos já visto na história desse país. Isso tem que mudar, e eu tô aqui pra contar a verdade pra vocês, porque eu tô aqui dentro, estou nos bastidores, e agora eu posso falar.

[Adriana Araújo]: Obrigada. Você está acompanhando o primeiro debate entre os candidatos à presidência da república realizado por um pool que reúne o Grupo Bandeirantes, o Jornal Folha de São Paulo, a TV Cultura e o UOL.

[Eduardo Oinegue]: Essa foi a última resposta do primeiro bloco. Logo depois do intervalo é a vez de jornalistas das empresas que integram o pool perguntarem aos candidatos.

[Adriana Araújo]: Olho no voto, eleições 2022.

Leia a íntegra do segundo bloco do debate presidencial no UOL

Leia a íntegra do terceiro bloco do debate presidencial no UOL