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Vera Magalhães: Bolsonaro falar em 'dormir pensando nele' é misoginia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/08/2022 14h49

No debate presidencial realizado no domingo (28) por UOL, Band, TV Cultura e Folha de S.Paulo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) atacou pessoalmente Vera Magalhães. A jornalista havia questionado Ciro Gomes (PDT) sobre a cobertura vacinal do Brasil e também afirmou que houve desinformações sobre as vacinas da covid-19 que foram disseminadas por Bolsonaro. Quando chegou a vez do presidente comentar a pergunta, ele fez uma série de ataques contra Vera Magalhães e afirmou que era "uma vergonha para o jornalismo brasileiro". Durante participação no UOL News de hoje, a jornalista destacou traços de misoginia nas falas de Bolsonaro. Ela ainda falou sobre a Jovem Pan News ter divulgado uma fake news que incluía o nome dela e o da jornalista Fabíola Cidral, apresentadora do UOL News.

"Não tocou no assunto [da vacinação] e preferiu fazer um ataque pessoal a mim. Aí fala nessa história obsessão, que é um traço de misoginia. 'Dorme pensando em mim, alguma paixão', sempre associando o papel da mulher, mesmo quando ela está exercendo seu trabalho, a alguma conotação de cunho sexual. Isso é uma forma de fetichização da mulher, um traço de misoginia claro e que se repete como um padrão, que é um padrão no bolsonarismo, um padrão na fala do Bolsonaro ao longo de sua vida e é um padrão que o bolsonarismo replica na redes sociais", disse.

Também durante sua participação no UOL News, Vera Magalhães chamou a atenção para o comportamento do presidente com a jornalista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello. Em fevereiro de 2020, Bolsonaro insultou com uma insinuação sexual a jornalista. Ela é autora da matéria que revelou que empresas estavam enviando mensagens em massa pelo WhatsApp durante as eleições de 2018. Recentemente, ele foi condenado a pagar uma indenização.

"Quando a Patrícia Campos Mello publica alguma informação relevante, o Bolsonaro fala no cercadinho que ela queria 'dar o furo', que ela gosta de dar o furo e o filho dele repete a mesma coisa. São coisas absolutamente nojentas e odientas que tentam sempre remeter a mulher para esse lugar de alguém que está ou prestando algum favor sexual, ou querendo alguma coisa em troca de sexo. É horrível, mas não era inesperado, eu imaginava que ele poderia vir para cima de mim".

A jornalista ainda falou em um "desprezo pelas mulheres", destacando que o presidente não costuma ter a mesma conduta com jornalistas homens. "Preferiu se afastar de tudo isso [questões sobre vacinação] e me atacar pessoalmente, algo que com jornalistas homens ele não faz. Não fez no 'Jornal Nacional', por exemplo, e não faz em outras entrevistas com homens. Faz sempre contra as mulheres, é um traço de desprezo pelas mulheres. Desprezo que ele demonstra na fala com relação a senadora Simone Tebet, tratando com agressividade, com condescendência e com palavras de menosprezo".

Vera Magalhães: Comentarista da Jovem Pan colheu fake news sobre debate em submundo bolsonarista

"Pedi que a retração seja feita pela mesma comentarista, que ela na voz dela, a mesma que ela usou para difundir uma fake news contra nós duas [Vera e Fabíola Cidral] e para perguntar 'isso é jornalismo?', uma pessoa que aliás nunca foi jornalista, nunca fez uma matéria na vida, nunca saiu na rua com um bloco para apurar nada querer me ensinar depois de 30 anos a fazer jornalismo, eu exigi que a retração venha da mesma pessoa, nos mesmos moldes que ela fez a crítica que ela colheu no submundo bolsonarista, que ela colheu nos grupos de mensagens, que ela deve achar que é nesse tipo de lugar que se pratica jornalismo. No submundo do Telegram, dos grupos de Whatsapp".

Durante participação no UOL News, Vera Magalhães também falou sobre um vídeo adulterado utilizado no programa "Os Pingos Nos Is", da Jovem Pan, que acusava a jornalista de ter premeditado irritar Jair Bolsonaro. "É muito lamentável, até porque é um veículo no qual já trabalhei e que mesmo quando eu divergia de algumas posições do veículo ou de outros comentaristas, sempre tratei com respeito e nunca parti para a desqualificação pessoal e muito menos para mentir a respeito de ninguém".

Mônica Bergamo: 'Bolsonaristas arriscam pessoas que criticam; Vera Magalhães corre riscos reais'

"Eles [bolsonaristas] arriscam contra as pessoas que eles criticam, então acho que temos uma segunda dimensão aí [além do debate público] e acho que a Vera corre riscos e todas as pessoas que são atacadas publicamente correm riscos reais e verdadeiros de pessoas que começam a ser estimuladas a ter um ódio por coisa que nós não fizemos. Acho que essa dimensão é a mais perigosa e mais complicada", disse a colunista da Folha de S.Paulo Mônica Bergamo no UOL News sobre os ataques que Vera Magalhães recebeu após participação no debate e também da disseminação de fake news.

Ela também destacou que uma das formas de atuação do bolsonarismo é a tentativa de descredibilizar o jornalismo. "O presidente ataca e isso mostra uma tentativa de desqualificação de jornalistas mulheres e do jornalismo de uma forma geral. Desqualificar quem está perguntando, questionando ou criticando é uma forma de se livrar das perguntas e das críticas. Uma tentativa de fazer com que aquela pergunta ou crítica não sejam válidas e caiam no descrédito".

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