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Preciso ficar sem falar por um mês, diz Lula sobre rouquidão em campanha

Do UOL, em Belém (PA)*

01/09/2022 14h25Atualizada em 01/09/2022 18h34

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a comentar sobre a rouquidão na voz, apresentada em comícios recentes e no debate do último domingo (28). Falando baixo em encontro com artistas e profissionais da cultura em Belém hoje, ele brincou que precisa de um mês para recuperá-la.

Ontem (31), Lula teve três eventos em Manaus, na sua primeira viagem ao Norte durante a campanha, incluindo um grande ato à noite. Hoje, mais tarde, fará mais um em Belém. A agenda movimentada tem sido a explicação da campanha para a rouquidão.

Agenda cheia e voz falha. Lula começou sua fala no Theatro da Paz, símbolo da capital paraense, na região central, falando baixo —rouco, já abriu o discurso se explicando.

"Eu vou ser curto porque toda hora que eu levanto a Janja [da Silva, esposa] fala: economiza a voz, economiza a voz", disse ele sob olhar afirmativo da mulher, que o acompanha na viagem e estava sentada logo atrás.

No total, ele falou por quase 35 minutos —tempo semelhante a outros discursos em eventos de campanha.

Preciso parar de falar um mês pra recuperar a voz."
Lula (PT)

A equipe de Lula já havia se posicionado sobre a voz rouca no primeiro debate presidencial, também notada na sabatina do candidato no Jornal Nacional —a resposta oficial cita o desgaste devido à agenda cheia durante a campanha.

Comentários nas redes sociais. A rouquidão foi alvo de ataques de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) e até do presidenciável Ciro Gomes (PDT). Após o debate, o pedetista fez ataques especulativos sobre Lula na manhã de segunda (29) em seu Twitter.

"Será que não entendem que Lula está cada dia mais fraco fisicamente, psicologicamente e teoricamente para enfrentar a direita sanguinária?", questionou Ciro que, em seguida, deletou a postagem.

O post enfureceu o PT. No mesmo dia, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido, chamou o caso de "lamentável".

Os questionamentos sobre a voz fazem referência indireta a um câncer que Lula enfrentou há dez anos. Em maio de 2011, o ex-presidente foi diagnosticado com um tumor maligno na laringe. Em outubro de 2012, depois de tratamento com quimioterapia, ele foi declarado livre da doença.

Que Tebet? No palco, Lula estava acompanhado do governador Helder Barbalho (MDB); do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL); e do senador Paulo Rocha (PT-PA). Esta é a segunda capital, depois do Recife, em que o ex-presidente é recebido pelos governos estadual e municipal.

Helder faz parte do grupo de 12 diretórios emedebistas que declararam apoio a Lula já no primeiro turno, mesmo tendo a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como candidata ao Planalto.

O meu partido tem candidata a presidente, mas eu não poderia deixar de vir aqui em reconhecimento ao trabalho que o se fez no estado do Pará."
Helder Barbalho (MDB), em discurso hoje

"Já foram melhores". Em sua fala, Lula retomou pautas que tem tratado durante a campanha, em especial economia e sustentabilidade, além de cultura.

No início do discurso, fez uma brincadeira em tom de crítica, dizendo que a elite brasileira já foi melhor, ao elogiar o Theatro da Paz.

"Já tivemos uma elite culturalmente melhor do que a de hoje. Porque a de hoje, ela vai para fora. Vai pra Nova York, para Paris, Londres, Berlim. Naquele tempo, a elite gostava de coisa chique porque estudava fora e tiveram a coragem de, no ciclo da borracha, se não me falha a memória, também no estado do Amazonas, de fazer um teatro dessa qualidade", disse.

Em seguida, ele afirmou que nunca havia estado no local.

"Retomada da cultura". A volta de incentivos federais para o setor cultural tem sido uma das bandeiras da campanha. Desde o início da pré-campanha, em junho, Lula tem se reunido com profissionais do setor para ouvir demandas —a cultura foi uma das áreas mais impactados no governo Bolsonaro, que critica a Lei Rouanet e outros incentivos.

O petista já realizou eventos semelhantes em Maceió, Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro.

As duas principais propostas são a recriação do Ministério da Cultura, extinto na primeira semana do governo Bolsonaro, em janeiro de 2019, e a criação de conselhos regionais, para estimular a cultura local de cada estado.

Programação regional. Lula ainda falou sobre a suposta falta de conteúdos regionais nas televisões do Brasil, que fariam apenas retransmissão de conteúdos a partir de matrizes instaladas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ele reclamou, mas disse que não pode resolver a questão —pois se trata de assunto relativo ao Congresso, de acordo com ele.

"Tem uma coisa que não posso dizer que vou fazer, porque não vai depender do presidente da República, depende do Congresso. É que não é mais possível, no século 21, a gente ter emissoras de televisões retransmissoras das matrizes que normalmente estão em São Paulo ou no Rio de Janeiro", disse. "Por que as grandes cadeias de televisão não mostram artistas do Pará, de Pernambuco?", questionou.

Gritos adaptados. Enquanto esperavam o ex-presidente, que atrasou cerca de 1h30, como tem acontecido em eventos de campanha, os artistas, que puderam entrar na plateia com violões, maracas, trompetes e outros instrumentos, recitaram poesias e cantaram carimbós e músicas paraenses.

Além do grito "Olê olê olá", tradicional em todos os comícios do ex-presidente, teve ainda a versão regional "É carimbó, é tacacá, agora é Lula no Pará".

No momento de maior animação, um grupo de carimbó dançou no palco com Barbalho e Janja da Silva, esposa de Lula, que colocou a saia de uma das dançarinas. A cantora paraense Dona Onete iria participar do evento, no palco, mas ficou "ansiosa" e cancelou. Segundo a organização, ela passa bem.

Pegou um ita no Norte. Esta é a primeira passagem da região Norte desde a pré-campanha. Em Manaus, ontem (31), Lula visitou uma fábrica na Zona Franca, reuniu-se com povos indígenas e fez um grande ato público à noite.

O ex-presidente, que tem leve vantagem sobre Bolsonaro na região, tem usado o discurso sobre desenvolvimento sustentável, meio ambiente e emprego para puxar votos do adversário.

Amanhã, Lula irá para o Maranhão, e tem agendado um grande ato em São Luís.

*Com informações da Agência Estado