Lula usa meio ambiente e emprego para roubar votos de Bolsonaro no Norte
Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e emprego. É sobre este tripé que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se debruça para atacar o presidente Jair Bolsonaro (PL), principal adversário ao Planalto, na viagem que faz à região Norte nesta semana.
É a primeira vez que o petista vai a estes estados desde que começou a rodar o país em pré-campanha, em junho. Ele visitou Manaus ontem (31) e segue hoje para Belém. De acordo com a pesquisa Quaest, da semana passada, os dois estão empatados no Norte, com 40% para o petista e 39% para o presidente —e ele quer aproveitar esses assuntos para aumentar a margem.
Alianças costuradas. O candidato a governador do Amazonas Wilson Lima (União Brasil), que tenta a reeleição, é bolsonarista —ele já foi alvo de processo por crimes cometidos durante a pandemia de covid-19, incluindo a compra de respiradores superfaturados. Hoje, lidera as pesquisas de intenção de voto.
Já Lula apoia a candidatura do senador Eduardo Braga (MDB-AM) ao governo, em uma aliança com o senador Omar Aziz (PSD-AM), que busca a reeleição. Lula costurou a chapa para aumentar um apoio pluripartidário —embora nem MDB nem PSD componham a coligação nacional. Braga está em terceiro lugar nas pesquisas e tem a expectativa que a visita do petista ajude a alavancar a candidatura.
O atual presidente foi a Manaus em junho e reuniu apoiadores em uma motociata. No discurso, prometeu impostos zerados para motociclistas. Na época, as atenções internacionais estavam voltadas à região por causa da morte do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira —mas ele não citou o caso. Os discursos de Bolsonaro e Lula, na região, são bem diferentes.
Ferida de Bolsonaro. A sustentabilidade tem sido um dos principais temas abordados pela campanha petista —e pelo plano de governo, que deve ser apresentado formalmente nos próximos dias. Entre as diretrizes, há a defesa da soberania da Amazônia pelo Brasil e países vizinhos, do combate ao garimpo ilegal e da transformação da exploração na floresta a técnicas mais sustentáveis.
O assunto também é considerado um calcanhar de Aquiles para Bolsonaro. Pesquisas internas da campanha petista mostram que este é um dos temas mais mal avaliados do atual governo. Lula quer explorar isso. Com recorde de incêndio e desmatamento na Amazônia, o petista não tem desperdiçado chance de falar que vai combater o garimpo, ligando os casos a Bolsonaro.
"[Em um possível governo Lula] não haverá mais mercúrio, eu conheço bem o [rio] Tapajós", afirmou o ex-presidente à imprensa, em Manaus. Desde 2020 tem sido registrado aumento de mercúrio em decorrência do garimpo ilegal nas águas amazônicas.
"A gente não pode acreditar que o ser humano seja tão insensível não vendo o mal que ele está causando para o planeta", completou Lula.
Entre as promessas mais antigas da pré-campanha, está ainda a criação do Ministério dos Povos Originários. "Para que a gente possa permitir que aqueles que estavam aqui antes de nós possam ter a maior responsabilidade para cuidar da preservação do nosso ecossistema", diz o ex-presidente.
Fomento ao emprego. Na região, Lula aproveita ainda para ligar o meio ambiente ao principal tema da sua campanha: economia e renda. Ele tem usado a Zona Franca de Manaus para falar em combate ao desemprego e melhoria de vida, assuntos presentes em todos os discursos do ex-presidente —e repetido na região.
A Zona Franca é um patrimônio para o desenvolvimento da região Norte do país e ela precisa continuar gerando emprego, gerando renda."
"Nós temos muita gente trabalhando na informalidade. nós temos muita gente fazendo bico e as pessoas acham que isso é emprego. Emprego as pessoas têm que ter registro em carteira, direito a férias, descanso semanal remunerado, um sistema de seguridade social", declarou Lula após uma visita à fábrica da Honda no PIM (Polo Industrial de Manaus).
Também base do seu programa de governo, ele tem prometido estimular o trabalho formal para combater a chamada "uberização", com aumento da informalidade. Na nova reforma trabalhista —que faz parte da proposta de Lula, caso eleito— o trabalho flexível também deverá ser alterado —mas com desenvolvimento sustentável.
Lula tem defendido uma mudança na exploração da Amazônia. Ele repete com frequência que a floresta deve ser explorada para estimular o desenvolvimento da região, mas de forma sustentável.
Em especial por influência da Rede e do PV, ele já declarou que pretende reduzir o desmatamento para a criação de gado na região e incentivar técnicas mais sustentáveis e setores mais compatíveis com a floresta, como o farmacêutico, deixando de lado o desmatamento para criação de gado.
Ninguém de nós quer transformar a Amazônia no santuário da humanidade, uma coisa intocável. O que nós queremos é tirar proveito da biodiversidade, para que a gente possa gerar melhores condições de vida para os povos que moram na floresta."
Outra ideia proposta é criar o chamado crédito verde, com queda de juros para produtores agrícolas sustentáveis.
Com essas ideias, avalia a campanha, Lula consegue não só manter o público mais conectado com o meio ambiente, já mais propenso a votar nele, como os mais pragmáticos, preocupados com a economia.
"Me coloco de acordo com outros governos da América do Sul para, sem abrir mão da soberania, convidar cientistas do mundo inteiro a participar da exploração de um mundo megadiverso", completou o petista.
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