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Após Ipec, Lula cutuca 3ª via e diz que Bolsonaro rouba 7 de Setembro

Do UOL, no Rio de Janeiro

06/09/2022 13h41Atualizada em 06/09/2022 15h05

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mirou hoje suas críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e aos candidatos da chamada terceira via na disputa ao Planalto. Animado com o resultado da pesquisa Ipec de ontem, o petista criticou, em reunião com o conselho político, a convocação de atos a favor de Bolsonaro no 7 de Setembro e distribuiu indiretas ao ex-governador Ciro Gomes (PDT), sem citá-lo.

A pesquisa mostrou Lula estável com 44% das intenções de voto e oscilação negativa de Bolsonaro de um ponto para 31%. O PT ainda aposta na possibilidade de vitória no primeiro turno. Para isso, o tom da campanha pode mudar, por mais que ele diga que se manterá pacífico.

O usurpador. Lula atacou a convocação do presidente para os atos de 7 de Setembro em Brasília, em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde deverá participar presencialmente. Com anúncios até na propaganda eleitoral gratuita na televisão e no rádio, os atos terão trios, políticos próximos ao presidente e discursos de Bolsonaro.

O temor é que as comemorações, oficialmente voltadas ao Bicentenário da Independência, ganhem ares de festas de apoio ao concorrente, com gritos de ordem contra as urnas eletrônicas e a Justiça. Para Lula, o adversário usa a data histórica eleitoralmente.

Nós temos um candidato que está no cargo, usando a máquina pública —inclusive agora, usurpando o 7 de Setembro do povo brasileiro para ser uma coisa pessoal dele. Tratando o 7 de Setembro como se fosse uma coisa dele, quando na verdade é uma comemoração de interesse de 215 milhões de brasileiros."

"É a independência do nosso pais e ele poderia ter tido a grandeza de fazer uma grande festa para o povo participar. Mas ele resolveu fazer para ele. É dele. Ele que já disse 'as minhas forças armadas', diz 'a minha independência'. É triste, mas é assim", completou o petista.

Deboche sobre 3ª via. Lula também decidiu subir críticas contra os outros candidatos. Até então ignorando a existência de opositores, como a senadora Simone Tebet (MDB-MS), e chegando até a flertar com elogios a Ciro, o petista decidiu atingir também os candidatos com menos de 10% de intenções de voto, de olho em uma possível vitória no primeiro turno.

Sei que às vezes vocês [comitê da campanha] ficam chateados por que candidatos da oposição nos atacam. A gente tem que compreender. Primeiro eles atacam Bolsonaro porque querem ganhar uns pontinhos dos eleitores [contra] o Bolsonaro e eles me atacam porque eles não querem que eu ganhe as eleições no primeiro turno."

Indiretas a Ciro. Antigo aliado e ex-ministro, Ciro tem subido o tom contra Lula nas últimas semanas. O pedetista chegou a fazer especulações sobre a saúde do ex-presidente nas redes sociais e tem falado do petista com frequência em entrevistas e na lives que faz na internet.

A transmissão de lives, muito usadas por Bolsonaro e pelo pedetista por meio do programa "Ciro Games", foi ironizada por Lula. Segundo ele, os adversários não fazem comício porque não teriam público.

"Não faz comício não é porque não quer, é porque não junta gente. É preciso ter história, é preciso ter programa, é preciso ter compromisso para juntar o povo na rua e discutir com eles", disse Lula.

Se me derem um computador novo, o celular mais moderno do mundo e pedirem para mim se eu quero ficar dentro de casa fazendo conversa pela rede ou se eu quero ir pra zona leste fazer discurso, prefiro ir na zona leste fazer discurso."

A relação entre os dois, distante desde 2018, piorou com o aumento das críticas de Ciro a Lula. Durante o debate presidencial, o petista procurou estabelecer uma trégua com o ex-aliado, mas recebeu resposta enviesada.

Lulinha quase paz e amor. O discurso deixou o petista em uma posição dúbia. Apesar das alfinetadas, Lula encerrou sua fala na reunião com um aceno a seguir em pautas propositivas, focando em economia.

Nós não temos que ficar retrucando nem ficar aceitando o nível mais baixo de campanha. Não precisamos fazer jogo rasteiro, temos que tentar discutir os problemas que interessam o povo brasileiro. e estamos vendo que o povo quer discutir o problema da sua dívida, do desemprego, de acabar com a economia informal."

Esta é uma estratégia antiga da campanha. O petista tem sido instruído a não fazer provocações desnecessárias e só responder se for cutucado. O objetivo é passar a imagem de que Lula não está interessado em picuinhas com os outros candidatos —e, de quebra, tentar tentar passar essa pecha para os concorrentes.

Por outro lado, o petista também tem subido o tom contra Bolsonaro e, agora, ao que parece, contra os outros adversários.

Vitória em 1º turno? O resultado do Ipec deixou a campanha animada. Mais do que a oscilação de um ponto de Bolsonaro para baixo, dentro da margem de erro, o que mais agradou aos petistas foi a manutenção do ex-presidente no patamar acima dos 40%, com possibilidade de vitória no primeiro turno —no limite da margem de erro.

Como o UOL já havia adiantado, o PT já vinha considerando que, se chegasse no início de setembro neste patamar, focaria seus esforços em convencer indecisos e roubar uma pequena margem de votos de Ciro. Na reunião, Lula deixou claro que o foco é recuperar a vantagem, que já foi maior e já não aparece no agregador de pesquisas do UOL.

A gente não tem que ter vergonha de dizer que quer ganhar no primeiro turno. Porque quem tem 5, 6, 7 ou 8 [% de intenções de voto] sonha a 40% para ir pro segundo turno? Ou chegar a 30%? Ora, por que quem tem 45% não pode sonhar apenas com mais 5% e ganhar no primeiro turno?"