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7 de Setembro: por que Lula e PT decidiram não fazer manifestações?

O ex-presidente Lula (PT) durante encontro com trabalhadoras domésticas em São Paulo - Roberto Stuckert
O ex-presidente Lula (PT) durante encontro com trabalhadoras domésticas em São Paulo Imagem: Roberto Stuckert

Do UOL, no Rio de Janeiro

07/09/2022 04h00Atualizada em 07/09/2022 15h40

O PT decidiu não disputar as ruas com apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) neste 7 de Setembro. Com avaliação de que é uma queda de braço que não vale a pena, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não promoverá eventos abertos e deverá ficar em casa.

Apesar de criticar as convocações de Bolsonaro, que participará em atos em Brasília e no Rio de Janeiro e deverá discursar por um telão para apoiadores de São Paulo, o foco do partido será monitorar redes sociais para avaliar o comportamento bolsonarista e as repercussões positivas e negativas às ações do presidente.

Fica em casa? A análise interna no PT é que não há por que nem como disputar a data nas ruas com os bolsonaristas atualmente.

O partido avalia que, com ligação cada vez mais forte e simbólica com as pautas defendidas por Bolsonaro, fazer um grande evento de Lula ou tentar mobilizar um movimento nacional de esquerda poderia ser um fracasso porque não teria a mesma aderência.

Para o PT e para os partidos aliados, é mais interessante distanciar-se da data e mantê-la como algo institucional. Como evento de campanha, Lula já marcou, não por coincidência, um grande ato em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para amanhã (8) —lá, sim, nos moldes eleitorais.

Dia do Brasil. Sem falar em disputa, a explicação oficial é que nenhum partido deveria tentar agir como Bolsonaro e politizar a data porque é um evento nacional, "voltado ao povo".

Desde que lançou a pré-candidatura, no primeiro semestre, Lula tem falado em retomar os símbolos nacionais. O material visual da sua campanha tem as cores do Brasil, todos os seus grandes eventos começam com a execução do hino nacional e ele tem usado e saudado a bandeira em diversos momentos.

O recado ficou ainda mais explícito ontem, na propaganda eleitoral de Lula. Com fortes críticas a Bolsonaro, ele diz que "nossa bandeira é nossa pátria, pátria amada, não é de quem propaga ódio e quer armar o povo, nem de racistas preconceituosos".

Eles ameaçam a nossa soberania, e soberania é a defesa do nosso território e de nossas riquezas, respeito à democracia, com povo feliz, com comida na mesa e oportunidades. Eu tenho fé que o Brasil reconquistará a sua independência e voltará a ser respeitado pelo mundo."
Lula, na propaganda eleitoral

Só observando. Se as lideranças ficarão "tranquilas" —sem compromisso oficial—, as redes sociais e de comunicação do partido estarão na atividade. O plano é monitorar não só o comportamento de apoiadores de Bolsonaro e entusiastas de um eventual rompimento institucional como ver as reações aos discursos.

Com pesquisas qualitativas públicas e internas que apontam que a maioria dos brasileiros não apoia ameaças à democracia, o partido quer entender como os eleitores podem reagir a diferentes acenos do presidente.

Para lideranças do partido, é interessante tanto acompanhar caso o presidente faça um discurso mais brando (se isso repercutiu bem ou se pareceu fraqueza) quanto se ele decidir endurecer as falas contras instituições, como o STF (Supremo Tribunal Federal) ou a Justiça Eleitoral.

Neste ponto, o grupo político também irá ficar de olho na reação institucionais, em especial dos ministros do Supremo e de pares políticos. A aposta dentro do PT é que, com o presidente atrás nas pesquisas, o núcleo duro da campanha —mais próximo de Bolsonaro— e os apoiadores mais fiéis não devem pular no barco.

Roubou a data. Até a noite de ontem, não havia programação de evento aberto de Lula, embora ele possa marcar reuniões e, eventualmente, falar com a imprensa. O tom contra as ações de Bolsonaro já foi dado.

Além da propaganda eleitoral, Lula criticou, em reunião com conselho da campanha, que Bolsonaro roubou a comemoração da Independência para si.

Nós temos um candidato que está no cargo, usando a máquina pública —inclusive agora, usurpando o 7 de Setembro do povo brasileiro para ser uma coisa pessoal dele. Tratando o 7 de Setembro como se fosse uma coisa dele, quando na verdade é uma comemoração de interesse de 215 milhões de brasileiros."

"É a independência do nosso pais e ele poderia ter tido a grandeza de fazer uma grande festa para o povo participar. Mas ele resolveu fazer para ele. É dele. Ele que já disse 'as minhas forças armadas', diz 'a minha independência'. É triste, mas é assim", completou o petista.

Atos bolsonaristas? A expectativa entre bolsonaristas para a data é grande. O próprio presidente vem convocando apoiadores para os atos. Ele deverá participar (presencial e remotamente) em três praças:

  • 11h faz ato em Brasília, após desfile militar
  • 13h22, no Rio de Janeiro, sai em motociata do Flamengo para a manifestação em Copacabana
  • Também à tarde, faz discurso remoto para os apoiadores que estiverem na avenida Paulista em São Paulo

Bolsonaro conseguiu fazer com que as Forças Armadas realizassem um ato alusivo ao Bicentenário da Independência do Brasil em Copacabana, mas militares do Exército alegam que o Tributo Cívico-Militar será separado do ato político, que deve acontecer em outro palanque a poucos metros de distância, conforme informou a colunista do UOL Carla Araújo.

É esperado, no entanto, que apoiadores e lideranças Bolsonaristas comemorem —até com trios elétricos— a data por todo o país, com pauta que têm frequentado os discursos do presidente, como questionamento das urnas eletrônicas, celebração da ditadura militar e ofensas a opositores políticos e ministros do STF.