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Lula defende busca na casa de Bolsonaro para explicar compra de imóveis

Do UOL, em Brasília

10/09/2022 15h37

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu neste sábado que investigadores entrem na casa do presidente Jair Bolsonaro (PL) para que o político explique "as casas que ele comprou em dinheiro vivo". A ação sugerida seria semelhante a uma busca e apreensão feita pela polícia. O petista e dois de seus filhos foram alvos de operações policiais a partir de 2015.

O UOL revelou que a família Bolsonaro adquiriu 107 imóveis nas últimas décadas, sendo 51 com uso de dinheiro vivo. Os valores transacionados em espécie no período todo somam R$ 25 milhões, quando corrigidos pela inflação.

Hoje, Lula disse em redes sociais que sua família foi investigada e que "foram" na casa dos seus filhos. "Toda a minha família, quando foi denunciada, foi investigada", afirmou o candidato do PT. "Foram na casa dos meus filhos e não acharam nada."

Tem que ir na casa do Bolsonaro para ele explicar as casas que ele comprou em dinheiro vivo."
Lula

O petista ainda defendeu o fim dos sigilos de 100 anos decretados por Bolsonaro. O presidente colocou sigilo na lista de visitantes do Palácio da Alvorada, por exemplo.

PF fez buscas em casos de corrupção

Em 2015, a Polícia Federal fez busca e apreensão em endereços de Luís Cláudio Lula da Silva, um dos cinco filhos do petista. A Operação Zelotes buscava provas sobre suspeitas de corrupção de montadoras de veículos que tentavam reduzir seus impostos com Medidas Provisórias.

Em 2016, a residência de Lula foi alvo de mandado de buscas na 24ª fase da Operação Lava Jato. A suspeita é que ele havia ganhado um apartamento triplex e um sítio em troca de benefícios a empreiteiras que atuavam na Petrobrás.

Em 2017, o filho mais velho do petista, Marcos Lula da Silva, sofreu busca da Polícia Civil por suspeita de portar drogas.

Justiça arquivou processo em que Lula foi condenado

As investigações e julgamentos contra Lula terminaram. Lula foi condenado por corrupção no processo do apartamento triplex por três instâncias e no do sítio, por duas. Ficou mais de um ano preso e foi impedido de concorrer nas eleições de 2018 contra Bolsonaro, por causa da Lei da Ficha Limpa.

Mas, em 2021, o Supremo Tribunal Federal, considerou que a 13ª Vara Federal de Curitiba não tinha atribuição regional para julgá-lo. Os ministros mandaram os processos para a Justiça de Brasília. Isso fez tudo ser arquivado por excesso de demora nos processos, a chamada "prescrição".

Clã Bolsonaro não foi julgado por "rachadinhas"

No caso de Jair Bolsonaro, as revelações sobre suspeitas de dinheiro vivo e desvio de verbas —- as chamadas "rachadinhas" —- nunca chegaram a julgamento. Possíveis crimes de peculato ligados a seus filhos geraram investigações e denúncias do Ministério Público do Rio de Janeiro. Não houve julgamento do conteúdo das denúncias. E nenhuma apuração foi aberta em relação ao presidente, cuja mulher recebeu cheques do operador do mesmo esquema apontado pelo MPRJ, o ex-policial Fabrício Queiroz.

O procurador-geral da República Augusto Aras afirmou ao UOL que só abriria apuração sobre Bolsonaro depois que ele deixasse o mandato.

O UOL mostrou que parte dos imóveis negociados em dinheiro vivo fazia parte das investigações do MPRJ sobre Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o filho mais velho do presidente.

Presidente mudou discurso sobre dinheiro vivo

Jair Bolsonaro fez dois tipos de comentários sobre o uso de dinheiro vivo na compra de imóveis de sua família revelado pelo UOL. Primeiro, em 30 de agosto, ele disse que não havia nenhum problema em fazer compras em espécie. "Qual o problema de comprar com dinheiro vivo?", afirmou o presidente aos repórteres.

A declaração já era um pouco diferente da de janeiro de 2018. Naquele ano, ele associou o uso de "cash" a suspeita de crimes. "Levar em dinheiro não é o caso", afirmou Bolsonaro à Folha de S.Paulo. "Pode ser roubado. Tira do banco direto e manda para lá. Eu não guardo dinheiro no colchão em casa."

O segundo comentário foi em 6 de setembro deste ano. Bolsonaro fez um segundo comentário sobre o uso de dinheiro vivo na compra de imóveis. Desta vez, afirmou à rádio Jovem Pan que o UOL errou ao associar a expressão dos cartórios "moeda corrente" a recursos em espécie: "Comprar imóveis em moeda corrente não é dinheiro vivo", argumentou.

Mas cada uma das 51 transações com dinheiro vivo estava amparada em documentos e entrevistas. Os papéis e demais provas foram exibidos pela reportagem aqui.