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Homem que negou marmita a eleitora do PT gritou 'Bolsonaro' antes de vídeo

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

11/09/2022 21h29

O homem que viralizou ao gravar um vídeo dizendo a uma mulher pobre que ela não receberia mais marmita por ser eleitora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gritou "Bolsonaro" antes de registrar a cena, que ocorreu na última quarta-feira (7) em Itapeva, interior de São Paulo.

O relato foi dado ao UOL por Alessandra Serafim Freitas, integrante de um projeto social que localizou e atendeu a mulher após o episódio ter vindo à tona. O autor do vídeo, o empresário Cássio Joel Cenali —que é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL)— desculpou-se ontem (11) após a repercussão do caso.

Grito por Bolsonaro. Quando Cássio Joel Cenali se aproximou do portão, ele gritou "Bolsonaro", segundo relato da eleitora de Lula a representantes do projeto social chamado Nós Propomos, de Itapeva. O nome dela foi mantido em sigilo pela reportagem para evitar que ela sofra represálias.

"Antes de abrir o portão, ela ouviu ele gritar 'Bolsonaro'. Quando se aproximou, ela ficou muito surpresa porque ele já estava gravando. Ela está com medo e se sentindo humilhada. Chorou muito quando a gente chegou lá. Precisava de acolhimento mesmo", disse Alessandra.

Pedido de desculpas. Após a repercussão do vídeo que gerou críticas nas redes sociais e uma onda de apoio, o empresário gravou um novo vídeo com um pedido de desculpa (veja abaixo). "Estou aqui para pedir desculpa pela infelicidade de ter feito esse vídeo. Estou muito arrependido", disse ele.

O empresário negou receber apoio político para a entrega de marmitas e afirmou que seu foco é fazer caridade. O UOL tentou contato com Cenali, mas ele não foi localizado.

Como o projeto chegou à casa. Ontem (11) de manhã, assim que ficou sabendo que o caso tinha ocorrido em Itapeva, Alessandra disse ter ido à procura da mulher, que mora com os três filhos em situação de vulnerabilidade social no bairro mais pobre do município.

A casa é simples e está em condições precárias. "Já levamos alimentos e fizemos a intermediação para doações feitas pelo MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]."

O MST disse que vai doar cestas de produtos da reforma agrária para ela por ao menos seis meses.

Como era a entrega de marmitas. Segundo o relato da mulher, que trabalha como faxineira, Cenali chegou à casa perguntando se ela estaria precisando de marmitas e que indicasse outras três famílias em situação de vulnerabilidade social. As entregas eram feitas às quartas-feiras.

Como foi feito o vídeo. Depois de dizer que é da campanha de Bolsonaro, ele pergunta em quem ela vai votar. Quando ela se revela eleitora do petista, o homem diz, olhando para a câmera: "Ela é Lula, a partir de hoje não recebe mais marmita. É a última marmita. A senhora peça para o Lula agora".

"Faz mais de dois anos que eu faço 60 marmitas toda quarta-feira e entrego para morador de rua, inclusive com [sic] essa senhora. Não é isso [fator político] que vai fazer eu parar o trabalho. É um trabalho que eu faço com recurso meu. Não tenho apoio político. Eu só quero a caridade", justificou ele no vídeo com o pedido de desculpas.

Mais de 4 milhões de visualizações. O vídeo em que o empresário nega novas doações à eleitora de Lula, postado por volta das 17h do sábado (10) na conta do Twitter Jornalistas Livres, já teve mais de 4 milhões de visualizações.

Repercussão do caso. Entre os que se dispuseram a ajudar a mulher exposta no vídeo está o apresentador Luciano Huck. "Fome não tem ideologia. Precisamos fortalecer o que nos une e não o que nos separa. Esta atitude ridícula é lamentável e desumana", escreveu ele no Twitter. "Me ajudem a chegar nessa senhora, por favor? Quero ajudá-la. Vamos fazer uma corrente do bem pra ela?".

Também manifestaram repulsa à atitude vista no vídeo artistas como Daniela Mercury, Pabllo Vittar, Rafael Portugal, Antonio Tabet e políticos como Orlando Silva, Jandira Feghali, Marcelo Freixo, Guilherme Boulos e o ex-presidente Lula.