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Haddad e Tarcísio atacam Rodrigo e nacionalizam debate em SP

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

14/09/2022 00h00Atualizada em 14/09/2022 14h45

O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, Rodrigo Garcia, foi alvo de ataques diretos de seus concorrentes em debate nesta terça-feira (13). Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) criticaram o adversário e tentaram colar sua imagem à do ex-governador João Doria (PSDB).

O debate foi nacionalizado desde o primeiro bloco, quando Haddad perguntou a Tarcísio sobre a vacinação contra covid-19. Depois, falaram sobre administração penitenciária, combate à corrupção e sobre os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Promovido pelo UOL, em parceria com a TV Cultura e o jornal Folha de S.Paulo, o debate reuniu os candidatos Haddad, Tarcísio, Rodrigo, Elvis Cezar (PDT) e Vinicius Poit (Novo).

De acordo com a pesquisa Ipespe divulgada na última sexta-feira (9), o petista lidera a disputa no primeiro turno com 36%. Tarcísio aparece com 21% e Rodrigo com 16%. Poit marcou 1% e Elvis não pontuou. A margem de erro é de três pontos percentuais.

O que você precisa saber sobre o debate:

  • Rodrigo foi alvo de Haddad e Tarcísio, que tentaram colar a imagem do atual governador à de Doria.
  • O tucano afirmou que não tem padrinho político e criticou a ligação dos concorrentes com Lula e Bolsonaro.
  • O debate foi nacionalizado desde o primeiro bloco, quando Haddad perguntou para Tarcísio se o governo federal agiu bem em relação à campanha de imunização contra a covid-19. Na resposta, Tarcísio defendeu a liberdade para os antivacinas.
  • Figurantes no palco, Poit e Cezar foram ofuscados por seus pais. Haddad e Garcia citaram suas ligações com os familiares.
  • Nos bastidores, houve gritaria de apoiadores e uma conversa amistosa inusitada entre Haddad e Tarcísio, entre gargalhadas do petista.

O que os candidatos disseram:

São Paulo hoje é um canteiro de obras. O Tarcísio fica falando esse monte de número. Parece que as obras aqui de São Paulo até têm ajuda dele ou do governo federal. Não têm, pessoal. São obras com os recursos do estado."
Rodrigo Garcia para Tarcísio de Freitas

Todo mundo tem padrinho, não é bem assim. O Rodrigo se esquece de que o [Gilberto] Kassab [PSD] foi padrinho dele. Ele serviu ao governo Kassab aqui na prefeitura. (...) Rompeu com o [ex-governador Mário] Covas, brigou com o Covas, foi demitido, fez campanha para o [ex-prefeito Celso] Pitta e foi secretário do Pitta, e foi secretário do Doria."
Fernando Haddad se dirigindo às alianças de Rodrigo Garcia

Sempre fico com dúvida. Porque uma hora 'nós fizemos', aí a entrega é do governo Doria. Outra hora 'eu sou o novo governador. Eu assumi agora. Então não sabia o que estava acontecendo'. Estava hibernando. Tenho sempre essa dúvida existencial do que você estava fazendo ou não estava fazendo."
Tarcísio de Freitas criticando Rodrigo Garcia

Você [Rodrigo] e o João Doria fizeram tudo diferente, aumentaram o imposto do leite das nossas crianças, aumentaram o imposto da carne da mesa do trabalhador paulista, aumentaram o imposto dos remédios dos nossos idosos, aumentaram o valor do IPVA, aumentaram tanto e tanto os impostos, e aí eu fico em dúvida com R$ 54 bilhões no caixa, qual modelo do seu governo? É só no nosso?"
Élvis Cézar em resposta a Rodrigo Garcia

Você mesmo não queria ser governador de São Paulo, veio a favor do Bolsonaro. Você vai continuar obedecendo, vai continuar fazendo tudo o que o Bolsonaro mandar?"
Vinícius Poit se dirigindo a aliança de Tarcísio Freitas com Bolsonaro

Leia mais frases do debate aqui.

O que aconteceu no debate:

Foco nacional. Ao longo do debate, temas nacionais ganharam espaço como vacinação contra covid-19, combate à corrupção, administração penitenciária e a aliança Lula-Alckmin. Tarcísio e Haddad, que estão ao lado de Bolsonaro e Lula, respectivamente, protagonizaram os principais momentos.

Não preciso provar amizade com o Geraldo Alckmin, de quem eu sou amigo há quase dez anos. Do {ex} secretário da Educação, o Gabriel Chalita, eu sou amigo há quase 20 anos. Eu construí o Fundeb, enquanto secretário-executivo do Ministério da Educação, a quatro mãos com o secretário da Educação de São Paulo, que era o Chalita, durante o governo Alckmin."
Fernando Haddad

O petista foi orientado pela campanha a focar em propostas e não partir para o embate direto com outros candidatos, a não ser em casos de provocação. No entanto, em sua primeira chance de fazer uma pergunta a um candidato, ele questionou Tarcísio a respeito do governo federal, e não a respeito de propostas locais.

Gafe de Tarcísio. Confrontado por Haddad se o governo federal "agiu bem" em relação as campanhas de vacinação, Tarcísio cometeu uma gafe e confundiu o nome do consórcio da OMS (Organização Mundial da Saúde), o Covax Facility, que tem o objetivo de acelerar e distribuir vacinas contra covid-19 pelo mundo, com a Covaxin, imunizante envolvido em esquema suspeito de propina revelado pela Folha de S. Paulo.

Assinamos outros contratos no decorrer de 2020 com o consórcio Covaxin Facility. Nós conseguimos aplicar a primeira vacina um mês depois do primeiro vacinado no mundo, o primeiro vacinado do mundo foi vacinado em dezembro. O primeiro vacinado no Brasil foi vacinado em janeiro e nós investimos aí quase 30 bilhões de reais e adquirimos 500 milhões de doses."
Tarcísio de Freitas

A compra de 20 milhões de doses da vacina Covaxin foi parar também na CPI da Covid —à época, Tarcísio fazia parte do governo Bolsonaro como ministro da Infraestrutura.

Apesar de Tarcísio dizer que o primeiro vacinado no país recebeu o imunizante em janeiro, a ação não aconteceu com apoio do governo federal —foi uma iniciativa do governo do estado de São Paulo, na época administrado por Doria.

Antivacina. Na mesma resposta, Tarcísio fez declarações para o eleitorado antivacina ao dizer que o governo promoveu liberdade e que não é preciso "obrigar ninguém" a se imunizar.

A gente não precisa obrigar, eles fazem isso [tomam a vacina] porque é o caminho que precisa ser tomado, e o governo não precisa obrigar. Ninguém precisa impor medidas restritivas a uma pessoa que, por alguma razão, não quer se vacinar. Nós vamos promover a liberdade: cada um terá liberdade de tomar sua decisão.
Tarcísio de Freitas

O discurso é um reforço de declarações feitas por Bolsonaro ao longo da pandemia.

Ataques a Rodrigo. Haddad e Tarcísio criticaram Rodrigo ao longo do debate e lembraram que ele foi vice de João Doria.

"O João Doria foi uma vergonha como prefeito. Uma vergonha! Ele abandonou a cidade em um ano. Fugiu da cidade de São Paulo", disse o petista.

Em seguida, Tarcísio escolheu Rodrigo para fazer sua pergunta e questionou o candidato sobre as obras paralisadas. O atual governador, no entanto, disse que tem "muito orgulho" de retomar obras no estado.

Ao fim do debate, Garcia disse que "quem é vidraça sempre apanha".

Família. O candidato à reeleição também foi questionado sobre seu irmão, Marco Aurélio Garcia, condenado à prisão depois de ser provado que ele era um operador de lavagem de dinheiro para integrantes da máfia do ISS na Prefeitura de São Paulo.

Rodrigo tentou escapar e disse que "ninguém é responsável por ninguém". "Se ele fez algo de errado, ele que pague", defendeu o tucano. Haddad questionou o candidato também, mas Rodrigo rebateu relembrando esquemas de corrupção durante governos do PT.

Não venha querer transferir para outros um problema que não é meu, como provavelmente o Mensalão, o Petrolão não foi problema seu. Então, não queira aqui confundir a cabeça das pessoas, né? Nós precisamos ter muita seriedade de cuidar desse debate."
Rodrigo Garcia

Elogio à Lei Rouanet e mais gafe. Tarcísio fez elogios à Lei Rouanet —alvo de críticas de bolsonaristas— quando respondeu uma pergunta da jornalista Vera Magalhães. Ele mencionou o projeto Baccarelli, que trabalha com crianças de Heliópolis, maior favela da cidade de São Paulo.

"É muito bacana ver como a educação musical transforma realidades", disse o ex-ministro. Na sequência, Tarcísio ressaltou que o projeto tem considerável parte de seu financiamento por meio da Lei Rouanet.

Poit tentou pegar carona e enalteceu o projeto. Mas se enrolou com a geografia e afirmou que o Instituto Baccarelli fica em Paraisópolis, a cerca de 20 km de Heliópolis.

Poit pai, Poit filho. Durante uma pergunta, Poit acusou o PT de "corrupção" e de "defender bandidos". Haddad, no entanto, rebateu a informação dizendo que o pai do candidato do Novo, Wilson Poit, foi secretário na gestão petista.

Wilson Poit foi secretário em três gestões na Prefeitura de São Paulo: Haddad, Doria e Bruno Covas (PSDB).

A família de Elvis também foi citada no debate. "Seu pai [Antônio da Rocha Marmo Cezar (PDT)], inclusive foi deputado do meu partido até o começo deste ano, vários despachos nós tivemos juntos no Palácio para atender demandas importantes do mandato dele, lá de Santana quando você era prefeito", afirmou Rodrigo ao fazer uma pergunta ao candidato.

Elvis não ignorou a alfinetada e disse que o interesse de seu pai era apenas com o "povo de São Paulo".

Broncas. O vice de Tarcísio, Felicio Ramuth (PSD), foi advertido por um segurança da TV Cultura após assobiar alto em apoio ao candidato do Republicanos. Ramuth está acompanhado de Frederico d'Ávila (PL), candidato a deputado federal; Filipe Sabará (Republicanos), e o deputado federal e candidato à reeleição Capitão Derrite (PL).

A reportagem estava perto do grupo e presenciou conversas e barulho. No entanto, após a publicação desta reportagem, na quarta-feira (14), a assessoria de Ramuth negou que ele tenha assobiado. "Quem conhece Felicio Ramuth sabe que esse tipo de conduta não condiz com a sua personalidade e sua forma de agir", diz o texto enviado ao UOL.

Antes do início do debate, a plateia foi alertada para que mantivesse silêncio, sob risco de ser retirada do local.

O clima pesou quando Garcia e Haddad debatiam sobre o caso de corrupção envolvendo o irmão do tucano. Os convidados do PSDB aplaudiram aos gritos quando o governador paulista rebateu o petista sobre escândalos de corrupção durante o governo Lula.

Os petistas também se alteraram, pedindo silêncio, mas a reação efusiva veio mais ao fundo, de um convidado do PDT. "Vai tomar no c*, para de pedir silêncio", gritou Everton Roberto, secretário adjunto do partido em São Paulo.

Os seguranças interviram e disseram ao homem que ele seria retirado se repetisse o palavreado. O bate-boca também gerou reação no apresentador Leão Serra, que pediu silêncio ao vivo.

Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) conversam antes do início do debate - SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO - SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) conversam antes do início do debate
Imagem: SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Gargalhadas. Apesar do confronto ao longo do debate, Haddad e Tarcísio conversaram amistosamente com gargalhadas no palco antes do início do evento. Questionado pelo UOL, o petista disse que não iria fazer "confidências", mas depois afirmou que Tarcísio é seu "amigo de governo".

"Estivemos no mesmo governo. Não é pessoal, política é política. Ele estava interessado em conversar", afirmou Haddad, em referência ao período em que Tarcísio foi diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, na gestão Dilma Rousseff (PT).

O ex-prefeito também mencionou uma ajudinha ao adversário nos intervalos, quando Tarcísio o procurou em seu púlpito. "Ele não trouxe o roteiro, ficou colando de mim a ordem, as regras", disse.

Tarcísio confirmou: "Eu tava perguntando a ordem de fala" e chamou o concorrente de "gente boa".

Novo ataque a jornalista. Depois que o debate terminou, o deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos), candidato a deputado federal, foi expulso do auditório após tentar intimidar a jornalista Vera Magalhães.

Com celular em punho, o deputado, que faz parte da comitiva de Tarcísio, foi para cima da apresentadora afirmando que ela é "uma vergonha para o jornalismo" e questionando o valor do seu contrato de trabalho. O apresentador Leão Serva intercedeu e retirou o celular da mão de Garcia, que começou a gritar "jonazistas", enquanto era retirado pelos seguranças.

Participaram desta cobertura: Ana Paula Bimbati, Caê Vasconcelos, Isabela Aleixo, Felipe Pereira, Gabriela Vinhal, Gilvan Marques, Herculano Barreto Filho, Juliana Arreguy, Leonardo Martins, Lucas Borges Teixeira, Mariana Durães, Rafael Neves, Stella Borges, Wanderley Preite Sobrinho.