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Com voto útil em foco, Lula diz não ser candidato do PT, mas de 10 partidos

Lula concedeu entrevista ao Canal Rural - Reprodução/Canal Rural
Lula concedeu entrevista ao Canal Rural Imagem: Reprodução/Canal Rural

Do UOL, em São Paulo

21/09/2022 19h47Atualizada em 21/09/2022 21h12

"Não sou candidato do PT. Sou candidato de dez partidos diferentes." Foi assim que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou sua entrevista ao Canal Rural, exibida hoje, logo após ter sido apresentado pelo jornalista Antônio Pétrin como "candidato do PT".

A declaração ocorre no momento em que parte da militância tem feito campanha pelo chamado voto útil para que eleitores de outros candidatos na disputa pelo Planalto migrem votos para o petista. A movimentação foi criticada, por exemplo, pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que vêm em terceiro e quarto lugar nas pesquisas.

Na pesquisa mis recente do Ipec, divulgada no último dia 19, Lula oscilou um ponto para cima e apareceu com 47% das intenções de voto, contra 31% de Bolsonaro. Em seguida, aparecem Ciro, com 7%, e Simone, com 5%.

A dificuldade de Ciro em avançar nas pesquisas levou correntes internas no próprio PDT a defenderem que o partido desista da candidatura do ex-ministro e some forças para viabilizar uma vitória de Lula já no primeiro turno.

A esperança da militância petista em resolver a disputa no dia 2 de outubro cresceu após a divulgação da última pesquisa do Ipec, que apontou que Lula teria 52% dos votos válidos, o que indica a chance de vencer em primeiro turno.

Ao enfatizar ao Canal Rural que representa 10 partidos, não apenas o PT, Lula referiu-se à coligação Brasil da Esperança, com a qual concorre à Presidência. O grupo de apoio ao petista é formado por duas federações partidárias — uma com PT, PV e PCdoB e outra com PSOL e Rede —, além das siglas PSB, Agir, Avante, Pros e Solidariedade.

Lula no Canal Rural. A entrevista de Lula ocorre em meio a uma tentativa de aproximação com o agro. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, candidato a vice na chapa, viajará nesta quinta-feira (22) para Goiás, Mato Grosso e Rondônia, onde terá dois dias de agenda com produtores rurais e outros empresários do setor.

O ramo do agronegócio, que tem sido o maior financiador da campanha de Bolsonaro, é peça central da política em Mato Grosso, onde o PT não vence uma eleição presidencial desde 2002. O petista começou a acenar ao agro após ter afirmado, em sabatina que parte do setor é "fascista e direitista".

Na entrevista de hoje, ele não voltou atrás na afirmação, dizendo que "agro não é uma coisa só, como o PT não é uma coisa só, como o centrão não é uma coisa só". Para ele, ultimamente, tem-se visto mais o comportamento de pessoas falando com ódio, falando nervosas", disse. "Tem gente que tem discurso fascista e tem gente que tem discurso altamente democrático [no agronegócio]."

Lula também disse que o PT tratou bem o agronegócio desde o governo dele até o de Dilma Rousseff (PT), sua sucessora no cargo.

Quem seria o ministro da Agricultura? Sobre quem seria seu ministro da Agricultura em um eventual novo governo, Lula disse que "vai escolher uma pessoa de bem, que conheça o agronegócio, o mundo das exportações, que tenha sensibilidade." Ele não quis citar nomes.

O que Lula disse sobre as terras indígenas? Lula se declarou contrário à tese do marco temporal das terras indígenas, que defende que os povos só podem reivindicar locais que ocupavam à época da Constituição de 1988. Perguntado se a área reservada aos indígenas (14% do território nacional) não seria muito para cerca de 800 mil indígenas, o petista respondeu:

Por que a gente acha que é muito ter 14% se eles tinham tudo? Por que a gente acha que é muito? Por que a gente não preserva, sabe, as nações indígenas, para eles poderem se recuperar? Eles já foram mais de 5 milhões. Hoje são 700 mil porque nós estamos preservando um pouco da floresta deles
Lula, em entrevista ao Canal Rural

Comparação de Bolsonaro com Chávez. Lula fez uma comparação entre Bolsonaro e o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez (1954 - 2013). O petista declarou que o discurso bolsonarista de que "um povo armado jamais será escravizado" é o mesmo do ex-presidente venezuelano, de quem era próximo quando ambos estavam no poder.

Ao comentar a política armamentista, Lula disse que não é contra o direito do cidadão do campo de ter uma arma em casa, mas que a liberação feita por Bolsonaro foi "alucinada" e precisa de controle.

Como o agro tem recebido a candidatura de Lula? As maiores pesquisas eleitorais não têm um recorte específico sobre as intenções de voto do agronegócio. Mas regiões em que a atividade é mais expressiva têm rejeitado o PT nos últimos anos e parte do setor abraçou o bolsonarismo.

Em Mato Grosso, o PT não vence uma eleição presidencial desde o segundo turno de 2002. Já em Goiás e Rondônia, a última vitória de Lula foi no segundo turno de 2006. Embora esteja à frente de Bolsonaro nas pesquisas, o petista tem perdido para o atual presidente, numericamente ou acima da margem de erro, nas intenções de voto nestes estados.

Que parcela do agro está com Lula? Na gravação da entrevista ao Canal Rural, Lula esteve acompanhado por dois políticos de Mato Grosso que dialogam com o agro: o senador licenciado Carlos Fávaro (PSD-MT) e do deputado Neri Geller (PP-MT), candidato ao Senado.

Lula é o segundo presidenciável ouvido pelo Canal Rural, que já sabatinou Ciro Gomes em 6 de setembro. Segundo a emissora, também foram feitos convites a Bolsonaro e Tebet, que buscariam espaço nas agendas para conceder as entrevistas.