Ex-presidentes da América Latina pedem que Ciro Gomes desista e apoie Lula
Por meio de uma carta aberta destinada ao presidenciável do PDT Ciro Gomes, intelectuais e políticos proeminentes da América Latina, entre os quais dois ex-presidentes, pedem ao pedetista que desista de sua candidatura ao Palácio do Planalto em benefício de uma eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno.
No texto, assinado por nomes como Rafael Correa e Amado Boudou, ex-presidentes do Equador e ex-vice-presidente da Argentina, respectivamente, por Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do Nobel da Paz em 1980, a senadora colombiana Piedad Córdoba, o cineasta colombiano Hernando Calvo Ospina, entre outros, defendem que a saída de Ciro do pleito é necessária para "evitar" uma possível reeleição do atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL).
Os signatários reconhecem a importância do pedetista para a política brasileira e dizem que ele "foi um lutador pelas boas causas do povo brasileiro ao longo de sua vida". Entretanto, ressaltam estarem "perplexos" e consideram "incompreensível" que, no atual cenário, o candidato mantenha "insistência em apresentar sua candidatura presidencial".
Os líderes e intelectuais latino-americanos dizem ainda "haver tempo" para que Ciro "repare seu erro" e "dirija-se aos seus apoiadores agora e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula".
"Sabemos que você foi um lutador pelas boas causas do povo brasileiro ao longo de sua vida. É por isso a perplexidade que nos leva a te escrever esta carta e que nos move a te enviar esta mensagem fraterna, porque é incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil, em 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerado um ponto de virada histórico", diz o texto.
Os líderes latino-americanos ressaltam que o resultado das eleições brasileiras não significa apenas uma "escolha" entre Bolsonaro e Lula, mas, sim, "entre o fascismo e a democracia".
A carta prossegue dizendo que, ao insistir na candidatura, diante das projeções que mostram a incapacidade do pedetista de ir para o segundo turno, ele "dispersa forças" e "enfraquece o bloco antifascista", além de "facilitar a vitória de Bolsonaro", bem como abre "caminho para um novo golpe".
"Você, homem político, inteligente e com vasta experiência atrás de você, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar às urnas. A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe", diz.
O UOL questionou a campanha de Ciro sobre a carta assinada por intelectuais e políticos latino-americanos, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.
Ex-aliados de Ciro pedem voto em Lula
Membros e ex-integrantes do PDT também lançaram manifesto contra a candidatura de Ciro Gomes à presidência da República e em favor do "voto necessário" em Luiz Inácio Lula da Silva. Os ex-aliados acusam o pedetista de polarizar as eleições ao adotar "uma postura de ex-companheiro de trincheira".
No manifesto, filiados e ex-filiados ao PDT lembram que até 2018 Ciro "reconhecia o legado dos governos democrático-populares de Lula e Dilma Rousseff", com "significativa melhoria" no poder de compra do trabalhador brasileiro. No entanto, devido a impossibilidade de formar uma aliança com o PT no pleito presidencial daquele ano, em prol da candidatura pedetista ao Planalto, o ex-ministro passou "a adotar um tom mais iracundo contra a base petista".
Ao UOL, Carlos Lupi, afirmou que a candidatura de Ciro Gomes é "irreversível" e não será "comercializada" por outras candidaturas.
"A candidatura do Ciro é irreversível. Não vendemos, não trocamos e não comercializamos candidaturas. Doa a quem doer", afirmou.
Ontem, Lupi, sem mencionar os ex-apoiadores que agora suportam a campanha petista, falou em traição e evocou a memória de Leonel Brizola, fundador do PDT.
Pesquisa Ipec para presidente da República divulgada nesta semana mostrou que Lula segue liderando a disputa pela Presidência da República, com 47% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro segue estável com 31%. Considerando apenas os votos válidos, Lula teria 52% dos votos.
Em seguida, aparecem Ciro Gomes (PDT), com 7%, que manteve o mesmo percentual, e Simone Tebet (MDB), que oscilou positivamente de 4% para 5%, empatados na margem de erro. A senadora Soraya Thronicke (União Brasil) ficou com 1% e empata tecnicamente com Tebet. Os demais candidatos foram citados, mas não alcançam 1% das intenções de voto.
Leia a íntegra da carta:
"Querido companheiro Ciro Gomes:
Os nomes assinados abaixo são militantes da esquerda latino-americana, profundamente anti-imperialistas e comprometidos com a emancipação de nossos povos e com a criação da Grande Pátria. Somos também pessoas que amam e admiram o Brasil e seu povo e a cultura primorosa do país: sua música, sua literatura, suas pinturas, sua gastronomia, suas diversas manifestações artísticas e também a longa luta de seu povo para ter acesso a uma vida mais plena, material espiritualmente.
Sabemos que você foi um lutador pelas boas causas do povo brasileiro ao longo de sua vida. É por isso a perplexidade que nos leva a te escrever esta carta e que nos move a te enviar esta mensagem fraterna, porque é incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais eleições no Brasil, em 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerado um ponto de virada histórico. Por quê? Porque a escolha fundamental não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, mas entre o fascismo e a democracia.
E você, um homem político, inteligente e com larga experiência nas costas, sabe muito bem que sua candidatura não tem nenhuma possibilidade de chegar com chances às urnas, muito menos vencer no primeiro turno. A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe de Estado.
Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer o bem, nenhum bem, e sim de causar grandes danos ao Brasil e ao seu povo. Você não será capaz de fazer o bem apesar de suas intenções, porque suas chances de ganhar são zero. Ao enfraquecer a candidatura unitária de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você fará objetivamente -- apesar de suas intenções, que não duvidamos são boas -- será pavimentar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder.
Nos parece que, pela sua trajetória, você não deva entrar na história do Brasil por aquela porta indigna, como a de um homem que, tendo lutado pelas boas causas de seu povo e alcançado importantes resultados, em um momento crítico e decisivo comete um erro fatal e abre as portas para um processo que semeia morte e destruição em seu país e que, sem dúvida, também terá você como uma de suas vítimas. Não se pode ignorar a natureza perversa do atual presidente do Brasil. Suas palavras e promessas, mesmo aquelas que ele possa ter feito a você, são completamente inúteis.
Bolsonaro é um personagem imoral, um alucinado fanático sem princípios morais que deixou mais de 700 mil brasileiros e brasileiras morrerem sem fazer o menor esforço para salvá-los. Ele também é um traidor em série, comparável apenas aos piores personagens de Shakespeare. E ele não hesitará por um momento em te trair assim que for conveniente para ele.
Ainda há tempo de reparar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se aos seus apoiadores agora e lhes diga que a urgência da luta contra o fascismo não te deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula. Peça a eles esse voto, crucial para derrotar no primeiro turno o capitão (assim, com letras minúsculas) e seus esquadrões armados; crucial também para impedir a perpetuação no poder de um homem que exaltava a figura do canalha que torturou Dilma Rousseff.
Você, por sua história e suas ideias, tem que fazer o impossível para impedir que uma figura tão monstruosa fique mais um dia no Palácio do Planalto. Além disso, devido à sua idade, não temos dúvidas de que você continuará sendo uma figura de destaque na política brasileira. Não é a sua vez, as circunstâncias o obrigam a esperar. Não se esqueça que a paciência é um dos traços que definem os grandes líderes políticos.
Nada mais por enquanto. Esperamos que você aprecie o senso de solidariedade nesta mensagem. Receba um abraço fraterno de seus companheiros de luta de toda a América Latina e Caribe.
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