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Auxílio, consignado e Michelle: as apostas de Bolsonaro que não funcionaram

14.set.2022 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) e a primeira-dama, Michelle, durante evento em Natal - Reprodução/Facebook/Jair Messias Bolsonaro
14.set.2022 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) e a primeira-dama, Michelle, durante evento em Natal Imagem: Reprodução/Facebook/Jair Messias Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo

26/09/2022 04h00Atualizada em 26/09/2022 07h22

Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) promoveu uma mobilização no Congresso Nacional para viabilizar as leis que implementaram o Auxílio Brasil e o crédito consignado. Também houve um trabalho de convencimento para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, participar da campanha.

O esforço, porém, não se traduziu em intenções de votos. As pesquisas mostram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente entre o eleitorado feminino e entre quem recebe o Auxílio Brasil de R$ 600. O consignado nem sequer saiu do papel.

Beneficiários do Auxílio Brasil preferem Lula. Em 15 de julho o governo federal publicava no Diário Oficial da União a emenda que permitia a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600. O pacote também incluía aumento do vale-gás e a criação de benefícios para caminhoneiros e taxistas.

O mercado financeiro reclamou do que classifica de bomba fiscal e a houve acusação de que se tratava de troca de dinheiro por votos. Já a campanha de Bolsonaro estava satisfeita por considerar as medidas como trunfos eleitorais na corrida presidencial.

Um caso clássico de expectativa x realidade. O Datafolha de quinta-feira mostrou que Lula tem folgados 33 pontos percentuais de vantagem entre quem recebe hoje o Auxílio Brasil — 59% para ele e 26% para Bolsonaro. Na rodada anterior, a pesquisa dava 31 pontos à frente de Bolsonaro entre os beneficiários do programa de transferência de renda.

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Bolsonaro posa para foto com beneficiária do Auxílio Brasil
Imagem: Clauber Cleuber Caetano/PR

Falha em associar programa ao governo federal. A campanha de Bolsonaro atribui a desvantagem nas pesquisas a uma série de fatores. O primeiro é a demora na troca do cartão do benefício, que manteve o nome de Bolsa Família durante muito tempo. O programa é uma marca da administração Lula e, de acordo com a equipe do presidente, prejudicou a associação do aumento no valor com o atual governo federal.

Outra consequência da manutenção do nome no cartão foi facilitar a narrativa de Lula de que o Auxílio Brasil era um programa para ganhar votos e que acabaria ao final do ano. O fato de o benefício turbinado nascer com previsão de pagamentos até dezembro ajudou a fixar esta ideia na mente do eleitor

Disputa interna prejudicou programa. Existem ainda outros dois pontos que diminuíram os efeitos do Auxílio Brasil. A campanha de Bolsonaro avalia que o candidato à reeleição se limitou a dar entrevistas para meios de comunicação parceiros. Desta maneira, dialogou apenas com a bolha bolsonarista e limitou o alcance de suas realizações.

O fator derradeiro é a demora para o começo dos pagamentos. Quando a ideia surgiu, eclodiu a guerra da Rússia com a Ucrânia, no final de fevereiro. O ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu postergar os desembolsos para preservar o caixa do governo. À época, havia a expectativa de obter resultados positivos na campanha já com primeiro pagamento. Hoje, a leitura é que o adiamento prejudicou o desempenho eleitoral de Bolsonaro.

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A campanha avalia que atitudes de Bolsonaro boicotaram o potencial de Michelle em atrair o voto feminino
Imagem: Reprodução/Instagram Damares Alves

Bolsonaro boicotou efeito Michelle. As pesquisas anteriores à corrida eleitoral já indicavam que Bolsonaro precisava melhorar sua imagem entre eleitorado feminino. O diagnóstico era conhecido e o antídoto também. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, era vista como um ativo da campanha para suavizar a imagem do presidente. Ela discursou na convenção do PL em julho e o seu desempenho animou a equipe do presidente.

Mas a avaliação hoje é que o comportamento de Bolsonaro boicotou o potencial de conquista de votos que a primeira-dama proporcionava. O primeiro episódio de grande repercussão foi o ataque verbal à jornalista Vera Magalhães durante o debate do UOL, Folha, Band e TV Cultura, em 28 de agosto.

Dez dias depois, Bolsonaro voltou a dar declarações que não ajudaram a diminuir a rejeição nem a atrair o eleitorado feminino. Em 7 de setembro ele puxou o coro de imbrocháve. No primeiro momento, a campanha considerou um mal menor diante da possibilidade de ataques a autoridades ou instituições, mas o episódio atrapalhou a obtenção de votos de mulheres.

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O presidente considera motociata seguida de comício a fórmula ideal para pedir votos
Imagem: Gregg Newton/AFP

Sem apego a motociata e Valdemar. Também havia expectativa de Michelle ser presença constante nas agendas do candidato. Ocorre que o presidente considera motociata seguida de comício o melhor formato para pedir voto. Michelle não gosta de motociatas, as quais classifica como "evento de macho". E prefere não acompanhar o marido.

A presença de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL e que foi preso por envolvimento no mensalão, também é um fator que afasta a primeira-dama de alguns eventos de campanha. Michelle não simpatiza com ele, político influente do centrão que cuida da parte financeira da campanha.

Consignado empacou. O governo federal trabalhou para aprovar o crédito e, em 4 de agosto, sancionou a lei que permite o consignado de R$ 2.056 aos beneficiários do Auxílio Brasil. Ocorre que problemas como a fixação do teto de juros impedem que os empréstimos estejam disponíveis.

Os bancos estavam fazendo pré-cadastros com juros de até 80%, o triplo do cobrado dos servidores públicos. O percentual fez entidades reclamarem de que a população de menor renda ficaria endividada e que sua vulnerabilidade estava sendo explorada. O consignado empacou e foi outra aposta de Bolsonaro que não deu certo.